Pular para o conteúdo
BRASIL

Chuva, suor e cerveja do carnaval recifense

Por Raíssa Bezerra, de Recife

O asfalto quente da Avenida Guararapes, ponte Duarte Coelho e na tradicional Rua da Moeda já aguarda ansioso os bons ventos do carnaval de Recife. Os carrinhos de som no Mercado São José e Dantas Barreto anunciam os frevinhos antigos e os blocos nos bairros já deram a largada para os melhores quatro dias do ano – ao menos pra mim!

A primeira vista, é possível pensar que são os grandes shows e polos descentralizados que dão o ritmo do nosso carnaval. O Festival Rec Beat, Pátio de São Pedro e o Marco Zero. Pra mim, um carnaval bem vivido passa por tudo isso, mas começa e termina nos blocos, no carnaval de rua. Os bairros se organizam para brincar o carnaval: é troca anárquica, agremiação, blocos…

O bloco Cabeça de Touro acontece lá no Engenho do Meio – Zona Oeste da cidade, e comemorou seus 30 anos de folia em grande estilo nesse último sábado. Já Os Irresponsáveis desfilam na quarta-feira ingrata há 35 anos lá em Água Fria – Zona Norte. Os saudosos blocos da Saudade, Cinza das Horas  desfilam pelas ruas do centro na sexta-feira (24) e encantam os foliões.

Recife tem tradição da multiculturalidade no carnaval, e os desfiles de caboclinho, maracatus e escolas de samba encantam a festa e são parte fundamental de tudo o que faz o carnaval. Infelizmente, há uma tentativa de invisibilizar e não dar a devida importância pra essas expressões artísticas. Vale muito a pena assistir aos desfiles na Dantas Barreto e prestigiar artistas super talentosos que abrilhantam a folia por aqui.  E ninguém deveria passar a vida sem ir ao menos uma vez ao Galo da Madrugada. Recifense adora uma megalomania, eu admito, mas o maior bloco do mundo é realmente aqui. É bonito demais ver a cidade toda sentido o sábado de Zé Pereira chegar! O morro desce pro centro e brinca o carnaval do Galo. A Dantas Barreto fica pequena pra tanta gente e a festa fica por conta dos trios elétricos com bandas locais e convidados/as. O bloco que começa pela manhã e vai até o fim da tarde,  leva milhares de pessoas pras ruas e esse ano homenageará os “guerreiros do frevo” Alceu Valença e Jota Micheles. Tem Galo pra todo gosto: quem gosta de multidão, chuva suor e cerveja e pra quem quer assistir tudo mais sossegado.

Milhares de blocos passarão pelas ruas da cidade e 47 polos de shows descentralizados nos bairros farão a festa por aqui. No domingo vale a pena conferir os show de Eddie, Devotos, Mundo Livre e Lenine no Alto José do Pinho ou chegar na Várzea e ver Siba e Titãs. É a noite do samba no Marco Zero e Jorge Aragão e Leci Brandão vão comandar o partido alto por lá. Ainda vai rolar show de Rashid no Rec Beat, lá no Recife Antigo mesmo.

A noite dos tambores silenciosos acontece na Segunda-Feira lá no Pátio do Terço, centro do Recife. É um evento festivo e carnavalesco, mas também de cunho religioso. Maracatus de Baque virado vindos de todo o estado se reúnem em uma cerimônia de origem africana. Um ritual belíssimo e emocionante com maracatus e ancestralidade.

Terça-feira é dia de se acabar em Olinda pra iniciar a despedida do carnaval. Mas se guardar um pouco pra assistir Inna Modja e Jards Macalé no palco do Rec Beat e seguir pro arrastão do frevo no Marco Zero.

A quarta-feira ingrata chega depressa, mas também leva pra rua quem não aguenta se despedir do carnaval tão cedo. Os Irresponsáveis lá em Água Fria, Bacalhau do Batata em Olinda e vários outros. Para as crianças, rola programação infantil todos os dias, com bloquinhos e shows.

Foto: desfile do Bloco Cabeça de Touro