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Sobre a importância de Zumbi dos Palmares para a nossa luta

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Por André Freire, Colunista do Esquerda Online

http://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/wp-content/uploads/2013/07/carta-do-rei-a-zumbi-PAL1645-2.pdf

Carta do Rei de Portugal a Zumbi dos Palmares:

“Eu El-Rei faço saber a vós Capitão Zumbi dos Palmares que hei por bem perdoar-vos de todos os excessos que haveis praticado assim contra minha Real Fazenda como contra os povos da Capitania de Pernambuco, e que assim o faço por entender que vossa rebeldia teve razão nas maldades praticadas por alguns maus senhores em desobediência às minhas reais ordens. Convido-vos a assistir em qualquer instância que vos convier, com vossa mulher e vossos filhos, e todos os vossos capitães, livres de qualquer cativeiro ou sujeição, como meus fiéis e leais súditos, sob minha real proteção”.

Em 20 de novembro celebramos o Dia da Consciência Negra. Esta data foi escolhida porque marca o dia que tropas de “paulistas”, leais a Coroa portuguesa, conseguiram assassinar o principal líder político e militar do Quilombo dos Palmares – Zumbi.

A importância do Quilombo dos Palmares e a relevância de Zumbi ainda merecem um maior reconhecimento em nossa História.

Uma pequena, mas relevante, demonstração da magnitude deste significado está representada nessa Carta, enviada pelo próprio Rei de Portugal, D. Pedro II – o Pacificador (não é o D. Pedro II Imperador do Brasil) ao próprio Zumbi dos Palmares. Este documento está disponível na Biblioteca da Ajuda.

Esta Carta, datada em fevereiro de 1685, foi trazida a colônia portuguesa na América por Souto Maior, que acabava de ser nomeado Governador de Pernambuco. Ela expressa como o próprio Rei de Portugal se referia a Zumbi. O tratamento é mais apropriado a um Chefe de Estado, de uma sociedade alternativa, que ocupou uma vasta região do nordeste da Colônia, durante o século XVII, formada por milhares de escravizados que se rebelaram contra sua condição.

Não se pode comprovar que esta Carta tenha realmente sido entregue a Zumbi. Mas, a realidade demonstrou que ele não aceitou essa proposta, que na prática representava a rendição do Quilombo dos Palmares.

O Quilombo dos Palmares foi de fato uma sociedade alternativa, um Estado Negro, que durou praticamente todo o século XVII. Comprovadamente, em 1602 já existiram relatos da presença de negros aquilombados nas Serras que se localizavam entre os atuais Estados de Alagoas e Pernambuco.

E sua duração é admitida oficialmente até pelo menos 1694, quando um grande exército colonial, que pode ter chegado a 11 mil homens, tomou a sede de Macaco, principal Mocambo e Capital do Quilombo dos Palmares. Na época, e por muitos anos, esse foi o maior exército utilizado em um conflito militar interno, só superado mais de um século depois nas batalhas pela Independência na Bahia.

“Angola Janga”, ou Angola Pequena, era como os negros escravizados chamavam o Quilombo dos Palmares. Um Estado Negro formado por 11 Mocambos diferentes, ocupando uma região de aproximadamente 27 mil quilômetros quadrados, equivalente atualmente ao território do Haiti.

Durante a crise provocada pela ocupação holandesa em Pernambuco (1630-54), o Quilombo dos Palmares pode ter chegado a 20 mil habitantes, a maioria formada por escravizados negros fugidos dos Engenhos de Cana-de-açúcar da região, mas havia também Indígenas, Mulatos e até Brancos pobres em Palmares, ou seja, uma sociedade formada pelos setores rebelados contra a sociedade escravagista colonial do século XVII.

Palmares foi, na verdade, um Enclave Africano, cravado no Nordeste do futuro Estado do Brasil, construído por negros escravizados, que ao invés de reconhecimento ou reparação sofreu uma “guerra total” desferida pela Coroa portuguesa e as autoridades colônias que se estabeleceram na Colônia.

Nunca esqueceremos! Viva Zumbi dos Palmares! Viva o Quilombo dos Palmares!

Referências:

. CARNEIRO, Edison, Quilombo dos Palmares, 3ª. Edição, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

. FREITAS, Décio, Palmares A Guerra dos Escravos, 2ª. Edição, Rio de Janeiro: Graal, 1978.

. MOURA, Clóvis, Quilombos: Resistência ao Escravismo, 3ª. Edição, São Paulo: Editora Ática, 1993.