Por: Joana Benario, de São Paulo, SP
Chefes de Estado dos seis países atualmente membros do Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Chile) reuniram-se na cidade de Mendoza, na Argentina, de 17 a 21 de julho, sem a presença da Venezuela, já suspensa do bloco. As principais conclusões se concentraram em duas questões: a decisão de avançar para um acordo de livre comércio com a Europa e o chamado pela suspensão das eleições para a Assembleia Constituinte na Venezuela.
Uma nova ALCA em preparação
A próxima reunião do Mercosul-Europa será realizada em outubro, em Bruxelas, capital da Bélgica e da União Europeia. “A assinatura de um acordo com a Europa e se abrir para outros blocos regionais são a prioridade”. As negociações que se iniciaram em 1995 tiveram vários impasses. Agora, esta decisão foi reforçada por três acontecimentos recentes, o giro protecionista dos EUA e seu presidente, o Brexit, saída da Grã-Bretanha da União Europeia e, finalmente, o alinhamento ideológico dos atuais seis presidentes membros do bloco Mercosul em chegar a um acordo com a Europa, pensando em abrir uma nova fase de crescimento econômico.
Chamado pela suspensão da eleição para Assembléia Constituinte na Venezuela
No começar da reunião, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, tinha enviado “uma mensagem de solidariedade para com o povo venezuelano, reiterando o nosso apelo para a paz, a liberdade dos presos políticos e o estabelecimento de um calendário eleitoral”, marcando claramente sua vontade de se pronunciar contra o governo da Venezuela e forçá-lo a um recuo no tema da constituinte. Além disso, a Cúpula terminou com um apelo urgente ao governo de Nicolás Maduro para a “cessação de toda a violência e a libertação de todos os presos políticos, pedindo o restabelecimento da ordem constitucional, o Estado de Direito e separação de poderes”.
Além disso, eles pressionaram o governo e a oposição para “não empreender qualquer iniciativa que poderia agravar conflitos institucionais” em uma chamada clara para que Maduro suspenda as eleições de 30 de julho, para reformar a Constituição de seu país. A cúpula não chegou a votar sanções contra a Venezuela. Por outro lado, o presidente da Bolívia, Evo Morales, não assinou o chamado, demostrando que não existe uma posição tão unificada entre os membros do Mercosul sobre este tema.
O Presidente Michel Temer assumiu a Presidência do Mercosul para os próximos seis meses: “Vamos estar muito atentos à Venezuela”. Sem falar em sanções contra a Venezuela, afirmou, no entanto, que o governo “quebrou a ordem democrática”, mas que o objetivo é lutar pela pacificação do país.
Forte defesa de Maduro na Cúpula dos Povos
A Cúpula dos Povos, paralela à Cúpula do Mercosul, reuniu diversos movimentos sociais do continente na quinta-feira, 20, na Faculdade de Arte e Design, Universidade Nacional de Cuyo, em Mendoza, na Argentina. Eles discutiram questões como os direitos humanos, crise econômica, as mudanças de paradigma na América Latina, a situação na Venezuela e Argentina, entre outros.
A tensa situação que existe na Venezuela foi o destaque da Cúpula. O documento final defende o governo venezuelano de Nicolás Maduro, rejeita a suspensão arbitrária da Venezuela no Mercosul e as ameaças intervencionistas dos Estados Unidos, dando apoio para o novo processo constituinte que “procura uma solução pacífica e soberana para o conflito”.
O documento final da Cúpula dos Povos chama também o repúdio ao governo Temer no Brasil, “que exerce o poder de forma ilegítima“, considerando que o golpe parlamentar contra Dilma Rousseff é “uma prática sistemática de corporações transnacionais para estabelecer seu modelo de dominação e recolonização“. Também se juntou a crítica às novas políticas econômicas, classificadas como “neoliberais”, em grande parte da região.
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