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EDITORIAL

Nathalie Arthaud, candidata de Lutte Ouvrière

Por: Editoria Internacional

Nathalie Arthaud é a candidata presidencial de Lutte Ouvrière (Luta Operária). Ela é professora universitária na região metropolitana de Paris. Desde 2007, é a principal figura pública da organização. Disputa sua segunda eleição presidencial. Em 2012, obteve 0,56%, pouco mais de 200 mil votos. Em sua campanha, Nathalie Arthaud se apresenta como a “única candidata comunista”.

A entrevista que transcrevemos foi produzida por estudantes do Centre de Formation des Journalistes (CFJ). Como é uma transcrição da entrevista, a tradução foi tanto da língua, como da oralidade presente no vídeo, a partir do qual adaptamos algumas frases.

(…) Quem é você, Nathalie Arthaud?

É verdade que Lutte Ouvrière é principalmente um símbolo. Pode ser que se lembrem ainda de Arlette Laguiller pois ela encarnou verdadeiramente nossa corrente, ela é bem mais conhecida do que eu, ela se apresentou em seis campanhas presidenciais e para aqueles que são um pouco mais velhos, penso que ela representa bastante claramente nossa organização, que é efetivamente uma pequena corrente, é uma pequena organização, nós somos minoritários. Ao mesmo tempo, nós estamos presentes em numerosas empresas onde difundimos um panfleto por empresa a cada quinze dias, portanto nós somos bastante conhecidos no meio operário.

Qual livro te formou politicamente?

Eu escolhi um poema de Jacques Prévert. Eu não posso dizer que ele me formou, mas sua irreverência, seu anticonformismo, sua proximidade com o mundo operário, com os de baixo, me tocou profundamente. Eu tenho decorado o poema “O tempo perdido”, que é um operário que está entrando na fábrica e para: “Diante da porta da fábrica / O trabalhador súbito para / O dia lindo o puxa pela roupa / E como ele se volta / E olha o sol / Tão rubro tão redondo / Sorrindo no seu céu de chumbo / Dá uma piscada / Familiar / Diz então, camarada Sol / Não achas que é / Uma grande idiotice / Dar um dia como este / A um patrão? ” Eu compartilho frequentemente este sentimento de não querer ir trabalhar quando faz sol e de querer desfrutá-lo. (…)

Se você fosse presidente durante uma hora, qual medida você adotaria?

Isso é completamente uma ficção científica, portanto, minha política consistiria em chamar aos trabalhadores para pedir para se reunirem em todos os lugares, nas empresas privadas ou públicas, e fazer a exigência de quais empregos criar, porque a realidade é que hoje podemos amplamente repartir o trabalho e isto é uma necessidade para todos aqueles que tem um trabalho e para todos os que sonham em ter um.

Após duas presidências de Nathalie Arthaud, ao que se pareceria a França?

Eu não imagino chegar no poder, de toda maneira eu vejo isto de forma coletiva, sem um levante, sem uma explosão social e uma mobilização e eu posso te dizer que, neste contexto, não há necessidade de dez ou vinte anos para transformar a sociedade. De fato, em alguns meses podemos transformar boa parte das coisas. Se eu sou revolucionária e se eu quero mudar a sociedade é porque essa sociedade capitalista é ultraviolenta, é a violência social das desigualdades, é o fato de ver hoje essas riquezas acumuladas de um lado, as extravagâncias, este incrível luxo e do outro lado, as mulheres e os homens que dormem na rua. Essa é uma violência: olhar pessoas condenadas ao desemprego e a miséria, é uma violência. Destrói tudo, é então uma desumanização. Eu moro em Seine-Saint-Denis, eu trabalho em Aubervilliers [regiões da periferia de Paris], eu vejo a miséria, a violência cotidiana nas relações humanas também e, em seguida, há a violência física ainda, a violência das armas. Esta sociedade capitalista carrega a guerra em seu seio. E, ao mesmo tempo, eu não sou ingênua. Eu sei que aqueles que hoje dominam utilizam a violência contra aqueles que se revoltam. Essa é a realidade. Portanto, eu digo aos trabalhadores que no dia em que haja revoltas, seremos confrontados à violência do Estado, seremos confrontados ao exército. Eu estou convencida que deveremos enfrentar isto. É necessário saber e estar pronto a dizer que se é necessário mudar esta sociedade, será necessário enfrentá-la.

