Hospital Sorocabana: fruto da luta dos trabalhadores e moradores da Lapa e região

Por: Pompeia Sem Medo

O Hospital Central Sorocabana, hoje fechado, foi fundado em janeiro de 1955 por uma associação de ferroviários. Eles trabalhavam na antiga companhia Estrada de Ferro Sorocabana (EFS), inaugurada em 1875 e que ligava São Paulo a Sorocaba.

O estabelecimento das linhas da EFS e da São Paulo Railway (nomeada Estrada de Ferro Santos-Jundiaí em 1938) na região da Lapa é um fato de grande importância na zona oeste paulistana. A partir do transporte e comunicação viabilizados pelas ferrovias, diversos investimentos, sobretudo vinculados à indústria e ao desenvolvimento imobiliário, passaram a ser realizados em seu entorno.

Com a oferta de empregos e infraestrutura, a população da região aumentou. No lado norte da ferrovia, nas áreas de várzea do Rio Tietê foram criadas vilas operárias e fábricas, enquanto no lado sul novos bairros foram levantados, com maior perfil comercial, misto ou exclusivamente residencial, nos quais vivia uma população de maior renda.

Os operários em pouco tempo se tornaram uma expressiva classe social da região da Lapa. Com frequência, mobilizavam-se por melhorias nas condições de vida e de trabalho, pressionando governantes e proprietários de fábricas, como nas históricas greves do início do século XX.

Essa mobilização social fomentou a criação de organizações civis, como sindicatos, associações de trabalhadores ou de moradores e entidades de benemerência.

A fundação do Hospital Central Sorocabana é resultado desse processo. Na metade do século XX, diante da necessidade de melhores condições de saúde para os trabalhadores e moradores da região, os ferroviários negociaram um acordo com o Governo Estado de São Paulo, que cedeu um terreno público, na esquina da Rua Faustolo com a Rua Catão para a construção do Hospital, sob a condição de devolução do imóvel em caso de fechamento.

Ao longo do meio século seguinte, o Sorocabana passou a atender setores mais amplos da população, pois se vinculou já na década de 1960 ao antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps).

A criação do SUS com a Constituição Federal de 1988 e a inclusão da entidade que administrava o hospital – a Associação Beneficente dos Hospitais Sorocabana (ABHS) – no cadastro do governo federal consolidaram o hospital da Rua Faustolo como referência de atendimento e tratamento público de saúde na região.

Na virada do século XXI, o Sorocabana atendia a população da Lapa e de vários bairros vizinhos, como a Vila Romana, Pompeia, Alto da Lapa, Lapa de Baixo, Vila Anastácio, São Domingos, Jaguara, Pirituba, dentre outros, e mesmo de outras cidades próximas – especialmente por causa da excelente acessibilidade do local, com inúmeras linhas de ônibus e duas de trem para outras regiões da Capital. Em 2009, por exemplo, a unidade tinha 217 leitos disponíveis e fazia cerca de 500 partos ao mês.

No entanto, em 2010, após longos problemas administrativos e financeiros da ABHS, incluindo denúncias de desvio de recursos pelos seus gestores, o hospital fechou as portas.

O fechamento do Sorocabana não apenas piorou o atendimento à saúde na região, mas causou também o desemprego de diversos trabalhadores do setor e de comerciantes da vizinhança, uma vez que o hospital fomentava toda uma cadeia de atividades complementares a seus serviços.

Posteriormente, a administração estadual retomou o prédio na Justiça e o cedeu à Prefeitura. Desde então, poucas atividades terapêuticas são oferecidas; ainda que uma AMA tenha sido instalada no nível térreo do edifício em 2010, seu atendimento apenas de urgências é bastante limitado se comparado ao que o Sorocabana oferecia. Houve assim o progressivo sucateamento e abandono de uma ótima estrutura.

Em 2017, um fato despertou a preocupação da comunidade da região. Por meio da Lei 16.703/2017, sancionada pelo Prefeito João Doria (PSDB), que permite a venda e privatização de diversos bens públicos, abriu-se o risco do Hospital Sorocabana, com toda sua estrutura disponível para atender à população, ser vendido para o mercado.

Isso impedirá definitivamente sua reabertura como um equipamento público de saúde que volte a ser um centro de referência para toda a região.

Vale lembrar que hoje em dia toda a subprefeitura da Lapa, *com mais de 250 mil habitantes, não dispõe de qualquer hospital público. Com isso, a população tem que se deslocar quilômetros a outros bairros em busca de atendimento e tratamento de saúde, um direito constitucional dos cidadãos.

Diante deste grave risco, uma nova mobilização de moradores e trabalhadores da Lapa e região tem se fortalecido, retomando o espírito de luta que a região teve na história de São Paulo.

Por isso, convidamos todas e todos a participar dessa pressão pela reabertura do Hospital Sorocabana, público e gratuito para a população paulistana nesta 5ª-feira, dia 19 de outubro, a partir das 17h, em ato na esquina da Rua Faustolo com Rua Catão. Venha conosco.

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