William Waack: quando o racismo se manifesta sem véus
Publicado em: 9 de novembro de 2017
Por: Richard Araújo, de São Paulo, SP
*Diretor Adjunto de Assuntos Educacionais da APEOESP
Nesta quarta-feira (8), as redes sociais foram inundadas pelo vídeo do jornalista e apresentador da Rede Globo de Televisão, William Waack, que há um ano nos EUA, no intervalo de uma apresentação, diante do fonfonar de algum motorista nas mediações de onde o programa estava sendo gravado, sem saber que estava sob os olhares da câmera, disse: “Você é um, não vou nem falar, eu sei quem é…”, depois, virando-se para o convidado diz: “É preto”. Não contente, afirma mais uma vez: “É coisa de preto” e ri.
Diante da viralização do vídeo e de uma chuva de manifestações de repúdio perante mais um caso de racismo, a Rede Globo foi obrigada a se manifestar em nota pública na qual se posiciona “visceralmente contra o racismo em todas as suas formas e manifestações” e através da qual comunica que “está afastando o apresentador William Waack de suas funções em decorrência do vídeo que passou hoje a circular na internet, até que a situação esteja esclarecida”.
Ainda de acordo com a nota da emissora, “Waack afirma não se lembrar do que disse, já que o áudio não tem clareza, mas pede sinceras desculpas àqueles que se sentiram ultrajados pela situação” e que “A Globo, a partir de amanhã, iniciará conversas com ele para decidir como se desenrolarão os próximos passos”.
Cabe ressaltar que, apesar do que afirmam a nota da emissora e o apresentador, não há dúvidas do teor racista da fala de William Waack, que, como acontece e, geral nestes casos, parece ainda achar engraçado destilar este tipo de tratamento à população negra, como se o racismo tivesse algo de engraçado.
Uma fala que expressa uma ideologia que há mais de 450 anos vitima a população negra, que justificou a escravidão de nosso povo por séculos, que fundamentou as teses eugênicas que até hoje fazem parte do cotidiano do povo preto, vítima de toda a forma de violência, seja econômica, educacional, social, ou policial. Fundamenta a política de genocídio do povo negro, como fica evidente a partir dos dados do Mapa da Violência, que apontam um crescimento de 46,9% da vitimização da população negra entre os anos de 2003 e 2014, todas elas mascaradas sob o véu do discurso da democracia racial.
É inadmissível este tipo de manifestação em qualquer circunstância, particularmente num país onde a população negra é maioria, como o Brasil. Por isso, o pedido de desculpas é insuficiente. William Waack deve ser demitido de forma definitiva pela Rede Globo, e não apenas temporariamente afastado.
Aliás, esta “punição” por si só ainda seria insuficiente: o apresentador deve, inclusive, ser penalmente responsabilizado pelo crime de racismo. Chega de tolerar esse tipo de prática.
Racistas, não passarão!
Foto: Reprodução TV Globo
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