Editorial 19 de Fevereiro |
Nesta quarta-feira, 15 de fevereiro, foi publicada a pesquisa da CNT/MDA sobre as intenções de voto, espontânea e estimulada, para presidente em 2018, a avaliação do governo Temer e também sobre o uso da internet no Brasil. Trata-se de uma pesquisa que revela dados interessantes sobre a realidade política atual.
Neste editorial, abordaremos três conclusões que compreendemos como as mais importantes dos dados fornecidos pela pesquisa e que indicam tendências para o desenvolvimento da conjuntura política no próximo período.
1. Crescimento de Jair Bolsonaro na pesquisa espontânea e estimulada
A situação de crise econômica, política e social no Brasil acabou por fortalecer as ideias de extrema-direita representadas por Jair Bolsonaro. O seu crescimento nas pesquisas na espontânea de 3,3% em outubro de 2016 para 6,5 em fevereiro de 2017, assim como seu crescimento na estimulada de 6,5%(out/2016) para 11,3%(fev/2017) representam um sinal de alerta para a esquerda.
Seus maiores índices de apoio estão na região sudeste (14,4%) e Sul (12,5%) e entre os eleitores com curso superior (20,7%) e renda superior a 5 salários mínimos( 20,4%).
A base social desse crescimento são os setores de mais alta renda das classes médias urbanas. Foi o setor que teve maior protagonismo nas mobilizações que tomaram as ruas a partir de março de 2015 e fortaleceram movimentos como o MBL e o Vem pra rua. Tudo indica que uma parte importante dessa base social tem se radicalizado com uma pauta de extrema direita que envolve o preconceito as mulheres, lgbt’s, negros e nordestinos, o apoio às reformas de Temer, Lava-Jato. Sua demanda principal é o combate à corrupção.
A força das ideias da extrema direita está entrando cada vez mais na classe trabalhadora. Tem crescido muito as ideias de Jair Bolsonaro nas fábricas, escolas e locais de trabalho. Chegou o momento de toda a esquerda compreender o perigo do crescimento das ideias de extrema direita no Brasil.
2. Aumento dos índices de rejeição do governo Temer
Temer já possuía baixos índices de popularidade. As novas pesquisas indicam o aumento da desaprovação com crescimento dos índices de péssimo (de 23,5% para 26,5%) e ruim ( de 13,2% para 17,6%). Assim como a desaprovação de Temer cresceu de 51,4% (out/2016) para 62,4% ( fev/2017).
As pesquisas indicam que o aumento do desemprego, da pobreza, os ataques apresentados pelo governo como a PEC 55/241( PEC do teto dos gastos) e as reformas da previdência e trabalhista fazem com que o governo Temer seja odiado pela maioria do povo brasileiro.
Mas por que então Temer não caiu até agora?
Porque ele se sustenta em uma aliança sinistra como poucas vezes vistas na história do Brasil: uma maioria de mais de 400 deputados, o apoio de todas as frações da burguesia brasileira, incluído aí os meios de comunicação e de um setor mais abastado das classes médias. A força do governo vem golpe parlamentar.
Neste sentido, o jornal paulista, Estadão, em editorial desse domingo, afirma que Temer não tem que se preocupar com popularidade e sim com a aplicação do ajuste que o Brasil precisa. A força do governo está na unidade dos de cima pelo ajuste.
A pesquisa indica que o ódio ao governo existe. Devemos neste momento de ataques unir a classe trabalhadora contra as reformas e buscar virar esse jogo. Somente uma frente única de todas as organizações da classe trabalhadora pode enfrentar esse ataque e desestabilizar o governo Temer.
3. Recuperação da imagem de Lula com sua liderança na pesquisa espontânea e estimulada
A pesquisa também indicou um aumento da popularidade de Lula com a liderança e crescimento em todos os cenários da pesquisa espontânea (de 11,4% para 16,6%) e estimulada (de 24,8% para 30,5%). Lula venceria todos seus concorrentes no segundo turno.
Os dados mais impressionantes da pesquisa são o apoio a Lula no Nordeste( 58,2%) e centro oeste/Norte (31%). Assim como seu apoio nos setores que ganham até dois salários mínimos (38%) e escolaridade até o ensino fundamental (49,5%).
Identificamos uma combinação de dois processos para o crescimento de Lula: 1) a tragédia familiar, com o falecimento da sua esposa Marisa combinado com um ataque vergonhoso da extrema direita na rede, fortaleceu a figura do ex-presidente; 2) os índices do governo Temer com o aumento do desemprego, da pobreza e a crise social escancarada nos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro fazem um setor da classe considerar que com Lula era melhor. Uma espécie de saudosismo dos anos em que o crescimento econômico favorecia as medidas compensatórias para a maioria da população e havia uma sensação de bem estar social. Aqui, os efeitos danosos da interrupção, pelo golpe parlamentar, da experiência com o PT são mais evidentes.
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