Por: Carlos Zacarias de Sena Junior, colunista do Esquerda Online.
O publicitário baiano Nizan Guanaes mandou o recado: “a popularidade é uma jaula”! Michel Temer entendeu e levou a sério aquela história de aproveitar a impopularidade para “fazer as reformas que o Brasil precisa”. Foi além, e não satisfeito com o fato de entrar para a história como golpista, pretende ser o governante mais odiado de nossa história. Ao aprovar a toque de caixa a PEC 55 e a Reforma do Ensino Médio e enviar para o Congresso a proposta de Reforma da Previdência, além de preparar as bases para uma Reforma Trabalhista, reformas que significarão o pesadelo para muitas gerações de brasileiros, caso sobreviva a 2017, Temer entrará para a história como o pior e mais odiado governante da República.
E nem adianta vir com a conversa de que Dilma gozava de altos índices de rejeição, porque Temer a supera em todos os quesitos. Também não adianta citar os generais-presidentes ou mesmo o último governante da ditadura, João Figueiredo, que nos estertores do seu governo dizia preferir o cheiro de cavalo ao cheiro do povo e pedia que o Brasil lhe esquecesse. Como podíamos esquecê-lo?! Tanto lembramos dos ditadores que abominamos a possibilidade de voltar ao passado. Mas Michel Temer quer mais, pois apenas o golpe não lhe parece suficiente.
Podíamos imaginar que ao lado do conselho de Nizan Guanaes, Temer também tenha dado atenção às palavras de um certo florentino que no século XVI ensinava que, na impossibilidade de ser amado e temido ao mesmo tempo, seria preferível a um governante ser temido, porque os homens são “ingratos, volúveis, fingidos e dissimulados, fugidios ao perigo, ávidos do ganho”. Mas Temer não é temido, muito ao contrário, pois é ele que teme o povo, tanto que vive se escondendo e fugindo das inevitáveis vaias.
O leitor já deve ter se dado conta que as palavras acima foram tomadas de Maquiavel, mas não deve esperar que este colunista imagine que o pequeno governo do Brasil tenha aprendido algo com o grande pensador florentino. Temer se guia mais pelo marketing e pela publicidade e é demasiado pequeno para tomar lições à história, então não deve saber que os ensinamentos contidos n´O Príncipe eram dirigidos ao populacho, à plebe, à ralé, justo a que nos séculos seguintes varreria da face da terra inúmeros governantes em função do ódio que provocavam.
Se me fosse permitido dirigir uma observação ao pequeno governo do Brasil, usaria ainda as palavras de Maquiavel para lembrar ao nosso pequeno príncipe (sem trocadilho) que fazendo bem ao povo, o que é impossível para um governo golpista, um governante tem deste todo o apoio. Do contrário, quando sobrevém a necessidade, o que se avizinha é a revolta, pois “o príncipe deve fazer-se temer, de modo que, se não conseguir obter a estima, também não concite o ódio”.
Artigo originalmente publicado no Jornal A Tarde.
Foto: Beto Barata / PR em fotospublicas.com
Comentários