Editorial 13 de novembro
O ano de 2017 está próximo de acabar e foi marcado por uma conjuntura de ataques à classe trabalhadora, e em especial aos setores oprimidos, em um nível que há muito não era observado. No aspecto da luta contra o racismo, o mundo observou, no meio do ano, o enfrentamento físico dos supremacistas brancos, em Charlotsville (EUA), com militantes dos movimentos sociais, principalmente com os do movimento Black Lives Matter.
No Brasil, por sua vez, estão sendo implementadas reformas que pretendem retirar os direitos anteriormente conquistados pela classe trabalhadora: Reforma Trabalhista, Reforma da Previdência e Lei Geral das Terceirizações.
Além disso, algumas tentativas de alterações legislativas podem impactar a essência da vida da população negra, como a possibilidade de alteração do artigo do Código Penal que prevê o crime de condição análoga à de escravo, e a previsão de julgamento de membros das Forças Armadas que praticarem homicídios pela Justiça Militar, não pela Justiça Comum e a recente votação da PEC 181, que busca criminalizar o aborto inclusive nos casos de violência sexual, risco de morte da mulher ou de feto anencéfalo.
Não é novidade que o nosso país carrega uma história de mais de 300 anos de escravidão e pouco menos de 130 anos de trabalho livre. Desde a abolição, a vida dos negros e negras sempre foi mais difícil do que a dos brancos, mas com as recentes mudanças, essa realidade tem tudo para piorar ainda mais.
A população brasileira conta, desde o último CENSO do IBGE, com 53,6% de negros. Só no estado de São Paulo, mais de 30% da população é negra. Enquanto o salário médio dos brancos é de R$ 1.097,00, o dos negros é R$ 508,90; a taxa de escolarização entre a população adulta branca é de 62% com ensino fundamental completo, enquanto dos negros é 47%. Nas penitenciárias, mais de 60% dos presos são negros. E o que mais choca: um negro tem 2,6 mais chances de morrer do que um branco.
As mulheres negras, que sempre foram a base da pirâmide social brasileira juntamente com as mulheres transexuais, já são 46,7% dos postos de trabalho informal nas regiões metropolitanas, frente à crise econômica. No que tange à violência contra a mulher, enquanto na última década o número de assassinatos de mulheres brancas diminuiu 9,3%, entre as mulheres negras esse número aumentou 54%.
Somado a esses ataques, não se pode desconsiderar o avanço que as ideias conservadoras e da extrema-direita têm adquirido na nossa sociedade. Bolsonaro avança nas pesquisas eleitorais e carrega com ele ideias de ódio às mulheres, negros e negras e LGBTs.
É importante dizer que o combate às ideias conservadoras e às reformas para os oprimidos é uma questão de sobrevivência e, justamente por isso, nós devemos ser os seus primeiros e mais ferrenhos combatentes.
Em meio a tantos ataques, também percebemos o desenvolvimento de importantes lutas do movimento negro que trouxeram resultados, como a luta pela liberdade de Rafael Braga, a que conquistou cotas na USP e o desenvolvimento de uma grande quantidade de saraus e slams que demonstram a resistência do povo negro em todo o país.
Justamente por isso, é fundamental a construção de um mês da consciência negra que unifique as organizações políticas no combate ao racismo, ao genocídio e ao avanço da direita. É muito importante, nesse momento, construir um espaço unificado de luta da classe trabalhadora negra contra os ataques ao nosso povo.
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