Pular para o conteúdo
EDITORIAL

Um pouco mais sobre o PMDB

O Partido do Movimento Democrático Brasileiro nunca ganhou uma eleição para a Presidência da República. No entanto, teve nos últimos 30 anos 3 presidentes não eleitos.

O primeiro foi José Sarney, que assumiu a presidência em 1985, depois da morte de Tancredo Neves. Sarney era recém filiado ao PMDB, sua origem era o PDS, partido que sucedeu a ARENA, Aliança Renovadora Nacional.

Portanto, o primeiro Presidente da República do PMDB tinha recém saído do partido da ditadura militar, cuja finalidade, quando criado em 1965, era dar sustentação ao golpe de 64.

O segundo foi Itamar Franco, vice de Collor. Itamar era do PRN, mas filou-se ao PMDB já em meio à enorme crise de popularidade de Collor.

O terceiro é Michel Temer, vice de Dilma e articulador do golpe parlamentar. A conversa entre Romero Jucá, senador do PMDB, e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro ligado ao partido, não deixa margens para a dúvida: o PMDB organizou o “bloco do impeachment”.

Quando não ocupou a Presidência pela via indireta, o PMDB conferiu sustentação política aos governos do PSDB (FHC) e do PT (Lula e Dilma), ocupando cargos centrais na administração pública e garantido maiorias parlamentares.   

O grande acordo
Na elucidativa conversa, Sério Machado apresenta a proposta: “Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel”. Romero Jucá concorda: “Só o Renan que está contra essa porra. Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra”.

Assim, foi aplicada a solução mais fácil: golpe parlamentar. Temer Presidente e Eduardo Cunha cassado. A contrapartida ao capital financeiro era aprovar o ajuste fiscal. Foram 367 votos para o impeachment e 366 votos para a PEC 241. Esta é a matemática da estabilidade parlamentar de Temer.

O recado é nítido: governa quem tem mãos firmes para aplicar o ajuste fiscal e as contrarreformas.

O PMDB carioca
Eduardo Cunha, o homem morto, cassado com os votos do seu próprio partido após o impeachment, era Deputado Federal pelo Rio de Janeiro. O paraíso do PMDB se tornou em um inferno.

O partido de Michel Temer governa o Estado do Rio de Janeiro há mais de dez anos. Com apoio decisivo do PT, foi construído um projeto baseado em grandes obras e grandes eventos. Comperj, PAC das Favelas, Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas. Com a crise econômica, porém, o plano entrou em colapso.

O PMDB do Rio não foi poupado. Entre os fatores fundamentais para isso está o imenso déficit fiscal do estado e a crise gerada entre o Governo Estadual e a Assembleia Legislativa. Ao contrário de Temer, Pezão não teve maioria na Alerj para aplicar seu duríssimo pacote de austeridade.

O próprio Jorge Picciani, ex-aliado de Pezão e presidente da Alerj, e não por acaso filiado ao PMDB, se transformou num crítico da administração de Luiz Fernando Pezão. A crise política está instalada “dentro de casa”. Incapaz de gerir o estado do Rio de Janeiro em tempos de crise, o PMDB carioca converteu-se na “bola da vez” de Sérgio Moro.

É evidente que Cabral merece ser preso. Além de burguês, é corrupto. Mas, não é apenas por isso que ele está em Bangu. Para quem pensa que tudo isso é uma teoria da conspiração e que a Lava Jato não tem nada a ver com o  ajuste fiscal, basta ver a decisão de Moro e os fundamentos da prisão de Cabral: “Essa necessidade [da prisão] faz-se ainda mais presente diante da notória situação de ruína das contas públicas do Governo do Rio de Janeiro”.

O futuro do PMDB
O futuro da cúpula do PMDB é imprevisível. Será que Cunha e Cabral vão falar tudo o que sabem? Vão envolver Michel Temer? Será que a Lava Jato seguirá adiante e chegará até o presidente golpista? A cúpula do PSDB, até agora preservada, terá seus esquemas desvendados, ou seguirá blindada?

Pode-se arriscar hipóteses, mas não é possível traçar um cenário seguro. A Presidência da República e o Congresso têm alta rejeição, o que é bom para os de baixo. Porém, o Judiciário está bastante forte e começa a ocupar o espaço político aberto de forma cada vez mais autoritária, o que é muito ruim. Todos os de cima têm interesse no ajuste fiscal e nas contrarreformas que retiram direitos, qualquer que seja seu alinhamento ideológico. Este ponto unifica todos eles, dos juízes incorruptíveis aos ladrões cariocas. Contra a ofensiva da classe dominante, é tempo de organizar a resistência.

Foto: Site Luciana Genro

Marcado como:
fora temer / pmdb / temer