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EDITORIAL

Delação da Odebrecht aponta o fim da linha para Temer e esse Congresso

EDITORIAL 11 DE DEZEMBRO | Doações ilegais de campanha e compra de votos de parlamentares pela empreiteira demostram que o único caminho aceitável, em nosso país, é a convocação imediata de eleições gerais, com novas regras

No momento em que o governo ilegítimo de Temer e a maioria corrupta e reacionária do Congresso se preparavam para aprovar definitivamente a PEC 55 e começar a discutir a famigerada reforma da previdência, começou a ser divulgado pela grande imprensa trechos da delação premiada de executivos da Odebrecht – já conhecida como a “delação do fim do mundo”.

Até o momento, veio a público apenas informações de dois altos funcionários da empresa e a “tempestade política” já é gigante. Porém, se fala que mais de 70 executivos poderão fazer este tipo de depoimento.

Somente por estas informações, pode se falar que só a Odebrecht “doou” cerca de 88 milhões de reais a políticos, apenas nos últimos anos. Praticamente todos os “grandes” partidos com assento no Congresso possuem políticos envolvidos, especialmente o PMDB, DEM, PSDB, PSB, PR, PP, entre outros da atual base de sustentação do governo ilegítimo de Temer. Mas, o PT também tem vários políticos importantes na lista, até políticos do PCdoB aparecem.

Por exemplo, na Bahia, sede da empresa, Jaques Wagner (ex-governador petista) e o atual governador Rui Costa (também do PT) foram os principais “agraciados” pelas doações ilegais de campanha, e até o deputado federal e um dos principais dirigentes do PCdoB baiano, Daniel Almeida, recebeu altas quantias através do caixa 2 de campanha.

O depoimento de Claudio Melo Filho, alto executivo da construtora, dedica um capítulo especial a Michel Temer, o atual presidente é citado, nada mais nada menos, 43 vezes nesse depoimento. O fato que mais chama a atenção é uma reunião entre Michel Temer e seu fiel seguidor,  Ministro Eliseu Padilha, com Cláudio Melo Filho e o próprio Marcelo Odebrecht (herdeiro da empresa e atualmente preso), dentro do Palácio Jaburu, residência oficial do vice-presidente da república, para pedir financiamento as campanhas eleitorais do PMDB em 2014, através de caixa 2.

Pelo depoimento, só essa reunião rendeu uma doação ilegal de 10 milhões de reais para os cofres da direção do PMDB. Sendo que 6 milhões só para a campanha de Paulo Skaf, presidente da Fiesp, e naquele momento candidato do PMDB ao governo do estado de SP.

Mas, o depoimento atinge também, e em cheio, o Congresso Nacional. Renan Calheiros (PMDB-AL), atual presidente do Senado (réu também em processo de Peculato), e Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, estão citados, com altas quantias de doação ilegal de campanha. Agora podemos entender todo o esforço de deputados e senadores em tentar anistiar os crimes de caixa 2.

Outra informação que chama muito a atenção é que 28 milhões de reais, sempre segundo o depoimento, foram utilizados diretamente para compra do apoio de influentes senadores, deputados federais e membros do Executivo, para que apoiassem e trabalhassem para aprovação de projetos de lei e medidas provisórias de interesse comercial da Odebrecht. Nesta lista, constam os principais “figurões” do PMDB, como Renan Calheiros, Eliseu Padilha, Moreira Franco, Romero Jucá, Geddel Vieira, entre outros. Mas, não fica só no PMDB, também o PSDB, DEM, PT, entre outros partidos, entraram nesse negócio de trocar o voto pelo financiamento da Odebrecht. Uma vergonha!

Em outro depoimento, de um alto executivo da empresa no Estado do Rio de Janeiro, Leandro Azevedo, aponta o financiamento ilegal de campanhas da verdadeira “quadrilha” que foi montada em torno do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), atualmente preso. Aparecem na lista o atual governador e seu vice, Pezão e Dorneles, e o atual prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Além dos atuais governantes corruptos do RJ, aparecem também na lista de doação ilegal de campanhas o casal Garotinho (PR-RJ) e também membros influentes do PT.

