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O papel das centrais sindicais diante do impasse brasileiro

Editorial 16 de junho

O desenvolvimento da crise política e econômica no Brasil desde o impeachment, até os dias de hoje, já gerou um tal número de acontecimentos que fazem parecer que os dias estão valendo anos.

Estamos diante de uma conjuntura polarizada. Os trabalhadores estão demonstrando disposição de responder à ofensiva da burguesia. Isso se dá por dois motivos:

1- A unidade entre as centrais sindicais e movimentos sociais avançou na organização dos trabalhadores, sendo possível construir grandes manifestações e greve geral, impactando a conjuntura.

2- A duríssima luta entre as distintas frações da burguesia tem aprofundado a crise política e dificultado a articulação do governo para aprovação de todas as reformas.

Temer luta encarniçadamente para sobreviver
O governo Temer tem sido hábil e previamente construiu as condições para que o TSE o absolvesse. Não só Gilmar Mendes cumpriu um papel decisivo, mas Temer já tinha trocado dois ministros do TSE. Recentemente, para se blindar e escapar da cassação, os dois votaram a seu favor. O plano deu certo.

Em outra manobra, para evitar que o PSDB saia do governo, chantageia Aécio Neves, ameaçando-o de cassação no Conselho de Ética do Senado, controlado pelo PMDB. A cada dia, Temer tem que matar um leão na luta fracional que está se desenvolvendo entre a própria burguesia. Mas, não é possível saber até quando conseguirá ter algum controle da situação.

Temer também tem, na aprovação das reformas, outro meio de ganhar apoio político dos senhores do capital. As coisas não estão fáceis. Na Câmara dos Deputados, a Reforma da Previdência estacionou por conta da crise política e Temer sabe que isso é péssimo. Já no Senado, Temer vem conseguindo avançar com a Reforma Trabalhista, que está tramitando entre as comissões e tem previsão para ir a plenário já no final de junho. Seria muito importante para o governo e para o próprio Congresso ganhar a confiança do capital e tentar apaziguar a crise política, se conseguisse aprovar a Reforma Trabalhista no Senado. Estão trabalhando duro para isso.

Esse é o pior momento do governo Temer, desde o impeachment e, portanto, estamos diante de uma oportunidade que não ficará no cenário político para sempre. As condições políticas estão mais favoráveis para a derrubada de Temer através da ação do movimento de massas e seus métodos de luta, greve geral e manifestações de rua. Mas, para isso, é absolutamente decisivo que a frente única entre as centrais e o calendário unificado acordado possa ter continuidade, com o objetivo de fazer mais e maior que a greve geral que fizemos em abril.

Temer sabe que as ações unificadas das centrais pode acabar com o seu governo e vem tentando desmobilizar e desmontar a unidade entre as centrais, se utilizando do imposto sindical como moeda de troca nas negociações da Reforma Trabalhista. Como também busca negociar com a cúpula petista um armistício para todos se salvarem, o que pode ser uma pressão sobre parte importante das centrais.

Dois erros que precisamos combater
Diante de um cenário no qual o governo de Michel Temer está com popularidade na lama e outras delações podem incinerar de vez a sua imagem e numa crise econômica sem solução a curto prazo, as centrais sindicais não têm o direito de errar. Qualquer recuo oportunista, ou postura ultraesquerdista nesse momento, pode ser um erro que ajudará a burguesia a achar uma saída para a crise política. Podem conseguir retomar o controle para avançar no saque de direitos sociais e democráticos. A fratura exposta da crise interburguesa não ficará assim por muito tempo e os próximos meses serão decisivos. O impasse vai se definir a favor, ou contra os trabalhadores.

As centrais sindicais não podem recuar nesse momento para garantir uma negociação que envolve o imposto sindical. Seria uma grave traição oportunista abandonar a luta dos trabalhadores para manter os cofres dos sindicatos cheios de dinheiro através de financiamento estatal. Outra grave traição seria, nesse momento, desmobilizar os trabalhadores em nome de um grande acordão entre PT, PMDB e PSDB, para todos se salvarem.

É por isso que a reunião entre as centrais ocorrida no dia 14 de junho cometeu erros importantes, pois não contou com a presença de todas as centrais. A Csp-Conlutas não foi convidada e não esteve presente. O que é ruim para a unidade. Além disso, essa reunião jogou confusão e desconfiança no movimento, o que também abala a unidade para lutar. Muitos estão se questionando se haverá mesmo a greve geral dia 30 de junho. E muitos estão desconfiados sobre o porquê há um movimento para não fazer greve geral. Tudo isso é bom só para o governo e não para os trabalhadores.Mas, não existem somente os erros oportunistas, há também erros ultraesquerdistas e divisionistas que precisamos combater.

No último final de semana, entre os dias 09, 10 e 11 de junho, ocorreu a reunião da coordenação nacional da Csp-Conlutas, que aprovou uma importante resolução de conjuntura que acerta em dar prioridade à construção do calendário unitário entre as centrais e a construção da greve geral no dia 30 de junho.

Mas, ao mesmo tempo que comete esse grande acerto, essa mesma resolução comete um erro sectário e ultraesquerdista quando contrapõe a greve geral, um método de luta, contra as mobiliações pelas diretas, uma reivindicação democrática.

Infelizmente, os companheiros da direção majoritária da central resolveram abrir fogo contra as manifestações que começam a crescer no país exigindo ‘diretas, já’ e isso ajuda a dividir todo o movimento que se choca contra Temer hoje.

É verdade que são manifestações que têm limites e em muitos lugares suas direções têm como projeto apoiar Lula em 2018. Também é verdade que o correto nesse momento é não exigirmos eleições somente para presidente, o mais consequente é defender eleições gerais para presidente e a para o Congresso.

Mas, precisamos sempre nos lembrar que não fazemos unidade com essas centrais porque confiamos, ou porque temos total acordo com suas direções. A unidade entre as centrais se dá porque é a unica possibilidade de conseguirmos mobilizar o maior número possível de trabalhadores para lutar contra a brutal ofensiva do governo e da burguesia contra direitos históricos. Infelizmente, CUT e Força sindical, entre outras centrais, possuem muita influência entre os trabalhadores, em especial no movimento operário. E seria impossível que somente a Csp-Conlutas solitariamente fizesse uma greve geral e parasse a produção e a circulação de mercadorias num país de dimensões continentais.

Da mesma forma, a unidade no movimento pelas diretas não se dá porque confiamos e temos acordo com as direções desse movimento, a unidade tem outro objetivo para nós. Nossos objetivos estão na possibilidade de fazer propaganda da greve geral e da luta contra as reformas para mais trabalhadores. Na disputa dos trabalhadores para a ideia de que não adianta somente diretas para presidente, mas de que é necessário trocar também o Congresso. Ainda, no agito da necessidade da construção de uma Frente de Esquerda e Socialista contra a conciliação de classes.

Nesse marco, o papel que as centrais sindicais precisam cumprir nesse momento é de batalhar para unificar a luta em defesa de direitos sociais e reividicações democráticas, criando um movimento de massas com força suficiente para resolver o impasse a favor dos trabalhadores, derrubando Temer, derrotando as reformas e impedindo uma saída via eleições indiretas. A unidade entre as centrais, movimentos sociais e organizações políticas para mobilizar os trabalhadores através de greve geral e grandes manifestações de rua é a nossa arma no momento.

Como disse Leminski, “Na luta de classes todas as armas são buenas, pedras, noches, poemas…”