Por Guilherme Cortez, de Franca, SP
Enfim, vemos o ano de 2016 chegar ao fim. Foram dias muitíssimo difíceis, nos quais enfrentamos gigantescas perdas, ataques e derrotas.
É verdade que também aprendemos muito, demos importantes passos e crescemos um pouco mais.
2016 foi e continuará sendo um ano ensurdecedor.
No apagar das luzes desse ano nenhum pouco fácil, um ato de gigantesca bravura foi silenciado pela intolerância e pelo ódio.
Na noite de Natal, o trabalhador ambulante Luiz Carlos Ruas – conhecido como Índio – tomou uma atitude da maior grandiosidade do espírito humano.
Índio interveio em uma situação de agressão contra um rapaz homossexual e sua amiga travesti na estação Pedro II do Metrô.
Quem já sofreu com a violência LGBTfóbica conhece bem o peso de se sentir desamparado. Sabemos bem como é não ter a quem recorrer.
Há qualquer momento, podemos ser vítima de socos, chutes, pontapés, pedras, xingos e toda sorte de violência nas ruas. Lésbicas, gays, bissexuais, mulheres e homens transexuais e travestis convivem com a perseguição e a violência em todos os espaços.
Somos exterminados todos os dias. Nas ruas. Nas escolas. No trabalho. Dentro de casa. Nas estações do Metrô.
Índio não permaneceu apático frente à violência que aquelas duas pessoas que ele nem conhecia sofriam.
Índio tentou defender o menino homossexual e a moça travesti.
Índio tentou proteger a todos nós da barbárie do dia-a-dia.
Índio pagou com a própria vida pela sua braveza.
Índio foi assassinado pela intolerância.
Certamente, o rapaz homossexual e a travesti o seriam se o ambulante não tivesse intervido. Entrariam para as estatísticas do país campeão em mortes de LGBTs.
Como um homem é assassinado em plena estação do Metrô? Onde estavam os seguranças da estação?
Índio foi assassinado pela intolerância.
São tempos terríveis.
Índio é um dos nossos heróis.
Em tempos de ódio e violência, Índio nos lembrou do poder da solidariedade.
A solidariedade é uma das mais valiosas virtudes humanas.
É pelo desenvolvimento total da solidariedade entre as pessoas e os povos que nós lutamos.
É contra todas as formas de intolerância, preconceito, violência e opressão que nós lutamos.
Se eu fosse católico, faria alguma alusão entre o ambulante morto em defesa daquelas pessoas perseguidas e o aniversariante-ícone daquele dia 25 de dezembro, que – diz-se – foi igualmente morto e perseguido por defender as pessoas oprimidas.
Índio deverá ser para sempre lembrado. Somos honrados por sua grandeza, bravura e coragem.
Índio morreu. Viva, Índio! Índio, presente.
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