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EDITORIAL

2018 … será tarde demais

Editorial 21 de Fevereiro |

A estratégia da maioria da direção do PT é apostar todas as suas fichas nas eleições de 2018. A divulgação da pesquisa eleitoral da CNT/MDA com o relativo fortalecimento da figura de Lula e a liderança em todos os cenários para presidente na pesquisa estimulada e espontânea reforça ainda mais essa linha política. Isso significa que o centro da política do PT é a oposição parlamentar contra Temer procurando desgastar o governo preparando o terreno para defender Lula como salvador da pátria em 2018.

O grande problema é que existe um governo Temer que está aplicando um dos maiores ataques à classe trabalhadora na história do Brasil. As reformas da previdência e trabalhista, a PEC do congelamento dos gastos pelos próximos 20 anos, o ajuste fiscal e as privatizações nos estados e muitos outros ataques. Em tempo recorde a Constituição de 88 está sendo destruída, estamos assistindo a um agenda de retrocessos sociais. A reforma da previdência deve ser votada até o final de abril.

Existe uma aliança como poucas vezes vistas na história política do Brasil, fruto do golpe parlamentar que colocou Temer no poder que envolve os principais setores da burguesia brasileira , 400 deputados na Câmara dos Deputados, a maioria dos senadores, o judiciário e os grandes meios de comunicação.

A votação da privatização da CEDAE na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro ontem mostra que mesmo com um cenário de total crise institucional, com ex governadores presos e os políticos totalmente questionados, houve uma operação forte para impor o ataque e o regime funcionou muito bem para a burguesia.

A desestabilização do atual projeto da classe dominante, que envolve mudanças profundas no Brasil depende da capacidade de unificarmos a classe trabalhadora, a juventude, os sem teto, os sem Terra, ou seja, a massa dos explorados que são a maioria da sociedade brasileira para enfrentar em grandes mobilizações o governo golpista de Temer e seus planos de ataques contra o povo brasileiro. Ou a classe entra em campo, ou seremos derrotados. Não será possível tercerizar para a Lava Jato a tarefa de desestabilizar o sistema.

Evidentemente, Lula e o PT teriam um papel importante a cumprir nesta grande frente única contra as reformas , o PT dirige a CUT, tem a hegemonia na maioria dos movimentos sociais, controla poderosos aparatos que poderiam colocar todos os seus carros de som, todos os seus jornais, mover milhares de ativistas para fazer campanha contra a reforma da previdência e formar uma opinião crítica. Poderia estar à frente das mobilizações na tentativa de derrubar as reformas e por consequência, desestabilizar o governo Temer. O problema central é a estratégia de oposição parlamentar rumo às eleições de 2018.

Lula não quer mobilizações diretas que desestabilizem fortemente o país. O motivo é simples, este processo ameaça o projeto de um novo pacto social de colaboração de classes no Brasil. A estratégia da direção do PT e do PC do b é voltar a ser aceito por uma fração da burguesia como mal menor perante um crescimento da crise social e política. Por isso, Lula não esteve presente nas mobilizações de novembro de 2016, até o presente momento não chamou nenhuma mobilização contra as reformas e muito menos uma greve geral contra os ataques de Temer.

Isso seria fundamental para a classe trabalhadora. O PT deve colocar todo o seu peso social na rua. Todos os movimentos que influencia, todos os sindicatos, os aparatos parlamentares. Vamos ou não desafiar o “Vem pra Rua” e o MBL que agora chamam mobilizações em defesa da reforma da previdência e da Lava Jato para o domingo dia 26 de março? Continuará nas mãos da direita a iniciativa política?

Obviamente é preciso entender que a realidade é complexa. Não é verdade que o PT e a CUT poderiam parar o país se quisessem. Há um desgaste grande na base. E sem dúvida a classe não está confiante em si mesma, nem disposta a grandes enfrentamentos. Mas entre as razões de fundo que explicam este difícil cenário estão os inúmeros erros e traições do PT. É preciso tirar lições da história.

Isso não pode significar, no entanto nenhum sectarismo com a ação comum, nem com a construção da necessária Frente Única. Construir a frente única é realizar em todo país reuniões, plenárias, fóruns permanentes entre todas as centrais sindicais, os movimentos sociais e os partidos políticos de esquerda com um objetivo central: organizar a resistência da classe trabalhadora. Nenhum balanço do passado, nenhuma nome ou logo deve estar acima da disposição de construir este fórum. É mesquinho que cada frente, entre as já existentes, lute para que seja ela a organizadora de tudo. É preciso ter humildade e senso de proporção, o lado de lá está muito forte e unificado.

Qual a estratégia da esquerda socialista?

A primeira e decisiva tarefa é a mobilização dos trabalhadores. Não pode haver dúvidas que é preciso somar forças. Por isso pensamos que a CUT, a CTB, o PT e Lula devem jogar todo seu peso nas mobilizações contra as reformas. Porém não somente eles, chamamos a luta as direções da Força Sindical que apoia Temer, a CGTB, UGT , NCST. As frentes já existentes e os movimentos sociais também devem somar forças. As organizações da juventude e os movimentos de opressão que reúnem mulheres, negros e LGBT`s também são fundamentais.

Essa estratégia de mobilização da classe é combinada com a construção de um terceiro campo político alternativo ao PT e a direita. Vivemos 13 anos de petismo, o golpe parlamentar foi um final trágico. Não pretendemos repetir essa história. Frente ao projeto da direção do PT de ter como centro a candidatura de Lula em 2018 através de uma nova frente ampla que envolva os movimentos sociais, apresentamos a necessidade da construção de uma Frente de Esquerda que envolva o PSOL, MTST, PCB, PSTU, Frente Povo sem Medo, Csp Conlutas, Intersindical e organizações dos movimentos sociais. Sem alternativa política não iremos muito longe.

Por que esse tema é decisivo?

Porque como sempre na história os governos de colaboração de classe são a ante-sala para um governo burguês que ataque ainda mais os trabalhadores. Assim como Pinochet era ministro de Salvador Allende, Temer era o vice de Dilma e chegou ao poder pelas mãos do PT que governou em colaboração de classes com a burguesia.

Devemos tirar todas as lições do processo de golpe parlamentar, da incapacidade do PT de impulsionar a resistência contra o impeachment e agora a reedição do projeto eleitoral e parlamentar. Devemos aprender com os erros do passado.

Neste sentido, também é parte de nossa estratégia da construção do terceiro campo, um bloco de esquerda que enfrente a direita e se proponha a superar o PT. A melhor maneira nesse momento de impulsionar o terceiro campo apresentando uma saída alternativa à direita e ao PT seria que as organizações que mais se destacaram na oposição pela esquerda ao Lulismo e tiveram papel relevante na luta contra o golpe parlamentar impulsionassem um bloco político.

Uma das célebres frases de Karl Marx é que: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. A esquerda socialista precisa ter coragem para se apresentar de maneira independente do lulismo-petismo para surgir o novo e evitar a farsa.