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MOVIMENTO

A Importância do MAIS para o PSOL

Por João Machado – da Comuna, corrente interna do PSOL; militante do PSOL desde sua fundação

Nesta sexta-feira, 4 de agosto, o MAIS anunciou sua entrada no PSOL. Há meses que esta notícia era esperada, mas nem por isso ela deixa de ter uma importância fundamental. Foi saudada unanimemente no PSOL.

Podemos dizer que ela permite um salto de qualidade no difícil processo de reorganização da esquerda socialista brasileira. Esta avaliação pode causar estranheza. Afinal, nem o PSOL e nem o MAIS são tão expressivos assim. É verdade, mas é a dimensão da própria esquerda socialista brasileira que não é muito grande, se consideramos – como é razoável – que fazem parte dela as organizações que se empenham em fazer avançar a luta pelo socialismo no Brasil (o que exclui o PT e seus aliados, que se têm colocado em um campo distinto, o da colaboração de classes com a burguesia e da subordinação à ordem). Falamos de um salto de qualidade relativo.

O PSOL tem bem mais de 100.000 filiados. Entretanto, a maior parte destas filiações é mais formal do que real. Estimativas razoavelmente otimistas indicam que o Congresso do PSOL que se realizará no início de dezembro provavelmente terá participação de um pouco menos de 30.000 filiados do nas plenárias municipais. Ir a uma plenária é uma participação muito limitada, e para uma boa parte destes filiados será a única participação, nos dois anos que têm separado um congresso do outro, em alguma atividade do partido. Além disso, na sua maioria são estes mesmos filiados que têm alguma militância “para fora” do partido, em movimentos sociais ou mesmo nas campanhas eleitorais. A entrada das muitas centenas de militantes do MAIS no PSOL, assim, representará um crescimento significativo da militância do partido.

Sua importância, entretanto, não se restringe a este aspecto quantitativo. Vale assinalar um aspecto que podemos chamar de simbólico. Ao longo do ano de 2003 ficou evidente que o governo Lula aceitara as imposições do “mercado” e abandonara qualquer perspectiva de transformação social relevante, e também o fato de que a maioria do PT se curvaria a isto. Por isso, foi necessário começar a discutir a necessidade de construção de um novo partido. Participaram deste debate militantes do PT e do PSTU, além de militantes que não estavam em nenhum dos dois. Mas só chegaram a participar da fundação do PSOL uma pequena parte das e dos militantes do PSTU. Não foi possível unificar no novo partido os setores da esquerda do PT que se dispuseram a isto e o conjunto do PSTU – naquele momento, sobretudo por divergências de concepção partidária. A maioria do PSTU não aceitava construir um partido que tivesse correntes internas distintas organizadas. Assim, a entrada agora do MAIS – organização que representa uma parte substancial da tradição que formou o PSTU – corrige, ainda que em parte, esta perda de origem na formação do PSOL.

Outro aspecto decisivo é que as e os militantes do MAIS, por sua formação política e pela sua tradição, representarão um enriquecimento muito importante da capacidade de debate programático e de formulação do PSOL. Outro ainda é que grande parte das e dos militantes do MAIS têm implantação sindical e em movimentos sociais e, neste ponto, poderão contribuir para o PSOL superar algumas de suas debilidades mais relevantes. Na sua trajetória desde 2004, o PSOL pôde se constituir como uma referência eleitoral significativa em termos da esquerda socialista (infelizmente, de conjunto, ainda muito minoritária, a não ser no estado do Rio de Janeiro). Mas conseguiu uma presença muito menor na militância social (com exceção dos movimentos de juventude), em parte pela fragmentação das posições no interior do partido. Constituir-se como um partido enraizado nas lutas sociais e que contribua para organizá-las continua a ser um dos principais desafios do PSOL, e a militância do MAIS ajudará muito a enfrentá-lo.

Há questões em que, sem dúvida, as e os militantes do MAIS têm muito a aprender com a militância do PSOL ou, mais exatamente, com parte dela; talvez a mais decisiva seja a da importância da incorporação de uma perspectiva ecossocialista à concepção revolucionária de socialismo. Neste ponto, as formulações do MAIS ainda são limitadas – mas isto acontece também, embora em menor medida, com o próprio PSOL.

O que temos é um quadro em que o MAIS ingressa em um partido que tem imensos desafios, em que pode participar com peso de seu enfrentamento. É neste sentido que esta entrada representa um salto de qualidade.

Não tem importância menor o fato de o MAIS ter anunciado que entra no PSOL para somar, para construir sínteses e convergências, para “atuar ombro a ombro com todas e todos do PSOL, para que, em cada embate da luta de classes, possamos elaborar conjuntamente a melhor política para a libertação dos trabalhadores e trabalhadoras, negras e negros, LGBTs, juventude, indígenas, sem-terras, sem-tetos e quilombolas”. Esta perspectiva não auto-proclamatória e pluralista (num campo de independência de classe em relação à burguesia) é uma das chaves para que possamos avançar no processo de reorganização da esquerda socialista. Na mesma linha, é muito importante que o MAIS venha defendendo a importância da unidade da esquerda para além do PSOL, combinando a luta para impulsionar a mais ampla frente única em defesa dos direitos das trabalhadoras, trabalhadores e do povo e contra os ataques da direita neoliberal, ou seja, a resistência unificada dos explorados e oprimidos, com a busca da construção de uma alternativa política unitária da esquerda socialista, com partidos como o PCB e o PSTU, com organizações e partidos não registrados no TSE, com movimentos sociais combativos.

Finalmente, é importante destacar que o MAIS entra no PSOL num momento chave da história do povo brasileiro e do nosso partido. Do povo brasileiro, porque estamos sofrendo o ataque mais duro contra direitos históricos conquistados com sacrifício; lutamos para resistir contra um retrocesso brutal e para construir uma alternativa, e mais unidade é fundamental. Do PSOL, porque dentre os retrocessos que nos ameaçam está uma suposta “reforma política” que tornaria mais difícil a existência de um partido como o PSOL, por exemplo com a imposição de uma “cláusula de barreira”. Diante desta ameaça, o PSOL precisa se fortalecer – e se fortalecer, justamente, reforçando o projeto de um partido socialista, isto é, com a entrada de lutadoras e lutadores como a militância do MAIS.