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BRASIL

Opinião | Memorial a Prestes, glória aos que lutaram contra a opressão

Por Mário Maestri, Professor da Universidade de Passo Fundo. Artigo originalmente publicado na Zero Hora.

Tempos tristes em que temos que defender a homenagem comunitária a quem dedicou sua longa vida aos oprimidos.

Em torno do Memorial Luiz Carlos Prestes se discute não o homem, mas o direito democrático da comunidade porto-alegrense de celebrar os que lutaram contra a opressão que desventra impudicamente nossa sociedade.

Compreende-se que haja os que são contra. Em mundo de explorados e exploradores, as contradições de classe, gênero e cor perpassam toda celebração. A memória é espaço de disputa, sempre.

Colombo devassou mares, descobriu continente, iniciou o genocídio americano. Pedro I saudou a independência e manteve a escravidão. Oficiais proclamaram a república sem verter sangue e ceifaram vidas aos borbotões em Belo Monte. Todos são celebrados.

Para ficarmos no Sul, o nosso Manuel Padeiro; Alexandre Luís de Queirós e Vasconcelos, o Quebra; João Cândido, o Almirante Negro; o sargento Manoel Raimundo Soares, o “mãos amarradas”, são nomes que apenas se destacam entre os milhares de lutadoras e lutadores anônimos sulinos. Merecem celebração.

***

Nos anos 1980, entrevistei Luiz Carlos Prestes, no Rio de Janeiro. Já ia pra lá dos oitenta. Ao abrir a porta, me surpreendi com seu pequeno tamanho. Por que acreditamos que a altura dos homens deve corresponder ao seus destaques históricos?

Falou-me empolgado da Coluna Prestes e de sua vida na URSS como engenheiro, ensinando camponesas a levantar paredes. Lembrou os anos duros nas masmorras varguistas. Perguntei sobre o esforço dos prestistas para entrar no PT, vetado por Lula. Não errava datas e nomes! Vacilou apenas quando perguntei sobre a perseguição do PCB aos raros militantes trotskistas, em 1930-50.

No Memorial Luiz Carlos Prestes homenageiam-se o Velho e milhares de comunistas, marxistas, socialistas, sindicalistas, democratas, cidadãos de bem, de todos os gêneros, que lutaram, através do Brasil, para que o homem seja o amigo do homem.

Teve Prestes pecados e tropeços, como todos nós?

Italo Calvino dedicou às novas gerações a canção Oltre el ponte sobre o assalto de jovens comunistas [partigiani] quase desarmados, no qual participou, a reduto nazi-fascista, além da ponte.

Nós não éramos santos.
O heroísmo não é sobre-humano.
Vamos, corre, se abaixa, avança,
Nenhum passo darás em vão.
Víamos ao alcance da mão,
Atrás das árvores, dos arbustos, dos taquarais,
Um mundo mais humano,
Mais justo, mais livre e feliz.