Entre essas três medidas dos outros candidatos, qual você adotaria: renda universal, o desarmamento da polícia ou o sorteio na política?

Uau!…. francamente nenhuma… para mim, é necessário lutar pelo emprego universal, isto é, o acesso ao emprego. Um emprego não é somente um salário, é também a dignidade, é também participar na vida coletiva, estar integrado a sociedade. Hoje, nesta economia, há 250 multinacionais que concentram o essencial da atividade: um terço da atividade econômica, a metade das exportações, dos investimentos e que dominam as pequenas empresas. Para mim, o que eu quero é que esses Conselhos de Administração, que são compostos atualmente pela grande burguesia, aqueles que ganham os capitais, ou seus representantes, sejam compostos pelos trabalhadores desses grandes grupos, pela população e pelos consumidores, daí poderemos fazer o sorteio de quem dirigirá a empresa.

Entre essas três tendências, qual te preocupa mais: a uberização, as informações identitárias ou a abstenção?

As afirmações identitárias. Para mim, existe uma ascensão de ideias reacionárias extremamente preocupante. É a expressão de uma marcha-ré bastante grave. Meu combate é dizer que nossa identidade é a de pertencer a classe dos explorados, é de sermos trabalhadores. Temos diferenças, claro, diferenças de sexo, temos homens, mulheres, mas para além dessas diferenças, estamos todos no mesmo barco, temos um destino comum, um destino comum de trabalhadores para enfrentar esse poder, efetivamente, a esta ditadura que se impõe acima de nós, esse poder do capital. Meu combate é dizer que “temos uma identidade comum fundamental” pela qual devemos lutar coletivamente e se lutamos por ela, encontraremos o caminho para o progresso de todos. Seguramente, não é se fechando em comunidades, erguendo muros entre nós – já existem fronteiras: fronteiras nacionais, geográficas, elas são artificiais, mas eles querem implantar-nos mais uma fronteira em nossas cabeças. É necessário não aceitar isso. Desde que eu tenho 15 anos, lembro-me bem de dizer, frente as informações televisivas, frente aquelas crianças que morriam na Etiópia, houve uma grande fome na Etiópia em 1986, eu lembro de me dizer: “o que fez com que eu não nascesce nesse país? Que sorte foi essa?” Desde que eu tenho um pouco de consciência, eu sempre senti que eu fazia parte da humanidade. Portanto, meu combate é que tenha novamente jovens e pessoas mais novas que digam: “minha pátria é a humanidade”. E isto é um combate fundamental.

Qual figura histórica te inspirou?

Poderia ser Robespierre. É um revolucionário que permitiu à Revolução francesa avançar e não recuar. Ele teve a audácia de se apoiar sobre a energia revolucionária dos – sans-culottes, para que a Revolução não fosse estrangulada simplesmente. E Robespierre não é somente a guilhotina, é também a limitação dos preços, é também permitir a população de sobreviver num momento que ela estava faminta, sitiada, etc. Isso permitiu à Revolução viver, em primeiro lugar. Meu campo é dos oprimidos que tentam mudar seus destinos e de transformar a sociedade. E, eu penso efetivamente, que com Robespierre, a Revolução virou uma página importante, que ela liberou os oprimidos. Caso contrário, tudo teria que ser refeito. Para mim, isto faz parte dos momentos importantes que puseram fim a nobreza – agora há uma outra, que é evidentemente a grande burguesia. Eu sou, com certeza, solidária aos revolucionários.

Pelo que você gostaria de ser lembrada?

Eu gostaria que se lembrasse de mim como participante das grandes mobilizações, de grandes lutas que ajudou a mudar as condições de vida dos operários.