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EDITORIAL

Caso de homofobia na Petrobras: ‘não permitiremos’

Por: Natália Russo e Charles Vieira*, do Rio de Janeiro, RJ

No último dia 12 de dezembro, quatro trabalhadores da Petrobras, dois assumidamente gays e dois que já foram vítimas de piadinhas homofóbicas no ambiente de trabalho, foram expostos com seus nomes escritos numa “lista” na porta do banheiro da empresa. Embora a Petrobras verse em seu Código de Ética o respeito à diversidade, não há treinamentos qualificados para a força de trabalho, nem cobrança de postura ou dados estatísticos sobre o tema. O Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) já cobraram anteriormente mais iniciativa no tema e agora esse caso demonstrou que a negligência pode levar à difamação, tristeza e adoecimento dos nossos colegas, vítimas de preconceito.

O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBT no mundo. Até o dia 20 de setembro, 277 homicídios foram registrados neste ano, segundo levantamento da Organização Não Governamental GGB (Grupo Gay da Bahia). Trata-se da maior média de assassinatos desde que os dados passaram a ser contabilizados por esta entidade. A sexualidade das pessoas não deveria incomodar, ou afrontar ninguém.

No entanto, incomoda, e a Petrobras não pode se furtar deste debate, já que o respeito à diversidade é preceito do Código de Ética do Sistema Petrobras. Certamente, há muitas pessoas LGBTs na companhia, embora a ausência de dados estatísticos não nos permita provar através de números. O Sindipetro-RJ e a FNP já solicitaram a inclusão dessa estatística no Relatório de Sustentabilidade por que a ausência de dados é sempre coerente com a falta de políticas específicas. O tratamento dado às pessoas LGBTs na companhia certamente compromete a ambiência, a imagem e até mesmo pode levar ao questionamento do selo de Pró-equidade de gênero e raça recebido pela empresa.

O contexto atual é de crescimento do neonazismo e de discursos de ódio que, ao invés de se destinarem aos verdadeiros responsáveis pela “crise das famílias” a partir do aumento do desemprego, miséria, doenças, entre outros fatores, se destinam às pessoas discriminadas, como LGBTs, população negra e mulheres.

Do nosso ponto de vista, o da classe trabalhadora, precisamos unir todos esses setores historicamente oprimidos, vítimas de violência e preconceito para lutar contra o Grande Capital com sua sanha pela isenção trilionária de impostos, pelo nosso petróleo, ativos da nossa empresa e contra as grandes empresas que não pagam suas dívidas com a Previdência Social e que querem cada vez mais retirar nossos direitos, aumentando seus lucros. O preconceito contra colegas de trabalho só nos desune. Precisamos ter nítido que a violência contra um de nós é contra todos nós.

*Natália e Charles são diretores do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ)

Foto: EBC