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EDITORIAL

O olhar sereno de Eike, mesmo na prisão

Editorial de 31 de janeiro,

Depois de um voo tranquilo que o trazia de Nova York, Eike Batista foi preso nesta segunda (30) no aeroporto do Galeão, no Rio. Durante a viagem, o empresário tirou selfies, deu entrevista à Globo e afirmou, cinicamente, que “está na hora de passar as coisas a limpo”. De cabelo raspado, foi levado para Bangu 9.

Eike está atrás das grades, mas fora de lá guarda um patrimônio de R$ 5,6 bilhões, riqueza acumulada por meio do roubo sistemático e da exploração impiedosa. A serenidade no olhar do bilionário revela o principal: mesmo preso, o crime compensou. As 56 empresas do empresário seguem funcionando normalmente. Depois da temporada em Bangu, Eike provavelmente voltará a usufruir de uma vida luxuosa.

O fato de que algumas figuras poderosas estejam sendo punidas, ainda que seja por pouco tempo, impressiona a população. O sentimento de que “a justiça está sendo feita” ameniza o mal estar social no país. Assim, têm-se a impressão de que a Lava Jato está limpando a sujeira. O essencial, desse modo, fica encoberto.

Para exemplificar, vejamos o caso da Odebrecht. O grupo, entre 2004 e 2014, movimentou R$ 35 bilhões em contratos diretos e em parcerias com a Petrobrás. Além da petroleira, a empreiteira é investigada em 27 grandes obras espalhadas pelo país. Apenas na Petrobras, o prejuízo provocado por sobrepreço pode chegar a R$ 7 bilhões, segundo cálculos da Polícia Federal.

No acordo de leniência assinado com o Ministério Público Federal, a Odebrecht comprometeu-se a pagar R$ 5,3 bilhões ao Estado, ao longo de 23 anos. Os valores ficam muito abaixo do montante obtido pela empresa por meio de contratos superfaturados com o poder público. Além do mais, com o acordo leniência, a empreiteira poderá seguir firmando contratos com o governo, prefeituras e estados.

Mas não é só. Dos 77 executivos e diretores da empreiteira envolvidos no acordo de delação premiada, apenas o ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, encontra-se detido. Quase todos os empresários presos na Operação Lava Jato estão em liberdade total ou condicional, aproveitando do patrimônio conquistado em anos de atividade ilícita.

A punição aos agentes da corrupção é uma medida necessária. Mas insuficiente. Mesmo com grandes figurões presos, o sistema permanece operando, em maior, ou menor grau.

O mecanismo mais eficaz de combate à corrupção passa pela expropriação das empresas privadas que comprovadamente saquearam o patrimônio público. Empreiteiras como a Odebrecht e o grupo “X” de Eike, por exemplo, que fizeram fortuna roubando o Estado, deveriam ser nacionalizadas e colocadas a serviço das necessidades econômicas e sociais do povo brasileiro. Essa seria a única forma de se fazer “justiça” de verdade.

Afinal, o sistema capitalista é por natureza corrupto. E apenas como medidas anticapitalistas pode-se atingir o coração da corrupção.