O contraste na cidade: a Batalha da Galeria
Publicado em: 20 de novembro de 2016
Por: Elber Almeida, do ABC paulista, SP.
Quarta matéria da série sobre as batalhas de RAP no Grande ABC Paulista. Desta vez a parada é em São Caetano.
São Caetano do Sul é a cidade com o Índice de Desenvolvimento Humano mais alto do grande ABC paulista e um dos mais altos do país. A cidade tem uma população com renda média mais elevada que a do restante da região, basta atravessar suas fronteiras para perceber que há uma qualidade maior em seus equipamentos públicos.
Poderia ser o cenário perfeito para a juventude desenvolver suas potencialidades artísticas e culturais. Mas não o é. A cidade que carrega a fama de ser a mais desenvolvida do ABC, também tem a de ser a mais conservadora. A desigualdade social existe como em todo o país, o desemprego e o trabalho precário também e a repressão policial é uma constante. Uma das saídas encontradas por parte dos que sofrem nesta realidade foi a fundação da Batalha da Galeria, que já está em sua 151ª edição.
Uma das batalhas mais tradicionais do ABC, ela chega a ter mais de 50 envolvidos. A concentração começa às 20:00 horas e a ameaça de chuva não a impede. Próxima ao terminal rodoviário da cidade, está em estado de ocupação permanente segundo um de seus organizadores, Kbeça.
A repressão policial, que tem como uma das autoras a Guarda Civil Municipal, é constante. Na edição anterior a GCM tentou impedir a batalha, utilizando gás de pimenta, porém, os presentes resistiram deslocando-se e fizeram acontecer até o final. Um dos organizadores conta que naquela noite um jovem MC que acabava de começar na batalha se sentiu acuado e não voltou a batalhar, o que mostra que tal tipo de repressão também tem como serventia impedir o desenvolvimento de talentos.
O direito ao uso da praça pública é reivindicado pelos participantes que vem de diversas vilas do ABC e Grande São Paulo. Nessa cena cultural, muita coisa está em debate. Por exemplo, Kbeça coloca como necessidade o Hip Hop se movimentar para dar mais liberdade para as minas, que possam rimar, deixando o lado patriarcal que ainda marca a cultura.
Após as eliminatórias o vencedor foi Rusty Room, já conhecido nas rinhas do ABC e vencedor da edição anterior em que garantiu vaga na disputa do II° Festival de Resistência da Matrix, no próximo sábado. Em sua final com o MC Sajo, utilizou trocadilhos relacionados à política, no caso à operação Lava Jato, além de elementos do repente nordestino, o que contribuiu para sua vitória e mostrou que o Hip Hop é uma arte que dialoga com as outras.
A batalha já deu frutos, como o lançamento de alguns MC’s que começam a lançar trabalhos na região, inclusive o grupo Lábia Sapiens MC’s que tem como um de seus membros Kbeça. Além disso, há a vitória de manter por muito tempo a luta pelo direito do público usar o espaço público. Costuma atrair MC’s e público de outras cidades do ABC e Região Metropolitana, disseminando a cultura periférica no centro da cidade que fingir não ter periferia.
Agradecimentos a todos MC’s e à organização pelas entrevistas concedidas, pela ótima recepção e paciência!
1# Batalha da Pistinha
2# Batalha da Praça
3# Batalha da Vila Luzita
Confira aqui o mapa das batalhas de rap no ABC.
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