Por: Gleide Davis, colunista do Esquerda Online
Sempre que debato em espaços virtuais a respeito de raça e classe, surge o termo “capitalismo negro” para uma possível solução e fim do racismo sem que haja algum horizonte de mudança sistemática, em que se pese exista nos defensores da teoria a clara intenção de mudar radicalmente a figuração do racismo na sociedade, “invertendo os papéis” de quem controla e de quem é controlado pela economia. Para os defensores do capitalismo negro, a ideia é muito simples: devemos produzir o empreendedorismo negro, vendendo e consumindo apenas do que é apresentado por pessoas negras.
O debate do capitalismo negro soa utópico quando lembramos que os grandes meios de produção se encontram atualmente na mão de homens brancos, meios estes que são extremamente vitais (indústria alimentícia, têxtil), e que, mesmo na existência de pessoas negras nas grandes elites, estas ainda fazem parte de uma minoria seleta que se convém nos interesses da maioria burguesa.
Para Landon Williams, “Ao lidar com o capitalismo negro, ou o pouco disso que temos experienciado nesse país, vemos que antes da guerra havia pequenos capitalistas negros nesse país. Esses capitalistas negros de certa forma desfrutaram de alguns benefícios e privilégios desse país enquanto eram chamados de homens libertos e, como tal, poderiam possuir escravos e propriedades. (…) Durante a guerra civil, quando Norte e Sul supostamente lutaram para libertar os escravos, constatamos que alguns desses capitalistas negros de fato lutaram ao lado dos confederados para ajudar a manter a exploração sobre os irmãos negros. Então, quando pessoas negras veem palavras como “capitalismo”, isso deveria assustá-las”.
É importante que tenhamos em mente que o capitalismo se edifica basicamente na ideia do liberalismo e meritocracia para se sustentar tal como é. Por isso, é quase impossível entendermos o capitalismo como libertador de um gênero social, seja ele feminino, negro ou LGBT, até porque o capitalismo não é beneficiador de pessoas brancas, mas de pessoas burguesas que atendem aos seus interesses, ignorando completamente ao coletivo majoritário.
A classe mais explorada na sociedade é claramente negra e feminina, temos atualmente 70% das famílias mais pobres na sociedade chefiadas por mulheres negras, cerca de 90% de mulheres transexuais em situação de prostituição por não encontrarem espaço no mercado de trabalho, e um número expressivo de genocídio da população negra e LGBT. Portanto, temos que entender que a solução do inimigo burguês não nos pertence, porque o inimigo não nos dará armas para nos defender deles. A mudança é sistemática, a mudança só se dará através do coletivo. Para tirarmos as milhares de irmãs e irmãos da situação de fome e miséria extrema é preciso reverter a situação, não apenas pela raça, mas também através da classe.
Merecemos muito mais do que ver pessoas negras possuindo bens que não podemos ter acesso, a nossa classe merece ter tudo aquilo que produz.
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