Por Morghana Benevenuto, de Porto Alegre, RS
O final da semana que antecedeu o Natal e o inicio dessa foram marcados por acontecimentos tristes e brutais. Acontecimentos que deixam marcas no final de 2016, registrados por muitos como um dos piores, se não o pior ano do século XXI.
Entre a semana passada e essa, um homem que trabalhava como ambulante foi morto brutalmente na estação metroviária em São Paulo por defender uma travesti, um barco que carregava jogadores de Uganda afundou, levando trinta vidas e uma mulher negra de vinte e dois anos foi sequestrada e morta por um casal para que pudessem roubar seu bebê. Todos esses acontecimentos mal foram noticiados pela grande mídia. Os que geraram reportagens na TV brasileira ocuparam poucos minutos nos jornais de grande audiência. E entre as mídias alternativas: várias reportagens, muitas reflexões, mas infelizmente pouco alcance para o tamanho da crueldade desses fatos.
A LGBTfobia MATA:
Luís Carlos Ruas tinha 54 anos, era ambulante e conhecido por muitos como Índio. Ruas estava trabalhando quando viu dois homens correndo atrás de uma travesti para tentar agredi-la, ele então foi defende-la e os dois homens resolveram espanca-lo até a morte. Suspeita-se que Alípio Rogério dos Santos e Ricardo Martins do Nascimento participem de grupos neonazistas pelo tipo de objeto que usaram. Com um soco inglês, chutes e ponta pés espancaram Luís Carlos até morte por tentar salvar uma travesti desse mesmo tipo de agressão. O ódio de Alípio e Ricardo não matou apenas Seu Luís, mas mata a cada 28 horas um homossexual de forma violenta. A morte de Luís Carlos nos comove sim.
Rayanni PRESENTE!
Rayanni era pobre, negra, tinha apenas 22 anos, mãe solteira e esperando o segundo filho. Rayanni precisava de roupas e fraldas para o seu bebê, mas não tinha condições de obter a quantidade necessária além de pouco apoio da família, então conheceu Thainá que sonhava em ter um filho, mas nunca conseguiu e prometia então doar o necessário para o bebê. Infelizmente, Thainá tinha a intenção de sequestrar o flho de Rayanni e como não conseguiu induzir o parto, matou os dois. Uma história brutal e não muito comum.
Porém não é raro encontrarmos mulheres negras na mesma situação de Rayanni, mãe solteira e pobre. O Brasil tem mais de 20 milhões de mães solteiras segundo o Instituto Data Popular, e mais de 60% das famílias sem rendimento são chefiadas por mulheres negras. Rayanni estava só, e como muitas tentou procurar ajudar para sustentar sua família e criar seus filhos já que não tinha apoio da família e nem amparo do estado. Infelizmente seu destino foi brutalmente interrompido, seu e de seu bebê. Por isso, Rayanni está presente!
#ForçaUganda:
A um mês atrás estávamos todos comovidos e tristes com o trágico acidente que ocorreu com o avião que levava o time Chapecoense e repórteres que iriam cobrir o jogo na Colômbia. O avião que levava os jogadores e toda a equipe caiu e tirou a vida de 71 pessoas e praticamente todos os jogadores que estavam indo à Medellín para disputar a final da Copa Sul-Americana. Um mês depois recebemos outra notícia trágica: 30 jogadores que estavam a caminho de uma partida em Hoima morreram em um naufrágio.
Esses jogadores eram de Uganda, país africano pouco ou nada influente para economia mundial e politicamente, onde a tragédia foi noticiada nem falaram o nome dos jogadores ou descreveram um pouco sobre time. A maioria dos corpos estão desaparecidos, o barco tinha 45 pessoas e estava sobrecarregado.
Quase nenhuma divulgação da tragédia que tirou a vida de 30 pessoas, provando mais uma vez que a comoção é seletiva, e selecionam sempre aqueles que são brancos e heterossexuais. Assim como desejávamos força ao time chapecoense para superar, hoje devemos pedir #ForçaUganda.
2016 nos deixou marcado pelas suas tragédias, pelos acontecimentos bizarros e pelos atos revoltantes, mas 2016 não nos calou, vamos continuar nos comovendo por tudo que for humano e revoltando-se contra tudo que for injusto e desigual.
Comentários