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BRASIL

Quem é Wladimir Costa?

Por Luiz Henrique, de Belém, PA

Wladimir Costa, atual deputado federal, eleito pelo Solidariedade (SD) no Estado do Pará, ficou conhecido nacionalmente ao disparar um rojão de confetes, quando proferia o seu voto na Câmara dos Deputados, no processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT). Não satisfeito, Wlad (como é conhecido), roubou a cena durante a discussão na Comissão de Cidadania e Justiça (CCJ) da Câmara, que debatia o parecer da denúncia contra Michel Temer (PMDB), ao desferir uma série de ataques verbais aos seus opositores, utilizando palavras de baixo calão, chegando a chamar de “burro” o relator Sérgio Zveiter (PMDB) e recomendando-o à voltar a estudar Direito.

Quando ninguém mais esperava nenhum ato que provocasse tanta vergonha alheia, ou alguma ação que beirasse à insanidade, eis que o deputado aparece em um evento (entrega de caminhões de lixo em cidades do nordeste paraense) oficial do Governo Federal, trajado com uma camiseta, bermuda, latinha de skol na mão, e uma enorme tatuagem no seu ombro com uma bandeira do Brasil e a inscrição: “Temer”. Mas de onde surgiu o “deputado dos confetes”?

Wladimir Costa, paraense, começa a ser conhecido no final da década de 80, quando inicia sua carreira como radialista. De linguagem fácil e popular (marca que carrega até hoje), os seus programas de rádio foram fazendo sucesso, e o apresentador ganhando destaque. Já na década de 90, o radialista muda um pouco o seu perfil e começa a se portar como um “defensor do povo”, denunciando as mazelas locais dos municípios paraenses. Alcança grande sucesso com a população como um crítico dos políticos. Em meados dos anos 90, lança a banda Wlad, a qual tocava brega e outros estilos musicais regionais. Se firma como uma das bandas do circuito local.

Mas o que chama atenção no “Federal do povão” é a prática desde esse período, dos famigerados “Aniversários do Wlad” e outras festas em que o cantor e radialista realizava. Assim como os políticos de Roma utilizavam o pão e circo para aplacar os ânimos da população, Wlad adaptou para o espetinho e aparelhagem. Em seus aniversários e “ações sociais” eram distribuídos gratuitamente milhares de “churrasquinhos de gato”, enquanto as aparelhagens locais e artistas de fora do Pará faziam o entretenimento da população. Essas “festas” e a distribuição dos espetinhos permanecem até o dia de hoje.

Já nos anos 2000, Wladimir Costa ganha o seu programa de tv, na emissora de Jader Barbalho (senador pelo PMDB e oligarca local). O seu horário na tv era marcado pelas denúncias à políticos (adversários de Jader) e empresários, o que lhe rendeu o 1° lugar na audiência, algumas ameaças de morte e uma casa queimada. A partir do sucesso, se lançou na política, elegendo-se para Deputado Federal pelo PMDB em 2002, com mais de 160 mil votos (o 2° mais votado, só perdendo para o próprio Barbalho). Em 2006, repete o feito, ampliando o seu número de votos, em 2010 se torna o mais votado com 236 mil votos, 6,91% do total.

Nestes anos, duas coisas chamaram a atenção em sua atuação parlamentar: a primeira é a sua ausência, Wlad foi campeão por anos de ausência na Câmara, chegando a faltar nada mais nada menos, que 40% das seções (número que quase dobrou na legislatura atual); por segundo, dizem as línguas, que o deputado só votava à favor de uma matéria relevante na Casa, se ganhasse em troca, uma concessão de rádio do Executivo. O número de rádios controladas por Wlad multiplicou e alcança os mais diversos cantos do Pará.

Para 2014, Wladimir Costa “virou a casaca”. Saiu do PMDB, se filiou ao Solidariedade e passou a defender com unhas e dentes o Governador Simão Jatene do PSDB (representante de um setor da elite no Estado, e adversário político direto dos Barbalhos e do PMDB). Nas eleições desse ano, Wladimir tinha como estratégia lançar vários radialistas como deputados estaduais, sendo ele, o candidato a federal. Se elegeu com 141 mil votos. Uma redução da eleição passada, mas ainda o sexto candidato mais votado.

No atual mandato, Wladimir Costa se destacou pelo envolvimento em escândalos, pelas ausências e pela defesa dos corruptos (fazia parte da “tropa de choque” de Eduardo Cunha). No ano passado, o Tribunal Regional Eleitoral do Pará cassou o mandato de Wladimir, devido a existência de gastos de 410 mil reais na campanha que não foram contabilizados, nem registrados a sua origem. O deputado recorreu e aguarda julgamento do TSE.

O que fica evidente é que Wladimir Costa não é um principiante na política, e nem um simples palhaço. Sabe que suas ações geram repúdio por uma parte da sociedade, mas por uma outra, é bem visto. É enxergado como um cara ‘valentão’, que briga mesmo, aquele que fala a língua do povo, que se veste de maneira comum, o que ‘fala mesmo doa a quem doer’. Essa sua característica de falar e se vestir simples, cria uma identidade com a população, a qual passa a vê-lo como alguém ‘de fora’ da política, que não é igual aos outros. O seu papel estimula esse sentimento de “outsider”, de alguém de fora da política, o que possui certo apelo.

Mesmo votando contra os direitos dos trabalhadores, e á favor de Temer, Wladimir Costa possui uma série chance de se reeleger (isto se não for cassado pelo TSE). Para isso, vai apostar na sua velha forma de fazer política: investir num personagem ligado ao povo, falas coloquiais, mega-festas de aniversários com churrasquinhos gratuitos, propaganda nas rádios, financiamento de campanha obscuro e a busca incessante dos holofotes (para o bem e para o mal).