Por: Gabriel Santos, de Marechal Deodoro, AL
Faltam algumas semanas para 2016 chegar ao fim. Esse ano vai embora sem deixar saudades. Existem dias que valem por semanas, assim como existem anos que parecem décadas, e 2016 foi um desses anos. Teve de tudo um pouco, até o Grêmio campeão. Realmente, que ano do cão foi esse?
No maior país da América do Sul, um presidente eleito democraticamente sofre um Golpe. O governo golpista já mostrou que veio para atacar os direitos dos trabalhadores e fazer com que estes paguem pela crise econômica. Na linha de frente contra os golpistas, milhares de jovens, que vão às ruas e ocupam seus locais de estudo. Existe resistência.
Do outro lado do mundo, um povo segue com as armas em punho, lutando por liberdade contra uma feroz ditadura. Porém, essa não é a única inimiga. Lutam também contra o imperialismo, que segue bombardeando seu país. E contra um grupo religioso paramilitar, que utiliza métodos fascistas e segue avançando sobre os territórios e conquistando poços de petróleo.
Falando em fascismo, esse ganha força em vários países do Velho Continente. O discurso xenófobo e conservador tem possibilidades eleitorais na França e já conquistou resultados importantes na Alemanha, Áustria e Hungria.
No coração do Império, uma figura que lembra um palhaço assassino dos filmes de terror vai comandar o país mais poderoso do mundo, anunciando que pretende construir uma fronteira com o México.
É, 2016 não foi fácil, mas óbvio, não é fim de tudo. Afinal, 2017 está logo ali. É preciso afirmar que nós estamos em desvantagem. Aqueles que lutam por um mundo mais justo e igualitário estão, até agora, perdendo esse jogo. Vamos ter que correr atrás do placar. Ainda temos tempo para virar a partida.
Em 2016, também teve coisas animadoras. A já citada luta dos estudantes brasileiros; o levante feminista contra a cultura do estupro em diversos países da América Latina, expressado nas palavras “Ni Uma a Menos”; as manifestações de trabalhadores dos mais diversos povos europeus em solidariedade aos imigrantes, expressados nas palavras “Nenhum ser humano é ilegal”. O ano de 2016 mostrou que não é fim, que a luta de classe segue seu fluxo.
Após o processo de reestruturação produtiva, o avanço da ideologia neoliberal e o fim dos Estados Operários Deformados, no Leste Europeu, um economista nipo-estadunidense, Francis Fukuyama, afirmou que havíamos chegado no Final da História. Que o capitalismo venceu e agora era tempo do consenso do modelo liberal-democrático. O ano de 2016 mostrou que não existe nada mais falso que a afirmação deste japonês-norte-americano metido. A realidade é bem diferente de um final da história.
A farsa liberal que vendeu ao mundo o modelo liberal-democrático veio abaixo. Palavras como “revolta”, “revolução”, “rebelião popular”, “insurgência” estão de volta e cada vez mais presentes no linguajar das novas mobilizações sociais. A farsa do fim das utopias foi desmascarada e elas estão voltando com tudo. A campanha de Marcelo Freixo e do PSOL para a Prefeitura do Rio de Janeiro, com o slogan “Sonhos Podem Governar”, foi um exemplo disso.
O sistema capitalista mostra toda sua irracionalidade. As promessas de paz e estabilidade não podem ser cumpridas no atual modelo de reprodução social. Como falar de liberdade quando vemos uma feroz ditadura reprimindo o povo Sírio? Quando vemos a luta dos palestinos pela autodeterminação nacional, e contra o Estado assassino de Israel? Como falar de igualdade, quando vemos as condições a que os negros estão submetidos no Brasil e nos Estados Unidos? Onde somos assassinados pela polícia numa guerra nada silenciosa?
A crise financeira de 2008 ainda tem seus ventos soprando cada vez mais fortes. Os governos de todo o mundo socorrem as instituições financeiras responsáveis pela crise econômica. Isso, ao mesmo tempo em que realizam uma sangria e destroem o Serviço Púbico, realizando um festival de privatizações. Em todos os cantos, governos implementam um feroz Ajuste Fiscal que atacam os direitos trabalhistas, a Previdência Social. E tudo isto para garantir o pagamento da dívida pública para enriquecer os bancos.
A crise econômica escancara que a casta política não está nem aí para o povo. Cada vez mais atoladas na corrupção, os políticos tradicionais implementam um regime de servidão. Os bancos são escolhidos ao invés das pessoas e a austeridade é escolhida como única resposta possível para estancar a crise.
O governo vende a ideologia, facilmente comprada pela grande mídia, de que o único meio de sair da crise é fazer novos sacrifícios. Sacrifícios esses que somente o povo pobre deve fazer. Tudo aquilo que é público vem sendo privatizado. As políticas públicas e sociais vêm sendo destruídas. Aqui no Brasil, a PEC 55 é a prova disso tudo. Os trabalhadores cada vez mais vêm sendo condenados à fome e ao desemprego.
