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OPRESSÕES

Campanha pede liberação de acervo de religiões afro aprisionado na Polícia Civil do Rio

Por: Moara Souza, do Rio de Janeiro, RJ

No dia 11 de dezembro foi realizada uma atividade de lançamento do documentário “Nosso Sagrado”, na cidade do Rio de Janeiro. Com palco lotado, além do lançamento, o evento contou com roda de samba e uma mesa de debate composta por Meninazinha D’Oxum, Mãe Flávia Pinto, pelo deputado estadual Flávio Serafini (PSOL) e pelos diretores do filme Fernando Souza, Gabriel Barbosa e Jorge Santana. Durante todo o evento, ocorreu uma feira de produtos de empreendedoras negras. Esta atividade faz parte de uma campanha denominada “Liberte Nosso Sagrado”, que tem por objetivo a devolução de aproximadamente 200 objetos das religiões de matriz africana, apreendidos sob perseguição durante a Primeira Republica (1889-1930) e a Era Vargas (1930-1945) e que atualmente se encontram no Museu da Polícia Civil do Rio de Janeiro, antiga sede do Departamento da Ordem Política e Social (DOPS).

A campanha visa a reparação de toda criminalização religiosa e racista que, durante esse período, sob forte violência, invadiu terreiros e apreendeu objetos considerados sagrados para a Umbanda e o Candomblé.

Vale ressaltar que as peças durante o período em que ficaram expostas eram intituladas como termo depreciativo de “Coleção Magia Negra”, numa demonstração de desrespeito e descaso a essas religiões. Atualmente, essas peças estão armazenadas em arquivo fechado à visitação. O documentário busca resgatar um pouco dessa história através de relatos de religiosos, estudiosos e militantes, mostrando a importância do acervo como memória sagrada, mas também a necessidade de sua devolução como parte da luta contra o racismo religioso.

Iniciativas como esta foram realizadas no Maranhão e na Bahia, onde as peças foram devolvidas e estão sendo analisadas e catalogadas para futura exposição. No Rio, a campanha ”Liberte Nosso Sagrado”, iniciada este ano e composta por líderes religiosos, parlamentares e outras organizações já realizou coleta de abaixo-assinado com fotos de apoio, reunião de representantes da campanha com o Ministério Público Federal e audiência pública para debate sobre a situação e destino da coleção. Agora, o objetivo é que o documentário, produzido pela Quiprocó filmes, siga o debate na sociedade com exibições e estreias do filme em instituições, terreiros de candomblé e umbanda, centros culturais e salas de cinema.

E o debate segue atual, visto que no estado do Rio de Janeiro os ataques de discriminação por motivos religiosos, contra a umbanda e Candomblé representam 90% das denúncias, segundo o Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos. É o estado com mais registros de casos de discriminação religiosa que qualquer outro do país.

Na atual conjuntura, em que terreiros são invadidos por grupos criminosos, a defesa do sagrado e da tolerância religiosa é uma responsabilidade de todos nós.

É possível acompanhar a agenda de exibições do documentário através da página do Facebook