Por: Leonardo Sinedino, de Natal, Rio Grande do Norte
Quem já veio à Natal/RN, muito provavelmente já foi à Ponta Negra, um dos principais destinos da cidade. Na gestão encabeçada por Rosalba Ciarlini (o atual governador, Robinson Faria, era o vice), foi apresentado à sociedade um projeto bizarro de construção de um mega túnel na Avenida Roberto Freire (caminho para o principal cartão postal da cidade – o Morro do Careca), que transformaria a bela avenida, numa via expressa para carros, e que ainda por cima, avançaria de forma agressiva no Parque das Dunas, uma importante Zona de Proteção Ambiental da cidade. Um desastre total cujo custo financeiro passaria dos 300 milhões de Reais.
A sociedade natalense se mobilizou e o projeto foi descartado. O atual governador, Robison Faria, foi eleito em 2014 (muito em função do repúdio da população a Henrique Alves, seu oponente no pleito) e a princípio se mostrou aberto a discutir a reestruturação da avenida com a população, visando a elaboração de um projeto capaz de viabilizar uma real mobilidade humana, em sintonia com a Lei Federal de Mobilidade 12.587.
Entretanto, o desejo de dar dinheiro para empreiteiras, a visão estreita e a incompetência parecem sempre triunfar nas gestões potiguares, e todas as demandas expostas pela sociedade parecem ter sido ignoradas pelo Governo do RN. O canteiro de obras começa a ser montado na Avenida Roberto Freire, e o projeto apresentado pelo Governo do Estado causa calafrios em qualquer pessoa com o mínimo de bom senso (o que não é o caso do governador e sua equipe de desorientados, obviamente).
Trata-se de um projeto cujo EIA – Estudo de Impacto Ambiental – não foi sequer concluído, e cujo objetivo é, novamente, transformar a agradável avenida numa via expressa para carros, substituir o verde da natureza pelo cinza do concreto, e o ar ainda puro pela fumaça dos carros. Em Natal há uma obsessão compulsiva e doentia dos gestores em abrir espaço para automóveis, o que vai na contra-mão das novas idéias de mobilidade do século XXI, e de qualquer comprometimento com a qualidade de vida das próximas gerações.
Em que isso afeta os trabalhadores de Natal?
Estamos falando de uma mega obra, que durante sua execução causará transtornos em toda a região e cujo custo, acima de 300 milhões de Reais, sairá dos cofres do já bastante endividado Estado do RN. O mesmo Estado cujos hospitais são famosos pela superlotação e pela incapacidade em atender a população que mais carece dos serviços públicos. Além disso, recentemente o Estado do RN passou por uma grave crise de segurança que afetou, principalmente, a população mais pobre das periferias. Será mais uma obra faraônica a necessidade do povo de Natal?
Alguns irão tentar argumentar que a região precisa de soluções para a mobilidade, entretanto, o que estudos mais recentes sobre mobilidade vêm mostrando, é que a construção de mega túneis, viadutos e trincheiras não são a solução, muito pelo contrário. Esse tipo de obra mata tudo que há de comércio, imóveis e atividades humanas à sua volta. Quem lê esse texto, será que gostaria de ter um viaduto construído na porta de casa, para ao invés de pessoas, carros transitarem à toda velocidade?
Não é preciso bola de cristal (até pela experiência recente das obras da Copa do Mundo) para adiantar que a obra causará um enorme prejuízo à paisagem de Ponta Negra, e degradará a atividade turística e comercial da região, arruinando assim, inúmeros empregos. Militantes e moradores já se mobilizam para embargar a obra e elaborar um projeto alternativo, resta saber se o Governador Robinson Faria cometerá suicídio político para dar dinheiro à empreiteira, ou ouvirá o clamor da sociedade Natalense.
Próximo dia 10, haverá nova reunião chamada por militantes e moradores na sala F4 do setor 4 da UFRN, para avançar na luta por uma Natal mais humana, para quem nela vive e trabalha.
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