Os ricos e poderosos, o 1% da população, causaram esta crise, e agora, querem que nós paguemos por ela. Para realizar isto, eles mudam governos e deixam claro que a democracia atual é cada vez mais vazia de conteúdo. Uma democracia para os ricos, e eles podem quebrá-la, sempre que quiseram. Para nós, resta o voto de quatro em quatro anos. Na verdade, a atual democracia é uma ditadura dos poderosos, eles mandam e desmandam, quando e como quiserem. É uma ditadura do setor financeiro. Para aqueles que se manifestam, restam as bombas e a repressão da polícia.
É preciso dizer que esta democracia atual não nos serve, é preciso reinventá-la. A atual está controlada pela lógica do setor financeiro. Precisamos de uma democracia real. Uma democracia que responda às necessidades do povo trabalhador. Que realize uma reforma agrária e urbana. Que coloque a democratização da mídia. Que não pague a dívida pública. Que coloque o central em pauta, que é a questão de Poder.
Afinal, quem tem o Poder? Não somos nós, o povo trabalhador. O poder político esta na mão daqueles que detêm o poder econômico. O Estado é usado para interesses privados, que vão contra a maioria da população. É possível um Estado que sirva ao interesse do povo pobre e trabalhador? Para que este Estado seja possível, e que tenhamos uma democracia real, é preciso reverter a lógica do Poder, tanto político, quanto econômico. Os trabalhadores precisam tomar a rédeas da produção, da economia e da política.
Diante disso, é preciso dar nomes aos bois. A atual crise econômica é uma expressão da crise do capitalismo, que é a crise da humanidade. Este sistema e sua busca incansável pelo lucro, que fermenta o consumismo e transforma tudo em mercadoria, não serve mais. A fome, o desemprego, as guerras, a destruição de países inteiros, tudo isto é causado pelo capitalismo. Um sistema que coloca os interesses individuais acima dos bens, das necessidades, e dos serviços coletivos, não serve. Um sistema que cria impactos ambientais gigantescos, não serve. Um sistema onde 1% da população explora os outros 99%, não serve. Um sistema que mata, não serve. É preciso superar este sistema, justamente porque ele não serve mais para o desenvolvimento da humanidade.
Para isso é preciso, antes de tudo, reinventar a utopia. Talvez, a maior de todas, uma sociedade socialista. Não falo aqui da caricatura de uma sociedade socialista, coisa que o stalinismo fez. Socialismo sem Liberdade não é o socialismo. A palavra socialismo, que soa tão bonito nas bocas dos sonhadores, precisa ser colocada em pauta novamente, saindo, assim, da esfera meramente acadêmica. Mas, não que o socialismo vai vir amanha. Um futuro socialista não está na próxima esquina. Mas sim, porque este futuro é, ou deveria ser, o projeto estratégico dos lutadores sociais. Como afirmou Rosa Luxemburgo, o futuro será ou socialismo, ou a barbárie.
Se todos nossos problemas são oriundos deste sistema capitalista, por que não lutamos para derrubá-lo e trocá-lo por outro?
Para os trabalhadores, para os jovens, para as negras e negros, para as mulheres, para as LGBTs, para as imigrantes, aquilo que o futuro dentro do capitalismo reserva não é nada animador. É mais e mais ajuste fiscal, mais e mais retiradas de direitos. Para estes, não resta alternativa que não seja seguir em luta contra os governos e restaurar as causas perdidas.
É preciso criar um movimento anticapitalista, que rompa com as velhas conciliações de classe e unidade nacional, que no fim só serve aos ricos. A saída é pela esquerda. É possível que surja um movimento radical, antiliberal, enraizado nas ruas, praças, locais de trabalho e bairros populares, e que seja capaz de mudar as coisas. Olho sim ao futuro com otimismo, não um otimismo cego. Mas, com um otimismo daqueles que confiam na mudança e na força da mobilização popular. Pois, afinal, amar e mudar as coisas nos interessa mais.
2017 está logo ali, a luta de classes não vai parar. Os 1% vão querer ficar cada vez mais ricos e jogar a crise econômica para os trabalhadores pagarem. Os governos vão ajudar os poderosos. E quanto a nós, vamos seguir nas ruas, em marcha, sem dar nenhum passo atrás, espero. Cada vez mais será preciso se organizar. Se nos atacam de forma coletiva, precisamos resistir e nos organizar de forma coletiva. Construir coletivos e partidos da esquerda radical.
Como diria Belchior, esse ano eu morri, mas no próximo não morro. É preciso arrancar alegria ao futuro. De um futuro que seja de luta, revolucionário e socialista.
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