Sem depositar nenhuma confiança na operação lava Jato, que longe de querer limpar a política brasileira da corrupção, quer dar uma saída reacionária para a crise, o que assistimos, nesse momento, é o fato da “sujeira” ser tão grande que não havia mais como poupar nenhum dos principais partidos do Congresso.

Na verdade, já existe um setor importante da burguesia brasileira que trabalha com a hipótese da saída Temer, para que assuma um governo que não ameace, com sucessivos escândalos de corrupção, a aplicação do ajuste fiscal e das reformas reacionárias.

Datafolha: 63% pedem renúncia de Temer e novas eleições

O Jornal Folha de SP divulgou na sua edição de hoje, a nova pesquisa de opinião do Datafolha, com dados recolhidos ainda antes que o noticiário divulgassem trechos da delação premiada de executivos da Odebrecht. Os números falam por si.

Para 63% dos entrevistados a saída para a crise política brasileira seria a renúncia de Temer e a convocação de novas eleições para presidente; 51% dos entrevistados consideram seu governo ruim ou péssimo; a maioria dos entrevistados considera Temer falso (65%), um defensor dos ricos (75%) e desonesto (58%); 40% dizem que Temer faz um governo ainda pior que o de Dilma; e 34% consideram os dois governos iguais.

Acreditamos fielmente, que caso a pesquisa perguntasse a população brasileira sobre sua avaliação dos atuais senadores e deputados federais, o resultado seria ainda pior.

Os vazamentos iniciais da delação premiada da Odebrecht e a nova pesquisa do Datafolha são mais duas demonstrações incontestes que é necessário a convocação de eleições gerais em nosso país, com novas regras, e imediatamente, não podemos esperar 2018.

O governo ilegítimo de Temer não se sustenta depois de tantas evidências de seu envolvimento pessoal em esquemas de corrupção do PMDB; o Congresso também não tem nenhuma condição de se manter, afinal são mais de 300 deputados que tiveram suas campanhas financiadas por empreiteiras ligadas a esquemas de corrupção e a cúpula do Senado está ligada a venda de votos para aprovar projetos de interesses de grandes empresas.

Será inaceitável qualquer saída que passe por tirar Temer da presidência e realizar eleições indiretas para substituí-lo, ainda mais uma escolha de um presidente realizada por esse congresso corrupto e reacionário.

A esquerda socialista deve intensificar sua luta contra o ajuste fiscal e as reformas reacionárias, ao lado de uma forte campanha em defesa de eleições gerais, imediatas e com novas regras. De nada adianta assumir uma bandeira que chame de forma genérica a saída de todos, não podemos diluir a tarefa concreta e atual de questionar a legitimidade do mandato de Temer e dos parlamentares do Congresso Nacional. Seria insuficiente também pedir somente a saída de Temer, afinal hoje é facilmente comprovável que a esmagadora maioria desse Congresso não tem mais condições políticas e morais de continuar seu mandato.

Devemos chamar todas as centrais sindicais e entidades dos movimentos sociais e da juventude que assumam desde já essa campanha. Devemos intensificar a convocação do dia 13 de Dezembro, data prevista para a votação em segundo turno, no Senado, da PEC 55, já existem atos sendo organizados por todo o Brasil. Precisamos apontar a construção de um dia nacional de lutas contra o ajuste fiscal, as reformas reacionárias e por novas eleições gerais já em nosso país. A entrada organizada dos trabalhadores e da juventude é fundamental para disputarmos os rumos da crise política, econômica e social do Brasil.

Defendemos eleições gerais já, com financiamento público de campanha, com teto de gastos de campanha bem inferior aos atuais e sem financiamento privado de campanha, tanto de empresas como de grandes empresários; também com igualdade no tempo de TV, Rádio e na cobertura da grande mídia para os candidatos e partidos, com revogabilidade de mandatos dos políticos corruptos e que não cumpram suas promessas de campanha, entre outras medidas que busquem diminuir a desigualdade dos processos eleitorais atuais.

No calor da luta, devemos construir e fortalecer uma nova alternativa da classe trabalhadora, da juventude e do conjunto dos explorados e oprimidos. Uma verdadeira Frente de Esquerda e Socialista, que defenda o Fora Temer e negue os partidos da velha direita, mas também seja uma superação completa do projeto do PT de conciliação de classes com as grandes empresas e bancos.