Por: Igor Dantas, do Rio de Janeiro, RJ
Tenho 23 anos, recém-completos. Manhã do dia 30 de abril de 2017, recebo a notícia da morte do cantor e compositor Belchior. Ainda na cama, me pus a refletir como conheci sua arte, e a importância disso em minha vida.
Minha geração não era conhecedora da obra de Belchior, era algo pouquíssimo popular, e na adolescência tive pouco ou nenhum contato com as músicas dele. Creio que a primeira vez que prestei atenção em algo relacionado a seu nome foi em uma matéria jornalística para lá de sensacionalista, que comentava o seu desaparecimento e várias dívidas acumuladas. Apesar da qualidade duvidosa, aquilo me despertou interesse de procurar mais sobre o cantor.
Aos poucos, fui conhecendo músicas maravilhosas como “Velha roupa colorida”, “Como nossos pais” e “Apenas um rapaz latino-americano”. E percebendo a profundidade e o impacto de suas letras. Belchior cantava sobre si mesmo, sobre a realidade brasileira e latina da qual era testemunha ocular e com rara lucidez descrevia aquilo que sentia.
Suas músicas mostravam a realidade dos jovens latinos do Interior, que migravam para os grandes centros em busca de uma vida melhor, e lá percebiam que não eram bem-vindos, encontravam as mazelas e problemas sociais, as relações de exploração tão opressoras e uma sociedade doente.
Em uma viagem para o Uruguai com amigos, fantasiávamos encontros com Belchior. Imaginávamos nos esbarrar em uma daquelas ruas, afinal era aquele local em que jornais afirmavam ter sido sua última aparição. Diálogos inteiros imaginados, que infelizmente nunca ocorreram.
Hoje, o cantor se foi, mas sua música permanece, e permanece muito atual. Estamos sofrendo ataques diariamente por um governo ilegítimo e suas forças de repressão. Hoje, o sinal está fechado para nós, que somos jovens. Mas em nossas mãos reside a mudança, a força para essa mudança. Parafraseando um trecho da música “Não leve flores”:
“… o inimigo eu já conheço.
Sei seu nome, sei seu rosto, residência e endereço.
A voz resiste. A fala insiste: você me ouvirá.
A voz resiste. A fala insiste: quem viver verá.”
Belchior foi um dos maiores, seu legado seguirá enquanto houver rapazes e moças latino-americanos, talvez sem dinheiro no banco, mas com ideias que podem mudar o mundo. Obrigado.
Foto: Belchior em 1976, por Divulgação / Philips
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