Por: Vicente Saraiva, do Rio de Janeiro, RJ
Recentemente comemorou-se no Museu Nacional de Belas Artes os 200 anos da Escola de Belas Artes da UFRJ (EBA). Enquanto ilustres convidados comemoravam no evento, estudantes se organizaram para realizar uma performance demonstrando seu luto. A Escola que fora arbitrariamente exilada pela ditadura militar no campus do Fundão para sair do centro político da cidade, está há décadas de forma temporária no prédio da Reitoria da UFRJ. É sobre este prédio que esta crônica vai se debruçar.
Na noite do dia 3 de outubro um incêndio tomou o 8º andar do histórico prédio da Reitoria da UFRJ. Fruto do sucateamento sucessivo de diversos governos, a tragédia anunciada se concretizou deixando mais de 4200 alunos sem aulas por 43 dias. Diante disso e da iminência da votação da PEC 55 no Senado Federal, cerca de 1000 estudantes em assembleia deliberaram por ocupar a Reitoria da UFRJ e outros campi para se fazer ouvir. O #OCUPAUFRJ já dura 2 semanas realizando debates, atividades culturais e agitando o campus e as comunidades do entorno a se posicionarem contra a PEC e pelo envio da verba para a reforma do prédio incendiado.
Após muitas idas e vindas, na última quarta-feira estava finalmente marcada a volta às aulas. A saída apresentada pela reitoria foi pulverizar os cursos da EBA e de Gestão Pública (GPDES) por diversos prédios do campus do Fundão, enquanto os estudantes de artes e da Faculdade de Arquitetura (FAU) se apertavam em salas de aula no corredor, debaixo de goteiras e sem estrutura adequada. Centenas de estudantes desnorteados chegaram para ter aula no prédio que se encontrava em estado de calamidade.
Instaurou-se, finalmente, às 9h30 da manhã uma assembleia histórica. Com a presença de mais 500 estudantes, articulou-se a resistência ao sucateamento do nosso futuro. Na parte da tarde outra assembleia, dessa vez com a presença também de professores, selou um pacto entre os segmentos da universidade em defesa da arte, da arquitetura e da educação pública. Professores se dispuseram a repensar as aulas a serviço da mobilização e alunos se dispuseram a ampliar a ocupação para todo o prédio da Reitoria. A deliberação mais importante deste dia foi a suspensão do calendário acadêmico até que se pense condições mais dignas de ensino.
Os próximos capítulos desta saga temerosa ainda estão em aberto. Mas uma certeza temos: os 200 anos da Escola de Belas Artes e os 70 anos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo não foram em vão. Diante de incertezas e indignação a educação pública resiste.
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Foto: Capa do Facebook do CAEBA
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