Por: Nericilda, de Fortaleza, CE
10 de outubro na Bolívia. De longe, arrisco uma opinião sobre um país que vivi durante cinco anos e me apaixonei.
O 10 de outubro foi marcado por gigantescas mobilizações nas nove capitais do país, convocadas e captalizadas pela direita.
A exigência é para que Evo Morales não se postule ao quarto mandato, ou seja, que seja aplicado o resultado do referendo do 21F que disse NO a mais uma reeleição de Evo.
A direita boliviana evidentemente surfa na onda conservadora para se reerguer. A esquerda, por outro lado, imersa na cooptação governista que caracterizou os chamados “governos progressistas”, não tem uma liderança/partido/organização à altura de fazer frente à direita. Aliás, aí reside o grande desserviço desses governos de colaboração de classes com a burguesia ou setores dela. E é por isso que a política leninista-trotskista de nenhum apoio a estes governos foi e segue sendo corretíssima.
Apresentar uma saída de esquerda, uma frente que unifique toda a esquerda boliviana, com um programa firme de combate à direita, antiimperialista, de nacionalização do gás e das minas sob controle dos trabalhadores e do povo, é fundamental.
Mas isso só será possível se a Central Obrera Boliviana (COB) e todos os movimentos sociais que ainda estão baixo as asas do MAS e do governo, rompam com eles e encabecem um pólo de esquerda alternativo à direita e ao governismo. Do contrário, a polarização direita versus governo levará o país a uma “quase Venezuela”, guardada as devidas proporções.
Os trabalhadores e a esquerda boliviana podem pagar um alto preço por não terem levado adiante a política de construção de um partido de esquerda independente, o PT, que chegou a ser fundado em 2013. O PT foi um projeto encabeçado pelos combativos mineiros de Huanuni, histórico distrito mineiro e palco de muitos processos revolucionários, mas que foi desarticulado por forte atuação do próprio Evo. Na época, fomos parte da construção desse movimento que terminou derrotado pela capitulação da direção dos mineiros, em particular da COB e da Federação dos Mineiros, ao governo.
Não avançou uma alternativa de esquerda e agora, mais uma vez, desde o fatídico ano de 2008, quando a direita se levantou pela autonomia das regiões em que governava, a direita levanta a cabeça.
Algumas semelhanças e várias diferenças com a atual situação política venezuelana e brasileira, no entanto, o mesmo desafio, o de construir uma alternativa de esquerda à direita e à esquerda que foi governo e que ainda é, no caso boliviano.
Foto: Reuters
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