Da redação
A campanha para que o prefeito Marchezan (PSDB) revogue o decreto 19.685 segue forte nas redes sociais. São inúmeros depoimentos, relatos e memes rebatendo os argumentos usados pelo Secretário de Educação Adriano de Brito e demonstrando porque o decreto vai precarizar ainda mais as condições de ensino. Confira abaixo o depoimento que recebemos da Professora da rede municipal Aline Siemionko dos Santos e envie para nós o seu depoimento, denúncia, foto ou vídeo via e-mail ([email protected]), pela nossa página no facebook ou pelo whats app (11) 98646-5160
Algumas coisas em que fiquei pensando, sobre as mudanças previstas pelo novo secretário de educação da Prefeitura Municipal de Porto Alegre:
1) que ele desconhece a realidade das nossas escolas. APENAS os alunos de 6 anos (e os menores ainda, da Ed. Infantil) vão acompanhados do professor, no horário de aula, ao café da manhã ou almoço, no início de cada turno. Para todos os demais, A AULA INICIA, efetivamente, às 7:30 ou 13:15. Os pais dos meus alunos, inclusive, ouvem sermão, se aparecem na minha porta às 7:40 ou 13:25, pois eu já iniciei a aula nesse horário. A nova “rotina”, proposta pelo governo, prevê que os alunos entrem às 7:30 e fiquem sabe-se lá com quem até as 8:00, quando os professores passariam a atendê-los. Ou seja: menos meia hora de aula a cada dia, 5 dias na semana.
2) o horário do almoço, para turmas até o 5° ano (no turno da manhã) ainda ocorre dentro do período regular de aula, em uma escala, para garantir que todos possam se alimentar com relativa tranquilidade. E a grande maioria das crianças realmente almoça na escola. Agora… Já pensou se todos forem almoçar após o término do turno, ao mesmo tempo? Cerca de 400 alunos, com idades entre 5 e 16? Num espaço onde cabem, no máximo, 4 turmas?
3) o recreio terá cinco minutos a menos, indo na contramão de tantas escolas e estudos que têm mostrado a importância de um horário “livre” e do brincar no crescimento das crianças. Atualmente, temos 20 minutos de intervalo (também usados para que os alunos façam o lanche no refeitório).
4) os alunos passariam a permanecer na escola no horário da reunião pedagógica, às quintas-feiras. Aqui, não há novamente clareza de como os alunos seriam atendidos. Ouvi/li que seria pelas professoras volantes, mas depois assisti a uma entrevista em que o próprio secretário falava que os setores administrativos e a equipe pedagógica seriam responsáveis por pensar em atividades para a crianças. A) A professora volante, assim como os demais, é parte importante do trabalho com os alunos. E a reunião pedagógica é o único horário “na grade” em que consegue conversar com as referências das turmas que atende, pensando em parcerias, dificuldades dos alunos, etc. Além disso… como ela poderia atender, ao mesmo tempo, às suas 3 ou 4 turmas (dependendo do ano-ciclo) para garantir que os outros professores participassem da reunião? B1) Setores administrativos atendendo alunos? Só consigo lembrar de um setor que seja meramente “administrativo”, a secretaria, que permanece aberta durante a reunião para atendimento da comunidade. Fecharemos a secretaria, então, e deixaremos o secretário dar conta de 400, 500 alunos? B2) A equipe pedagógica, justamente por ter esse nome, planeja e participa das reuniões, orientando o trabalho dos professores. Se a equipe passará a ficar responsável pelos alunos, novamente se perde uma parte importante na constituição das reuniões. INDEPENDENTE DO CASO (A ou B), NÃO SE PROPÕE UM TRABALHO DE QUALIDADE COM AS CRIANÇAS.
5) a professora volante, ao contrário do que vem sendo divulgado, não “serve apenas para cobrir a folga da referência”. No dia de COMPENSAÇÃO dessa professora, os alunos podem ser atendidos, também, pelos professores de Ed. Física, Arte-educação e Língua Estrangeira. Também é a professora volante que, em alguns períodos, entra em aula com a referência, a fim de garantir outras dinâmicas que exijam a presença de mais de um adulto (testagens individualizadas nos anos de alfabetização, jogos, auxílio para os alunos com mais dificuldades ou defasagens na aprendizagem, etc.).
6) o tempo de planejamento do professor (a compensação) será diluído ao longo da semana, dificultando o seu trabalho. Qualquer pessoa consegue perceber que 2:30 num único turno, para termos de planejamento e reflexão, rendem muito mais que 30 minutos a cada dia…
7) novamente, são propostas mudanças sem que os principais profissionais envolvidos sejam ouvidos. Governos passam, mas somos nós que, dia-a-dia, acolhemos nossos alunos, ocupamos nosso tempo fora da escola com planejamento e correção de trabalhos, gastamos parte do nosso salário com os materiais que o governo não provê, enfrentamos a violência da periferia… porque ainda acreditamos que a educação é a única maneira de mudar o mundo, e porque queremos que nossos alunos sejam seres humanos melhores e mais críticos.
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