Por Carolina Freitas, de São Paulo, SP
São Paulo, Praça Princesa Isabel, domingo, 11 de junho, 06 horas da manhã, 8ºC. A Tropa de Choque e a Força Tática cercam quarteirões inteiros no bairro de Campos Elíseos, ao redor da concentração de pessoas em situação de rua no novo espaço onde se situa o fluxo da Cracolândia. Há três semanas, a mesma Polícia Militar expulsava a tiros e bombas, prendia e tomava os pertences de centenas de pessoas a 400 metros dali, nas calçadas das Ruas Helvétia e Dino Bueno. Na ocasião, Dória disse que estava acabando com o “problema” da Cracolândia na cidade. Hoje, em pronunciamento feito depois da operação, Alckmin afirmou que o problema “não acaba do dia para noite” e que é preciso “intervenção permanente”.
A operação deste domingo teve como pretexto acabar com o lixo da Praça Princesa Isabel, prender outros traficantes no fluxo e tirar a posse das barracas da população ali concentrada. Segundo os governos municipal e estadual, as operações agora focarão no fim das barracas, supostamente usadas como esconderijo dos usuários para fumar crack. Muitas barracas e objetos foram queimados por quem estava no fluxo, em protesto ao novo ataque militar. Um grande incêndio tomou conta da Praça e a operação não cessou enquanto pessoas se reagrupavam em ruas paralelas. Muitas bombas eram jogadas para certificar que novas concentrações não fossem formadas e a população do fluxo fosse para longe dali.
O lixo a ser varrido, que seria o motivo principal, segundo Dória e Alckmin, para este último ataque policial, parece ser as próprias pessoas em situação de rua que se reorganizaram na Praça Princesa Isabel desde a brutal operação militar no dia 21 de maio. Com o inverno se avizinhando e as temperaturas cada vez mais baixas, a operação de ontem significa que estes governos, mais uma vez, serão responsáveis por futuras mortes da população em situação de rua no centro da cidade, cada vez maior nesse contexto de crise.
Criticados pelo Judiciário, por especialistas da saúde e da assistência social, por movimentos sociais, coletivos ligados ao território e por moradores da área, com popularidade em queda por conta da outra operação em maio na Cracolândia, Alckmin e Dória não têm outro idioma para lidar com a grave condição de miséria, fome, frio e desemprego que sofrem os usuários do fluxo e a população de rua da cidade. A única resposta é tiro, porrada, bomba, camburão e internação. O destinatário da resposta? Os grandes especuladores imobiliários que querem fazer da região da Luz um grande negócio. Mesmo que isso signifique tornar ainda mais cruel a situação de quem vive na Cracolândia. Difícil imaginar o que de pior pode vir nas próximas semanas.
Foto: Leonardo Benassatto/Framephoto/Estadão Conteúdo
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