Por: Fabiano Godinho Faria, coordenador Geral do SINASEFE
Há exatamente meio século, um jovem cantor tentava se explicar para uma plateia apaixonada do porquê sua canção não ficou em primeiro lugar. Dizia ele: “a nossa função é fazer canções, a função de julgar, nesse instante, é do júri que ali está”.
Seu nome era Geraldo Vandré, estava discursando na Grande Final do Festival Internacional da Canção de 1968”. Logo após dizer: “ A vida não se resume a festivais”, entoou sua canção e foi acompanhado palavra a palavra por uma juventude que denunciava abertamente a repressão. A música “Pra não dizer que não falei das flores” não foi campeã, isso é fato, mas quem se lembra da primeira colocada? E quem não conhece o famoso refrão que abalou as estruturas do Ginásio do Maracanãzinho?
Nada mais parecido com isso que o desfile da Paraíso do Tuiuti. Inesperadamente, como uma revolta na senzala, o samba enredo, ecoando pelas arquibancadas, resgata ao centro da cena política o negro escravizado que não suporta mais o cinismo do poder.
Que fique a Beija Flor com seu troféu de campeã! Quem vai se lembrar dele e de seu samba enredo à lá lava-jato e Rede Globo?! Precisamos lembrar, parodiando Vandré, que o samba não se resume ao sambódromo.
Mas, o silêncio idiota dos comentaristas do pensamento hegemônico durante a passagem da Escola de São Cristóvão, a repercussão internacional, o aplauso entusiasmado de toda a população descontente será vosso legado. Quem não se lembrará da ala dos “manifestoches”, da crítica contundente à Reforma Trabalhista e do “vampiro temeroso”? Paraíso do Tuiti conquistou mais do que um título, conquistou a posição de escola do coração de todos os resistentes e lutadores.
50 anos depois do Festival Internacional da Canção. Dois anos depois de um golpe judiciário-parlamentar-midiático, que por sua vez ocorreu pouco mais de 50 anos depois do golpe empresarial-militar que deu início à ditadura militar e contra o qual protestava Vandré. Pouquinho depois dos 50 anos da própria Rede Globo que apoiou e atuou nos dois golpes e que nunca aceitou a vitória moral de Geraldo Vandré.
Obrigado, Paraíso do Tuiti, por nos fazer lembrar de maneira tão alegre e criativa que “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
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