EDITORIAL 28 DE DEZEMBRO | A elite brasileira é conhecida pela indecência de seu comportamento social, o mal gosto de seus hábitos culturais e o cinismo de seu discurso público. Mas quando se trata da casta política que a obedece, essas características adquirem traços particularmente grotescos.
O senhor presidente sem voto, Michel Temer, é um exemplar peculiar dessa espécie tupiniquim. Adepto do uso de mesóclises, o velhote disse certa vez, orgulhoso e afetado, que “… sê-lo-ia pela minha formação…”. Sê-lo-ia exatamente o que, cara pálida?
O candidato a coveiro da previdência pública se aposentou aos 54 anos, mas quer que os trabalhadores tenham o mesmo direito só aos setenta, já quando estiverem à beira da morte.
Incitado por uma burguesia sedenta de sangue, Temer exige todo tipo de “sacrifícios” do povo. Pretende, com isso, eliminar “privilégios”. Nada melhor que suprimir os “excessivos” direitos trabalhistas, essas malditas regras que penalizam os pobres empresários, essas vítimas da ganância dos operários.
Mas se o prato para os trabalhadores é servido de pão e água, no avião presidencial “sê-lo-ia” bem diferente. O Palácio do Planalto abriu uma licitação para contratar serviços de alimentação nos aviões que atendem a Presidência da República. O valor total estimado chega a R$ 1,75 milhão. Uma afronta.
Um dos destaques da lista de alimentos solicitados é o creme de avelã da marca Nutella. Segundo o documento, o preço estimado por cada embalagem de 350 gramas é R$ 39,00. Em qualquer loja se encontra o mesmo produto por cerca de vinte reais.
Ante ao escândalo da merenda presidencial, a licitação foi cancelada pelo governo. Outro destaque é o pedido de 500 potes de 100 gramas do sorvete tipo premium da marca Häagen-Dazs, pelo preço de R$ 15,09 cada um. O preço do sorvete também é mais alto do que é possível encontrar nos supermercados.
Quem se surpreende? Temer fez carreira sólida como ardiloso negociante das sombras, como arranjador habilidoso de interesses inconfessáveis da quadrilha de políticos no Congresso. Aquela especializada no assalto aos cofres públicos, da qual o PMDB é o líder inconteste.
Com a benção de Lula – que sempre foi tão generoso com essa gente, embora a recíproca não seja verdadeira -, Temer não hesitou em se aliar ao PT em troca de oferendas gordas do comissariado petista. Mas quando o barco de Dilma começou a afundar “o mordomo de filme de terror” se pôs, gentilmente, à disposição da trama do golpe parlamentar.
Temer resume em sua biografia e personalidade o caráter da classe dominante desse país: Inescrupulosa, traiçoeira, gananciosa e pobre, este último apenas de espírito. O futuro do Brasil passa, definitivamente, por jogar essa classe de imprestáveis na lata de lixo da história. Chegará o dia, mais cedo ou mais tarde.
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