Pular para o conteúdo
CULTURA

O que o 5° Episódio da 3ª temporada de Black Mirror diz sobre os massacres no Oriente Médio

Por: Diogo Xavier, de Recife, PE

Aviso: Este texto contém spoilers, então, depois não está permitido xingar o autor do texto por conta disso.

Vamos começar pelo final do episódio. O soldado Striper está numa cela quando o médico começa a explicar o motivo do porquê é utilizada a máscara: “Precisamos que os soldados vejam monstros e não seres humanos para que possam matar mais facilmente”.

A máscara é, na verdade, um instrumento que desumaniza as pessoas e torna muito mais fácil para o soldado apertar o gatilho. Tanto a visão, quanto os outros sentidos são alterados, retirando inclusive o olfato para coisas simples como a grama.

Estudos comprovam que existe algo intrínseco à espécie humana que faz com que exista uma resistência ao matar outras pessoas. Os dados citados pelo médico são bem precisos, pois a taxa de disparos e de mortes era bem menor.

Os números aumentam muito no pós-guerra, quando os treinamentos passam a levar em consideração os aspectos psicológicos de matar alguém e a quebra da empatia para que mais soldados disparem. Esse treinamento vem aumentando o número de disparos. Na segunda guerra, a porcentagem de disparos era de 15% a 20%, já na guerra da Coreia, cerca de uma década depois, a taxa aumentou para 55% e na guerra do Vietnã ficou em torno de 90% a 95%.

Dave Grossman no livro ‘Matar! Um estudo sobre o ato de matar’ estuda esses percentuais e analisa que quanto for maior a distância com o seu oponente, maior a chance de matá-lo. As barreiras do cérebro são menores se o adversário não tiver proximidade. E é nesse aspecto que o episódio deixa a reflexão sobre os massacres que vêm ocorrendo no Oriente Médio.

Assim como na série, os soldados eram uma tropa estrangeira das superpotências mundiais que viajam para o conflito em uma região que não conhecem, para combater um inimigo desconhecido.

A Síria hoje se tornou um palco de disputa entre dois blocos mundiais protagonizados por EUA e Rússia, que veem o país e sua população como uma peça no tabuleiro de xadrez e não como uma população que tem direito à autonomia perante as suas decisões.

Essa forma de ver as regiões subdesenvolvidas gerou o colonialismo e o neocolonialismo que ainda deixa muitas marcas nos países africanos, por exemplo.

Na outra ponta, está a ideologia burguesa passada através da mídia, com narrativas como a de que os árabes são terroristas. Na série, quando Striper está no buraco sendo atendido pela “Barata”, ele pergunta o porquê de os aldeões odiarem as baratas e ela responde: “Eles foram ensinados assim, aprenderam a nos odiar”.

O papel que a mídia vem cumprindo é de generalizar um povo e também uma religião para os subjugar, com a justificativa de serem inimigos da democracia, ou ameaças à paz mundial. Essa movimentação contra os árabes é antiga, mas ganha um contorno mais forte após o ataque as torres gêmeas em 2001 pela Al- Qaeda, e com a criação do Estado Islâmico aumenta-se ainda mais.

A ideia de que os árabes são todos terroristas tem possibilitado massacres e bombardeios constantes que, quando não são feitos diretamente pelas potências globais, são estimulados por elas, vide o que a Arábia Saudita tem feito no Iêmen desde 2015 com o consentimento e apoio dos EUA. A guerra tem continuado e destruído milhões no Oriente Médio. Os refugiados são a parte mais visível desse problema, pois é quando o fruto dessas guerras chega nos países centrais da Europa.

Fica evidente que essa crise de refugiados se dá por conta dessas guerras e massacres. São pessoas fugindo de zonas de conflito para não morrerem e, ao chegarem em locais que deveriam ser seguros, são tratados como criminosos, ou terroristas.

Os dois braços da ideologia atuam conjuntamente. Os ataques para matar um povo e a ideologia para fazer com que a população rejeite a vinda dessas pessoas. Este episódio da série se passa num futuro não muito distante, o que o torna mais próximo e factível em diversos locais do globo. Por isso, é necessário lutar contra essa ideologia que empurra os povos árabes como inimigos, jogando a classe trabalhadora contra ela mesma. Esse trabalho da burguesia nos afasta. Portanto, é necessário lutar contra as intervenções militares do Haiti, até a Síria.

Reprodução: Black Mirror