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EDITORIAL

A esquerda socialista precisa apresentar uma alternativa para o país

EDITORIAL 17 de MARÇO |

No dia 15 de março aconteceu um importantíssimo dia nacional de lutas e paralisações. As manifestações na semana passada do dia internacional de luta das mulheres e, principalmente, as paralisações e manifestações de ontem, em todo o país, marcam um novo momento na conjuntura, tendo como principal característica a ampliação das lutas de resistência contra os ataques dos patrões, de todos os governos, do Congresso e do poder judiciário, sempre com o apoio das grandes empresas de comunicação.

Depois das grandes manifestações de 15 de março, fica nitidamente demonstrado a importância da mais ampla unidade de ação de todos os setores da classe trabalhadora e da juventude. Uma verdadeira frente única pra lutar, que busque o fortalecimento das mobilizações, rumo a uma greve geral. Só dessa forma poderemos derrotar esses ataques históricos, como a reforma da previdência e trabalhista, abrindo a possibilidade de darmos um fim no governo ilegítimo de Temer.

Mas, a presença de Lula na manifestação da Avenida Paulista, em SP, fazendo uso da palavra no carro de som das centrais sindicais, não é apenas um fruto natural da unidade de ação em torno da convocação do dia de luta.

Na verdade, ela reacende uma discussão muito importante entre os que lutam contra Temer e seus ataques: devemos entrar na campanha de Lula presidente em 2018? E este debate vai crescer no interior de nossos movimentos, afinal o PT deve formalizar a pré-candidatura de Lula a presidente já na próxima segunda-feira, 20 de março, em um ato político de lançamento.

Estamos a favor de uma ampla unidade para mobilizar a classe trabalhadora contra esse governo e seus terríveis ataques. Neste sentido, não vemos problema na presença de dirigentes do PT nos protestos. Quem tem essa posição não está levando em consideração a gravidade do momento e a importância de uma política de frente única para lutar.

Mas, isso não significa que apoiemos politicamente a saída de conciliação de classes proposta pela direção do PT ou que estejamos favoráveis que a esquerda socialista participe da proposta de frente ampla, apoiando a candidatura de Lula em 2018.

Porque precisamos de uma nova alternativa, realmente independente?

Seria muito positivo para o povo trabalhador se realmente a direção do PT e Lula tivessem de fato revisto a sua política de alianças com as grandes empresas e com os partidos da velha direita, que se concretizou em 13 anos de governos que, no fundamental da sua política econômica, administrou segundo os interesses dos grandes empresários, restando ao povo trabalhador poucas medidas sociais compensatórias, que no máximo atenuaram, em alguma medida, a terrível situação por que passa a maioria da população.

Esse não é um debate do passado. Ou seja, que só deve ser lembrado porque Temer era vice de Dilma, e porque o PMDB foi o principal aliado do PT em seus governos. O grave problema é que, mesmo depois do “golpe parlamentar” do Impeachment, que sacou Dilma do governo e colocou Temer na presidência, o PT segue praticando a mesma política.

Nas eleições municipais de 2016, a direção do PT fez alianças politicas em mais de mil cidades com o PMDB, fora as alianças com os outros partidos burgueses da ex-base do governo Dilma, mas que acabaram apoiando o “golpe parlamentar” do Impeachment.

Isso se manteve também nas eleições da presidência da Câmara e do Senado, onde o PT cogitou apoiar o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), para depois apoiar o candidato do PDT, e no Senado apoiou Eunício de Oliveira (PMDB-CE), que acabou sendo eleito presidente da Casa. Esse mesmo cenário se repetiu em várias eleições para a presidência de assembleias legislativas e câmaras municipais, como vimos no apoio dos deputados estaduais do PT a reeleição de Picciani (PMDB) para a presidência da ALERJ.

Onde o PT está à frente de governos estaduais, como MG, BA, CE e PI, seus governadores praticam a mesma política econômica do atual governo ilegítimo de Temer. Inclusive, aprovando em algumas assembleias legislativas, medidas que congelam investimentos sociais, semelhantes à famigerada “PEC do fim do mundo”, aprovada pela bancada golpista no congresso, no fim do ano passado.

Enfim, dar apoio à candidatura Lula em 2018 é insistir no erro de confiar em uma proposta que apresenta o discurso de governar para todos, mas que na verdade não enfrenta em nada o verdadeiro pacto político perverso das elites brasileiras.

É necessário dar os primeiros passos

A chamada frente ampla reivindica integralmente a experiência equivocada dos governos Lula e Dilma e quer reeditar as alianças com os grandes empresários e partidos da velha direita.

É necessário trilhar outro caminho. Defendemos a construção de uma nova alternativa, realmente independente, uma Frente de Esquerda e Socialista, formada pelo PSOL, PSTU, PCB, organizações socialistas ainda sem legalidade e movimentos sociais combativos.

Neste sentido, é muito importante que o MTST, o movimento popular que no último período ganhou grande protagonismo na luta por moradia, contra o golpe e pelo Fora Temer, seja parte ativa e destacada desta nova alternativa política.

Devemos apresentar um programa de ruptura com a atual política econômica, apontando uma saída anticapitalista e dos trabalhadores para a crise e suas consequências terríveis, como o aumento astronômico do desemprego.

Nossa alternativa tem que recuperar propostas que sempre foram defendidas pelos movimentos sociais, como a suspensão e auditoria da dívida, o fim das privatizações e a reestatização das empresas privatizadas, a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, reforma agrária e urbana, o fim das isenções fiscais para grandes empresas e a taxação das grandes fortunas, entre outros pontos programáticos para que sejam os ricos e poderosos que paguem o custo da crise, que eles mesmos criaram.

Mas, para além de um programa, a esquerda socialista precisa lançar, o quanto antes, uma pré-candidatura a presidente da república, uma figura que represente nossas propostas e a saída dos trabalhadores para a crise. Temos que ter a coragem de superar os limites dos governos petistas, aliados com os patrões e seus partidos.

Nomes existem, para encabeçar esta alternativa. Agora, precisamos iniciar imediatamente as discussões deste programa e da pré-candidatura, através de um debate coletivo, não só entre as organizações políticas, mas que os ativistas participem plenamente.

O ideal é que nas próximas grandes manifestações unitárias contra os ataques de Temer, use a palavra também uma pré-candidatura presidencial da Frente de Esquerda e Socialista. O fundamental agora é darmos os primeiros passos necessários para que a esquerda socialista apresente um programa para o país e uma pré-candidatura a presidência da república. Mãos a obra!