Foto: Concentração no centro de Barcelona em resposta às rusgas e detenções nos organismos do governo catalão
Por: Editoria Internacional
A Catalunha tem uma grande tradição de luta pelos seus direitos de autodeterminação. Vem de longe e sempre vem à memória o que significou a luta dos trabalhadores e do povo da Catalunha durante a Guerra Civil na longínqua década de 1930. Com todas as suas diferenças, nossas atenções se dirigem para lá, em particular para Barcelona. Sabe-se que as aspirações nacionais catalãs expressam uma indignação social pela interminável austeridade imposta aos trabalhadores e ao povo da Catalunha e do Estado espanhol. O governo de direita do Partido Popular, depois de suas ameaças lançou uma ofensiva repressiva. As promessas de negociação feitas pela liderança da Generalitat (governo autônomo da Catalunha) se mostraram falsas. A decisão se dará nas ruas de Barcelona, de toda a Catalunha e da solidariedade em toda o Estado.
Reproduzimos uma primeira nota do site Esquerda Net no dia de ontem:
Numa operação contra o referendo, a Guardia Civil prendeu o nº 2 das finanças catalãs e mais de uma dezena de altos funcionários. Milhares de pessoas enchem o centro de Barcelona. Governo catalão denuncia “suspensão do estado de direito” por parte do governo do PP.
A operação policial desta quarta-feira foi um novo passo na escalada de tensão que o governo espanhol tem promovido para tentar impedir o referendo à independência aprovado pelo parlamento e o governo da Catalunha.
Pelo menos 16 pessoas foram detidas, entre elas o secretário-geral das Finanças, na prática o nº 2 daquele Ministério, e vários altos funcionários de gabinetes e institutos dependentes do governo catalão. São acusados de desvio de fundos para a realização do referendo marcado para 1 de outubro.
A polícia entrou na sede da Vicepresidência da Generalitat – Oriol Junqueras, o vice-presidente do governo e líder da Esquerda Republicana, ocupa a pasta das Finanças – e de outros organismos do governo, como o Centro de Telecomunicações e Tecnologias de Informação. Por ordem da Procuradoria, a polícia espanhola já encerrou 32 sites na internet com informação sobre a realização do referendo à independência. Junqueras reagiu à operação policial, dizendo que “estão a atacar as instituições deste país e portanto estão a atacar os cidadãos. Não iremos permiti-lo”.
O governo catalão marcou uma reunião de emergência para discutir a situação. De imediato, milhares de pessoas concentraram-se nas Ramblas em protesto contra a operação policial e reclamando o direito a decidir.
Carles Puigdemont leu uma declaração a denunciar que o seu governo foi objeto “de uma agressão coordenada pelo Ministério do Interior para impedir os catalães de se exprimirem em liberdade e impedir o funcionamento de um governo que tem legitimidade democrática”
“Esta agressão é ilegal e viola a Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia”, acusou Puigdemont, acrescentando que “o Estado espanhol suspendeu de facto o autogoverno da Catalunha”.
“As liberdades estão a ser suspensas e reprimidas”, prosseguiu o líder do governo catalão, enunciando os casos de intimidação aos autarcas e aos meios de comunicação, a violação do segredo das comunicações postais ou encerramento de páginas web. Ações do governo do PP que geram “uma situação inaceitável em democracia” que corresponde a uma “suspensão do estado de direito”.
“Condenamos a atitude totalitária e antidemocrática do Estado espanhol e de um governo intolerante”, a quem Puigdemont aponta que “passou a linha vermelha que o separava de regimes autoritários e repressivos”. O líder da Generalitat reafirmou o apoio aos funcionários detidos e apelou a uma “resposta democrática e pacífica”, para a qual irá convocar as entidades representativas dos vários setores da sociedade catalã.
Por fim, o chefe do governo catalão diz que as agressões do governo do PP só vieram reforçar a convocatória para o referendo de 1 de outubro, onde espera “uma resposta massiva e cívica em defesa da democracia e da Catalunha”.
Nas Cortes espanholas, os deputados da ERC e do PdeCAT, partido do presidente da Generalitat Carles Puigdemont, abandonaram o plenário e deixaram em aberto a hipótese de não regressar mais ao parlamento espanhol.
Também o porta voz da bancada do Podemos catalão (En Comú Podem), Xavier Domenech, anunciou que irá reunir com os deputados para decidirem se também irão abandonar hoje a sessão para se juntarem aos protestos em Barcelona.
Em conferência de imprensa improvisada junto ao parlamento, a deputada da CUP Anna Gabriel condenou esta “ameaça de golpe de Estado” promovida pelo governo espanhol. “Se não se votar a 1 de outubro, isso quer dizer que ganhou o golpe de Estado”, afirmou.
Outras vozes de condenação surgiram da central sindical UGT, cujo líder Camil Ros afirmou estar certo de que “se convocássemos uma greve geral não tenham dúvidas que seria declarada ilegal”.
Entretanto, o Ministério do Interior espanhol suspendeu as folgas e férias dos polícias entre 20 de setembro e 5 de outubro “para garantir o cumprimento da decisão do Tribunal Constitucional” de proibir o referendo catalão. Esta quarta-feira foram apreendidos cerca de dez milhões de boletins de voto numa gráfica.
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