Por: Niara Aureliano*, do Rio de Janeiro, RJ
‘É jornalismo ou nota oficial?’ era a pergunta dos jornalistas no começo de tarde desta segunda-feira (20) em protesto realizado contra a demissão do jornalista Caio Barbosa pelo Jornal O Dia, supostamente a pedido do prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella (PRB), após reportagem produzida por Caio em que entrevistados criticavam a gestão de Crivella e a dificuldade de conseguir uma dose da vacina contra a febre amarela na cidade.
Em nota, Crivella negou ter pedido a demissão do jornalista. “É falsa a informação divulgada nas redes sociais, atribuindo a mim o pedido de demissão do jornalista Caio Barbosa do jornal O Dia. Jamais faria isso. Declaro de forma veemente que respeito os profissionais de comunicação e a liberdade de imprensa. Repudio, tenho desprezo e nojo a perseguições políticas, e no meu primeiro discurso depois de eleito, roguei a Deus que nos livrasse da praga maldita da vingança”. Preferindo ainda não falar com a imprensa, Caio respondeu à esta reportagem que “mentir é pecado”, referindo-se a nota do prefeito.
“A nota oficial do prefeito é uma mentira. Não apenas sobre mim. Sobre ele. Mente do início ao fim. Uma pena. Mentir é pecado. Deve ter sido escrita por um assessor. Espero. Errar e reconhecer o erro é virtude que Deus perdoa. Insistir na mentira é feio”, postou Caio no Facebook.
O sindicato dos jornalistas do Rio se manifestou sobre o caso: “de acordo com informações que chegaram ao Sindicato, a matéria desagradou ao prefeito Marcello Crivella, que acionou seus assessores e estes pediram que a reportagem fosse tirada do ar, além de exigirem a publicação de um desmentido. No dia seguinte, para surpresa geral, Caio foi demitido após um suposto telefonema do prefeito ao dono do jornal O DIA (o prefeito nega). A matéria original foi retirada do ar e uma nova versão foi publicada. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e a Federação Nacional dos Jornalistas são contra a censura, a intimidação e o assédio moral – venham de onde vierem – e não irão tolerar esse tipo de postura em relação aos profissionais de imprensa. O Sindicato irá apurar o caso e, se confirmado, junto com a FENAJ, cobrará do jornal uma posição oficial a respeito desse ataque à democracia e à liberdade de imprensa”, disse em nota.
À reportagem, a diretora do sindicato dos jornalistas Sônia Fassini comunicou que o sindicato entregará uma carta ao jornal cobrando explicações sobre a demissão do jornalista, e teme que ações como essas se tornem cada vez mais comuns. “A gente não quer que vire uma prática. A pressão política sempre existiu. O Crivella assumiu a prefeitura do Rio dizendo que respeitava o jornalismo e a liberdade de imprensa, mas como se aparentemente na primeira matéria criticando seu governo, ele vai fazer uma exigência dessa ao dono do jornal? Não passou sequer pela diretoria, foi direto pro dono, foi uma exigência, e não queremos que isso se torne comum”, falou.
Cerca de 40 comunicadores participaram do ato, que começou na Cruz Vermelha e terminou na sede do Jornal O Dia, na Lapa. Cartazes foram colados na entrada do prédio.
A NOS reitera seu repúdio à demissão de Caio e à censura ao jornalismo no país.
*Texto publicado originalmente no site NOS
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