Por Ademar Lourenço, de Brasília, DF
Empresários apostam em um nome que traga segurança a seus negócios e estabilidade para continuar as reformas
Os donos do dinheiro não têm do que reclamar. Os banqueiros vão lucrar horrores com o congelamento de gastos na saúde e na educação. Com a reforma trabalhista, os empresários já podem pagar menos que um salário mínimo . Vai sobrar mais dinheiro para pagar a dívida pública, que nunca passou por uma auditoria. Também vai dar para sonegar mais e receber mais isenções, como está sendo liberado para as petroleiras. Mas querem mais. Por isso se preocupam em eleger um candidato 100% alinhado com seus interesses.
Depois de muito procurar, parece que os banqueiros e grandes empresários encontraram seu candidato principal para disputar a Presidência em 2018. Geraldo Alckmin foi eleito presidente do PSDB, em uma convenção marcada pelo repúdio a Aécio, e é o candidato favorito de 46% dos grandes investidores.
Apesar de o PSDB desembarcar do governo Temer, Alckmin seria eleito para aplicar o mesmo programa. Recentemente, o PSDB publicou um documento que fala em “choque de capitalismo”. Isso quer dizer mais perda de direitos, novas privatizações e menos verbas ainda para a saúde e educação. Se a reforma da Previdência não conseguir ser aprovada no governo Temer, com certeza seria retomada por Alckmin em 2019.
A falência das novidades
A população está em um nível de desencanto e decepção tão grandes com a política, que a burguesia ensaiou candidaturas que representassem a “novidade”, a imagem do anti-político, explorando o fenômeno que elegeu Doria em São Paulo e que também esteve presente na eleição de Trump.
Mas parece que essas candidaturas não decolaram. O apresentador Luciano Huck desistiu e parece concentrar esforços em financiar uma bancada parlamentar com esse perfil anti-político. Já o showman João Dória, depois de percorrer o Brasil divulgando sua candidatura, acabou que se atrapalhou na Prefeitura de São Paulo e viu sua densidade desaparecer.
Foi complicado para a classe dominante escolher um candidato prioritário. A escolha ainda não está 100% sacramentada, ainda temos um ano para as eleições. O próprio governo Temer e o PMDB procuram manter viva a candidatura de Henrique Meirelles, apoiada nos trabalhos prestados pelo ministro na aplicação da política econômica com Temer e com Lula. Outros nomes estão colocados à mesa, como o do empresário João Amoedo e de Marina Silva. Mas Alckmin já está com os dois pés no posto de candidato prioritário do “mercado”.
Por que ele?
Geraldo Alckmin não está tão bem avaliado como governador de São Paulo, como em outros momentos. Hoje tem aprovação de apenas 34%. Pode ter problemas com a operação Lava-Jato e está seriamente envolvido no escândalo de corrupção do metrô paulista Além disso, ele não tem quase nenhum carisma (é comparado a um xuxu) e representa a velha política. Perdeu uma disputa presidencial e não conseguiu tornar-se um nome realmente nacional, apesar de décadas no governo de São Paulo. Por isso tudo, ele ainda tem apenas 6% de intenção de voto nas pesquisas .
Mas não podemos subestimá-lo. Ele já está sendo paparicado pela mídia e com certeza terá uma candidatura com muito dinheiro, boas alianças e apoios nos estados e municípios. Terá muito tempo de TV, será assessorado pelas melhores agências de publicidade e terá uma multidão de prefeitos, deputados e militantes pagos para o apoiar. Apesar de escândalos como o do metrô, Alckmin não tem ainda o nome associado à corrupção. Também tem um perfil extremamente conservador, inclusive tendo sido muitas vezes denunciadas suas relações com a Opus Dei, corrente religiosa católica, o que o coloca em posição privilegiada em meio ao crescimento de posições conservadoras, principalmente entre o eleitorado religioso. Por isso, tende a crescer e pode até conquistar eleitores de Bolsonaro.
Uma alternativa de “centro”, contra a polarização
A burguesia brasileira quer um dos seus na cadeira de presidente. E prefere um candidato que tenha experiência e represente estabilidade. Apesar de o eleitorado exigir nomes que representem uma renovação, a classe dominante olha com desconfiança e quer ter segurança para os seus negócios. Também não se vê representada pelos dois nomes que lideram as pesquisas: Lula e Bolsonaro.
Os 12 anos de governos petistas foram marcados por uma grande estabilidade, apoiada em crescimento econômico de dois dígitos, que permitiu reduzir o desemprego, criar políticas sociais mínimas, ao mesmo tempo em que os grandes empresários lucravam como nunca. A estratégia foi a de “governar para todos”, com o governo apresentando-se como intermediário entre patrão e trabalhador. Lula e o PT cumpriram o seu papel até que a crise econômica mundial exigiu um novo patamar de exploração sobre os trabalhadores, motivando o golpe parlamentar do impeachment. Ou seja, Lula e o PT não metem medo na burguesia como se imagina, mas com certeza os donos do poder não querem Lula e o PT de volta na Presidência. A ponto de nesse momento acelerarem o julgamento da Lava Jato, para impedir a sua candidatura, em um golpe contra o direito dele se candidatar e às liberdades democráticas.
Bolsonaro tem a cara do pior da burguesia brasileira e de sua herança escravocrata: odeia negros, pobres, mulheres e LGBTs, é autoritário, defende uma polícia que mata sem critério e representa o retrocesso. Mas isso não quer dizer que ele seja o preferido da classe dominante. Ele é um “fanfarrão”, que não demonstra equilíbrio nem para um simples debate com o Congresso Nacional. Além disso, a repulsa popular por Bolsonaro poderia desencadear muitas mobilizações, como acontece com o presidente Trump nos Estados Unidos. Por isso o “mercado” tem muitas desconfianças e a maior parte o enxerga como um “outsider”.
Nem Lula nem Jair Bolsonaro trariam a estabilidade necessária para os ricos e as multinacionais. Essa é a razão para a escolha de Alckmin. A mídia já coloca o candidato do PSDB como o candidato de “centro”, que pode colocar “o Brasil nos trilhos” com segurança.
Ainda que também expresse a ideologia da direita brasileira, Alckmin transmite a imagem de gestor, de quem prefere arregaçar as mangas e trabalhar, a discutir. E esse perfil tem potencial de atingir uma parcela da população cansada de crise, de agitação política e que, objetivamente, deseja apenas ver a economia crescer e ter seus problemas resolvidos.
Devemos ter nossa alternativa
O grande capital, os banqueiros e grandes empresários que formam os 1% mais ricos do País, já está definindo sua principal candidatura. Nas ruas, a polarização permanece entre uma candidatura da extrema-direita militarista, com Bolsonaro, e a candidatura petista, que busca se aproximar dos movimentos sociais, mas preserva a estratégia da conciliação de classe.
A esquerda socialista precisa construir sua alternativa. É fundamental a construção de uma candidatura dos trabalhadores e do povo pobre, com um programa que defenda a revogação das reformas, a taxação das grandes fortunas, a auditoria e suspensão do pagamento da dívida, a reforma agrária e urbana e a defesa dos direitos de mulheres, negros e LGBTs. Uma candidatura que seja uma alternativa ao candidato da burguesia (Alckmin), ao neofascismo (Bolsonaro) e que supere a experiência dos governos petistas, expressa hoje com Lula. Essa tarefa é urgente.
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