Por: Carlos Zacarias, de Salvador, BA
Figura fácil na política baiana, Geddel Viera Lima tem ainda maiores ambições no plano nacional. Não é por outro motivo que agora é o pivô do mais novo escândalo do desgoverno de Michel Temer. Com a queda do ministro da Cultura Marcelo Calero, que responsabilizou o todo poderoso ministro chefe da Secretaria de Governo de Temer de fazer pressão para liberação de uma construção de um empreendimento embargado pelo IPHAN nacional, Geddel se move na política como um elefante em uma loja de cristais.
No recente episódio, Calero alega que o baiano lhe telefonou para pedir a liberação da obra, um prédio de 30 andares numa das áreas mais nobres de Salvador onde o ministro tem um apartamento. O embargo da obra atende a um princípio definido pela legislação, que define com o máximo de dez andares o gabarito das construções na região, uma das mais visadas pela especulação imobiliária. Pelo que disse o ministro demissionário, o todo poderoso Geddel ameaçou ir a Temer para pedir a cabeça do presidente do IPHAN, caso a questão não fosse resolvida a contento.
Pelo que se viu até aqui, e pelo muito que pode ser ainda revelado, há mesmo algo de muito podre em Brasília, e Geddel Vieira Lima não está em cena por acaso. Desde tempos remotos, o peemedebista baiano, que nunca mudou de partido, vem se envolvendo em escaramuças ligadas à corrupção e à malversação do dinheiro público. Ainda na década de 1990, foi implicado no escândalo dos Anões do Orçamento por sua ligação com João Alves, principal personagem do esquema de deputados que apresentavam emendas ao orçamento a soldo de empreiteiras e outras empresas interessadas no dinheiro público. Geddel não chegou a ser condenado, e seguiu sua carreira de deputado sendo eleito para sucessivas legislaturas no Congresso Nacional.
Como deputado, Geddel, típico político do PMDB, se acostumou a nadar com a correnteza. Por conta disso foi um dos principais articuladores do golpe que derrubou Dilma Rousseff em 2016. Atuando em Brasília através do irmão Lúcio Vieira Lima, Geddel, que estava sem mandato, logo se cacifou para ocupar um importante ministério ligado à difícil articulação política do impopular e ilegítimo governo Temer. Nesses poucos meses, Geddel protagonizou episódios que o tornam um aliado incômodo de um governo odiado pela maioria dos brasileiros. Ainda em maio, ao responder a uma internauta que lhe perguntou, pelo twiter, sobre qual a sensação de assumir um cargo no Executivo sem voto popular, Geddel foi taxativo ao dizer que a sensação era “gostosa”. Mas que não se pense que Geddel foi sempre golpista e opositor do PT.
Na Bahia, Geddel transitou desde o carlismo até as franjas do lulismo na virada do século. Depois de romper com ACM na altura em que o chefe político baiano teve que renunciar por ter violado o painel do Senado, Geddel se aproximou de Jaques Wagner nos anos 2000, ajudando a eleger o novo cabeça branca da Bahia com o espólio do mandonismo carlista no interior do estado. Na altura da ruptura com ACM, Geddel se meteu em uma situação inusitada, ao adentrar ao salão nobre da reitoria da UFBA ocupado por centenas de estudantes e trabalhadores que pediam a cassação do Malvadeza. Geddel foi escorraçado quando alguém notou a sua presença e puxou “É ou não é/piada de salão/Geddel Vieira Lima/Contra a corrupção”. A cena, descrita pelos presentes como catártica, sinalizou para um sentimento corrente entre a vanguarda que não via nenhum tipo de afinidade com o político peemedebista, herdeiro das oligarquias locais.
Não obstante, como prêmio pela sua dedicação para eleição de Jaques Wagner em 2006, Geddel ganhou do governo Lula o Ministério da Integração Nacional, ocupando o cargo até 2010. Como ministro de Lula, o peemedebista rompeu com Wagner no estado e ainda ajudou a reeleger o odiado prefeito João Henrique ao executivo municipal. A reeleição só foi possível em função do fato de que o Ministério, comandado por Geddel, destinou milhões de reais em recursos para a capital baiana para que o prefeito fizesse uma enorme maquiagem para diminuir a sua impopularidade. Depois se soube que não apenas Salvador foi desproporcionalmente beneficiada em função de interesses eleitorais, como várias outras cidades do estado, que abocanharam cerca de 90% das verbas da pasta da Integração Nacional.
O resultado da investida de Geddel em Salvador ajudou a eleger aquele que era considerado o pior prefeito do Brasil, derrotando a candidatura petista de Walter Pinheiro, rifada em função dos acordos nacionais do PT com o PMDB, algo que contribuiu para a saída de Pinheiro da legenda petista em 2016. Com a manobra, também se garantiu o renascimento do DEM, pois se evitou que o PT, que governava o estado, tivesse alguma chance de eleger o prefeito de Salvador nos anos seguintes (ACM Neto foi eleito e depois reeleito com o apoio de Geddel).
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