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Um dia para ficar em nossa memória

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Por: André Freire, colunista do Esquerda Online

Na noite do dia 23 de julho de 2016, há um ano, realizamos o Ato Político Nacional de lançamento do Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista (#MAIS).

O Ato-Festa lotou o Salão Principal do Clube Homs, na Avenida Paulista, com a presença de mais de mil militantes, ativistas dos movimentos sociais e dezenas de organizações da esquerda socialista, que se fizeram presentes e saudaram o lançamento da nova organização.

Com certeza, lembraremos por muitos anos desta noite, com emoção, alegria e entusiasmo. Cada militante do #MAIS deve ter uma memória específica dessa data, e eu, como não poderia deixar de ser, também tenho o meu relato pessoal.

Acabei sendo um dos oradores deste Ato. Relutei em aceitar a tarefa, afinal, além de não me considerar um bom orador para estes momentos, em minha opinião, quem deveria falar pela coordenação de nosso movimento – além de outros (as) camaradas que já estavam na lista de oradores – era o companheiro Paulo Aguena, conhecido por todos nós como Catatau. Ele foi, sem dúvida nenhuma, o que entre nós cumpriu o papel mais destacado para nossa existência enquanto uma organização independente.

Depois de aceita a tarefa, o companheiro Valério Arcary, ao perceber o meu nervosismo com ela, me deu uma orientação importante: que eu não deveria falar de improviso, que deveria escrever meu discurso, inclusive para que outros (as) pudessem lê-lo antes do Ato e opinarem sobre o que deveria ser realmente falado.

Como sempre, cumpro à risca as orientações de Valério. Escrevi o discurso, uma prática que quase nunca tinha realizado. É evidente que a forte emoção do momento não me deu condições de falar exatamente o planejado. Mas, acredito que fui fiel ao seu conteúdo.

Reproduzo esse texto abaixo. Para além de ajudar na memória sobre este momento, também para que seja parte de um processo de balanço, necessariamente público, de nossa atuação política, neste nosso primeiro ano de vida.

Neste Ato, anunciamos aos trabalhadores e à esquerda socialista as nossas reais intenções políticas e programáticas. Uma delas, ser parte ativa de um processo de recomposição e reorganização da esquerda socialista brasileira, obviamente “sem arredar o pé” de nossa inserção nas lutas da classe trabalhadora, da juventude e do conjunto dos explorados e oprimidos.

Quem deve nos julgar são os trabalhadores e jovens que nos conhecem e acompanham. Mas, olhando para este ano que passou, opino que tivemos uma evolução positiva. Sem negar em nenhum momento nossas grandes debilidades, acredito que o nosso #MAIS, atualmente, já cumpre seu papel na tarefa fundamental de darmos os passos necessários para a construção de um verdadeiro partido marxista-revolucionário.

Na noite da próxima quarta-feira, dia 26 de julho, realizaremos um novo Ato Político, que marcará a abertura de nosso I Congresso Nacional e também será um momento para comemorarmos nosso primeiro ano de vida. Será mais uma oportunidade de dialogarmos com os ativistas sobre os caminhos da reconstrução e fortalecimento da esquerda socialista. Convidamos todas e todos, amigos e camaradas, para estarem conosco neste momento. Sejam bem-vindos.

Como diz o poeta: “Se muito vale o já feito, mas vale o que será…”. Mãos à obra. 

MAIS e as iniciativas pela recomposição da esquerda socialista: 

Fundamos a nossa nova organização – Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista (MAIS). Depois de dias de ansiedade, chegamos nesse momento histórico para nossa militância. Estamos muito felizes com o que construímos. Uma nova organização que vai lutar e atuar sob as bandeiras do marxismo, do internacionalismo, da independência de classe e da revolução socialista. 

Uma organização que não cederá às pressões das grandes empresas e seus governos, que de forma consciente enfrentará a adaptação ao regime político podre e corrompido da burguesia.

Queremos priorizar nossa inserção no movimento operário e do conjunto da classe trabalhadora, mas também, e com muita importância, nos movimentos da juventude, nos movimentos de luta contra as opressões e nos movimentos populares combativos. 

Porém, nossa enorme alegria com a organização que construímos não significa, de nenhuma maneira, que já estamos satisfeitos com o que fizemos, ou seja, que teríamos a opinião que já temos uma organização acabada, que nos consideramos a única alternativa revolucionária existente no país. 

Longe de uma postura autoproclamatória, mais bem nos definimos como um movimento por uma nova organização socialista e revolucionária, que deverá ser construída como um processo de discussão e unificação de distintos grupos, correntes, movimentos e ativistas, que defendem a revolução socialista, mesmo que com origens distintas. 

Nós queremos nos colocar apenas como um pólo, pequeno, mas ativo, que desde já vai se esforçar muito para se construir como uma organização marxista e revolucionária, mas que vai batalhar permanentemente pelo reagrupamento da esquerda socialista. 

A luta por futuras fusões na esquerda socialista deve ser um objetivo de todas as organizações que se reclamam como revolucionárias. Mas, isso não significa sermos apressados, fazendo ultimatos entre nós, acordos programáticos e de concepção de organização superficiais, sem a firmeza necessária para resistir os principais desafios que a luta de classes nos colocará no futuro. 

A necessidade de sermos bem criteriosos nas discussões programáticas e de concepção de organização para futuras fusões também não pode significar que fiquemos paralisados na tarefa urgente de reorganização a esquerda socialista. 

Portanto, sugerimos, aos distintos setores que estamos iniciando uma relação política, três caminhos iniciais: 

  • Realizar um esforço comum, no interior dos movimentos dos trabalhadores e de suas entidades, para nos unificarmos num campo alternativo da classe trabalhadora e dos movimentos sociais combativos, contra o Governo Temer e seus ataques, mas contra também a alternativa representada pelo projeto de conciliação de classes do PT e do PCdoB; 
  • Lutar nas eleições municipais deste ano por uma Frente de Esquerda e Socialista, como expressão de uma alternativa política dos trabalhadores, sem alianças com partidos representantes da burguesia ou mesmo os que foram da base dos governos do PT. Isso incluiu uma posição contrária também à aliança com a Rede, que está sendo negociada pela direção do Psol em várias capitais; 
  • Aproveitar as comemorações dos 100 anos da Revolução Russa, para realizar uma série de atividades de debates, para aprofundar nossas visões sobre o processo revolucionário e as necessárias atualizações programáticas que nos são impostas pela realidade da atual etapa da luta de classes.

 Estes três caminhos são apenas sugestões iniciais, não substituem outras que possam ser apresentadas, sempre no sentido de batalharmos conscientemente por um processo de aproximações. O fundamental é desde já aplicar uma combinação entre uma política de frente única no movimento de massas com uma intensa discussão programática, o mais ampla possível”.

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