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EDITORIAL

As LGBTs precisam contra-atacar os fundamentalistas

Editorial 20 de setembro,

Atos contra a LGTBfobia estão se espalhando por todo o país. O descontentamento, em particular das LGBTs, não poderia ser mais óbvio: estão cansadas de tantos ataques. É hora do contra-ataque.

Isso tudo não é à toa. As últimas semanas têm sido difíceis para as LGBTs. Os protestos contra o Queermuseu, patrocinado pelo Santander, levaram ao cancelamento da exposição por supostamente conter pedofilia e zoofilia.

Mas o fato é que não existia pedofilia, apenas imagens de meninos usando roupas femininas sendo descritos como “criança viada travesti da lambada” e “criança viada deusa das águas”. Nada mais inocente, apenas um retrato da diversidade das roupas e do comportamento das crianças. Também não havia incentivo à zoofilia, apenas um quadro denunciando as maldades que eram feitas no Brasil antigamente.

Uma peça teatral de temática religiosa, onde Jesus era encenado por uma mulher trans, foi cancelada por decisão judicial no Sesc Jundiaí. Essa decisão é um atentado ao direito das pessoas trans à religiosidade e à cultura. Não há nada de ofensivo no fato de uma pessoa trans encenar Jesus. É incomum, mas não há insulto algum.

Na mesma cidade, uma peça teatral infantil encenando um romance entre duas mulheres foi alvo de um abaixo-assinado pedindo seu cancelamento. Uma peça feita para crianças, tão inocente quanto qualquer história infantil de amor – e há muitas! Se as crianças assistem a histórias de amor envolvendo casais heterossexuais, por que não poderiam ver um casal de mulheres?

Mas a gota d’água foi a decisão do juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho, que possibilita a tentativa de “reversão sexual” (sic) por psicólogos. Não é possível que homossexualidade, que não é doença, seja tratada como se fosse. Qualquer médico é proibido de oferecer um remédio para uma doença que não existe. Já foi provado em centenas de estudos que a homossexualidade é apenas uma característica humana que não causa dano algum. Já o preconceito, pelo contrário, causa muitos danos.

O crescimento da extrema-direita
Todos esses ataques expressam uma ofensiva dos fundamentalistas e da extrema-direita contra as LGBTs.

As pesquisas estimam que, apesar dos seus discursos de ódio, Bolsonaro tem cerca de 20% das intenções de voto para presidente para as eleições de 2018. Vários vídeos mostram a LGBTfobia de Bolsonaro, incentivando a agressão familiar: “O filho começa a ficar assim, meio gayzinho, leva um couro e muda o comportamento dele”. Também mostra preconceito por pessoas adotadas: “90% dos adotados vão ser homossexuais e vão ser garotos de programa deste casal”, referindo-se aos filhos adotados de casais homossexuais.

É preciso combater este deputado e mostrar para as pessoas que uma figura que carrega tanto ódio pelas LGBTs, mulheres, pessoas negras e indígenas não pode ser membro do Congresso Nacional, quanto mais ser presidente.

Ataques aos direitos trabalhistas e direitos sociais
Não bastassem os fundamentalistas, existem ainda diversas ofensivas de Temer e do Congresso Nacional: as reformas Trabalhista e da Previdência, a redução da maioridade penal e as privatizações do governo Temer.

Os ataques feitos pelos conservadores às pessoas LGBTs, assim como às mulheres, pessoas negras e indígenas têm dois objetivos.

Primeiro, criar um bode expiatório para os problemas sociais. Uma boa forma de ganhar a amizade de alguém é construir um “inimigo” em comum. As LGBTs não são inimigas das demais pessoas. Entretanto, através do preconceito e da propaganda, é possível fazer muitas pessoas acreditarem que as pessoas LGBTs são, sim, inimigas que precisam ser combatidas. Por isso, foi criada a associação entre homossexualidade, pedofilia e zoofilia, por exemplo. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, isso é só uma forma de incentivar o preconceito.

Segundo, quanto mais um determinado setor da sociedade for oprimido, menores serão os salários que esse setor vai receber. É por isso que há muitas LGBTs, mulheres e pessoas negras nos postos de trabalho terceirizados, com baixos salários e sem direitos garantidos.

As LGBTs do Brasil têm muita força
O movimento LGBT organizado, em aliança com trabalhadores e trabalhadoras, já arrancou muitas conquistas pelo mundo. A homossexualidade na Europa e na América deixou de ser considerada um crime a partir da década de 1970, uma conquista de grandes Paradas do Orgulho LGBT realizadas em diversos países. A mesma luta também fez com que, mais tarde, em 1990, a homossexualidade deixasse de ser considerada uma doença pela OMS.

Assim, se as LGBTs se levantarem pelo Brasil afora, serão capazes de barrar essa onda de ataques. É preciso lutar e é possível vencer!

Foto: Paulo Pinto / Fotos Públicas