Greve da Fasubra termina com sentimento de vitória
Por Gibran Jordão, Coordenador Geral da Fasubra e membro da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas
Quase quarenta dias em greve, que terminou após o governo oficialmente anunciar que não votaria mais a reforma da Previdência nesse ano. No dia 13 de dezembro, o líder do governo no Senado, de um jeito atrapalhado, anunciou que não havia mais condições de votar a reforma, e no dia seguinte o presidente da Câmara, o deputado federal Rodrigo Maia (DEM), anunciou oficialmente que a reforma da Previdência terá um novo calendário, apontando o dia 19 de fevereiro como indicativo de votação. Antes de anunciar essa nova data, o presidente da Câmara já tinha anunciado três datas para votar a PEC 287: 06, 13 e 19 de dezembro. Tudo em vão. O governo não conseguiu reunir os votos necessários e perdeu essa batalha, mas ainda não perdeu a guerra.
A greve da Fasubra foi parte muito importante das lutas de resistência desse semestre não só contra a reforma da Previdência mas também contra os ataques ao funcionalismo. Pelo menos nesse ano o governo Temer perdeu feio para os trabalhadores do funcionalismo. Mesmo sem um grande levante, Temer e sua equipe não acertaram quase nada do que planejaram de maldades contra os servidores públicos federais.
As medidas provisórias não prosperaram
Temer editou a MP do PDV e a MP 805. A primeira tinha a meta de atingir cinco mil servidores, não conseguiu chegar a 100, além de ter caducado no Congresso, pois os parlamentares não votaram em tempo regimental. A segunda, que trata do adiamento dos reajustes e do aumento da contribuição previdenciária, sofreu derrotas através de ações de sindicatos como o Sintsef-RN, como também recentemente por conta de uma Adin de iniciativa da bancada parlamentar do PSOL o STF suspendeu os efeitos da MP 805.
O projeto de reestruturação das carreiras não saiu do papel
O governo anunciou como parte fundamental do seu pacote contra os servidores federais a reestruturação de todas as carreiras (Também chamada de reforma dos salários), só que até agora esse projeto se encontra em fase de estudos no Ministério do Planejamento podendo ser apreciado pelo congresso somente o ano que vem sem data definida.
A milionária propaganda sobre os privilegiados
O governo gastou milhões em propaganda na TV, rádio e redes sociais para disputar de forma agressiva a opinião pública para a importância de acabar com “privilégios no funcionalismo” através da reforma da Previdência. Além de não ter convencido quase ninguém, a Justiça mandou tirar do ar a propaganda. Nessa semana a notícia que está em toda grande mídia é que a Procuradora Geral da República indicada pelo próprio Temer vai entrar com uma ação no STF pedindo a suspensão definitiva da propaganda do governo contra o funcionalismo.
As lutas de resistência e o papel das centrais sindicais majoritárias
Nesses quarenta dias em greve, a Fasubra e seus sindicatos filiados mobilizaram milhares de técnicos de dezenas de universidades por todo o País. Destaque para operação Caça-deputados pelos aeroportos, com escrachos e manifestações. Foi dado o recado: não aceitaremos ataques contra o funcionalismo e a a reforma da Previdência. Que os ricos paguem pela crise!
A caravana a Brasília nos dias 27 e 28 de novembro também foi marcada por ações de forte pressão sobre o governo Temer. O fechamento do prédio do Ministério do Planejamento obrigou o governo a reunir-se com uma representação da Fasubra, no qual foi anunciado que o projeto de reestruturação das carreiras não está concluído e não iria ser enviado ao Congresso esse ano. Foi muito importante também a manifestação em conjunto com várias entidades do funcionalismo na porta do anexo 2 da Câmara dos Deputados, que contou com forte apoio de parlamentares da oposição e conseguiu arrancar uma audiência com o presidente da Câmara na qual uma representação de entidades deu o seu recado e anunciou uma forte campanha contra todos aqueles que votassem contra o direito de aposentadoria.
Houve também muita repercussão na mídia sobre a manifestação na porta da residência oficial da Presidência da Câmara, na ocasião do jantar oferecido por Rodrigo Maia, que contou com a presença de líderes e do presidente Temer. A Fasubra organizou um sopão com muito barulho popularizando a palavra de ordem: “ Se votar, não volta”. Esse jantar tinha o objetivo de conseguir votos favoráveis a reforma da Previdência, e pelo visto, foi mais um fracasso.
Infelizmente somente a Fasubra conseguiu reunir condições para construir uma greve nacional, em outros momentos por muito menos conseguimos fazer grandes greves unitárias do funcionalismo. Mas tal situação reflete o cenário difícil e complexo da luta de classes expressando que ainda não temos uma forte rebelião de base generalizada. O movimento ainda depende muito da ação unificada dos sindicatos e principalmente das centrais sindicais.
Foram importantes as manifestações do dia 10 de novembro como também as no dia 05 de dezembro quando, mesmo com as centrais desmarcando a greve geral, houve várias manifestações em todo o país contra a reforma da Previdência. O papel que cumpre a direção majoritária das grandes centrais, em especial CUT e Força Sindical, é vacilante e não leva as lutas até as ultimas consequências. Ao mesmo tempo há na base dessas centrais setores importantes que não concordam com a política traidora e burocrática das cúpulas e precisamos solidarizar com os lutadores cutistas e de todas as centrais que querem levar adiante a luta contra Temer. Jogar todas as expectativas dos trabalhadores nas eleições de 2018 é um grave erro.
Vencemos uma batalha e todas as lutadoras e lutadores da base da Fasubra como também de todo funcionalismo e da classe trabalhadora precisam ter orgulho da luta que fizemos nesse semestre. Mas é preciso tem a consciência que vencemos somente uma batalha e que no ano que vem vamos ter que reorganizar a luta contra a ofensiva de Temer e do capital contra a Previdência e os direitos conquistados nos últimos anos. Vai ser preciso continuar perseguindo deputados e senadores nas ruas e aeroportos, mobilizar e organizar manifestações unitárias de todo o funcionalismo e as centrais sindicais não podem abrir mão do seu papel histórico. Caso o governo consiga reunir votos até fevereiro eles irão votar a reforma da Previdência e dessa vez somente uma mobilização de milhões nas ruas parando o País numa greve geral poderá impor uma derrota definitiva aos interesses do capital. A luta dos trabalhadores argentinos em defesa da Previdência precisa nos inspirar, que os banqueiros, grandes empresários e os políticos corruptos paguem pela crise. Eles sim, são os verdadeiros privilegiados.
Editorial: Primeiro desafio do novo ano: Barrar a reforma da Previdência
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