EDITORIAL 16 DE NOVEMBRO – Estima-se que mais de 10 milhões de africanos foram trazidos como escravos ao Brasil, entre meados do século XVI e meados do século XIX. Esse sequestro fez do Brasil o país com a maior população negra fora do continente africano e é decisivo para entender as nossas atuais desigualdades sociais.
Não somos o país da democracia racial como afirmado nas teses de Gilberto Freire, requentadas atualmente pelos neoliberais. Pelo contrário, a formação e desenvolvimento do capitalismo brasileiro aconteceram sobre o suor e sangue de milhões de africanos retirados da terra natal e escravizados, assassinados, violentados e humilhados. O Brasil foi o último país das Américas a acabar com a escravidão em 1888 e o racismo é estrutural da sociedade brasileira.
A história dos negros e negras no Brasil é a história da sua resistência. No período em que vigorou a escravidão inúmeras foram as revoltas de escravizados e a formação de Quilombos contra a opressão da Coroa Portuguesa e da Casa Grande e seus senhores. A luta de classes no país data daí. Não atoa, a origem do atual aparelho repressivo do Estado brasileiro também é oriunda dessa fase. A escravidão só acabou no país quando a burguesia em formação vetou os negros do acesso à terra, trabalho, direitos sociais e qualquer perspectiva de reparação, no contexto de uma nação que desenvolvia-se extremamente dependente do imperialismo nascente.
O Dia Nacional da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro, data do assassinato de Zumbi dos Palmares, maior líder e guerreiro do Quilombo de Palmares. Em várias capitais do país a data virou feriado após muita luta.
A conjuntura aberta pelo golpe parlamentar dirigido por Temer e pela burguesia e seus planos de retirar direitos históricos do conjunto dos trabalhadores atingem principalmente os negros e negras no Brasil. Em memória de Zumbi, Dandara e dos nossos antepassados não faltam motivos para ir às ruas protestar nesse 20 de novembro.
Listamos, abaixo, 5 motivos para irmos para a luta no Dia Nacional da Consciência Negra:
1- A luta contra a PEC 55, que congela os gastos sociais para os próximos 20 anos e atinge diretamente a população negra, maior usuária do sistema público. Assim como as reformas Trabalhista e Previdenciária e todas as medidas de ajuste do governo Temer.
2- A luta em defesa das cotas raciais nas universidades e concursos públicos. Já existem nas universidades projetos que buscam restringir as cotas como parte da ofensiva do governo golpista de Temer, bem como a desestruturação da Lei 10.639, que garante o estudo da história africana e indígena, hoje ameaçada pela MP do Ensino Médio. Nenhum direito a menos.
3 – A luta contra o genocídio da juventude negra. Em 2003 morriam, proporcionalmente, 71,7% mais negros do que brancos. Em 2014, esse número saltou para 158,9%, ou seja, morrem 2,6 mais negros do que brancos no país. Vamos exigir o fim da estrutura militar das polícias e protestar contra o assassinato todos os dias, de Amarildos, Claudias, dos cinco jovens da Zona Leste de São Paulo, Djavans, DGs e todos os negros que são assassinados todos os dias pela polícia. Também reafirmaremos que a redução da maioridade penal não é a solução para o combate à violência.
4 – Precisamos ampliar a organização do povo negro nas favelas, locais de estudo e trabalho no Brasil. Há um crescimento da nossa afirmação como povo, que precisa tornar-se exigência de reparações históricas aos crimes cometidos. Essa é uma luta de enfrentamento ao capital, que não foi levada adiante pelos governos do PT e precisa tornar-se tarefa geral dos que querem reorganizar a esquerda socialista com a cara do povo negro brasileiro.
5 – As manifestações que começaram em março de 2015 e culminaram no Impeachment de Dilma Rousseff (PT) foram ações da Casa Grande. Os negros e negras estiveram fora das ruas, não tinham referência na manifestação das elites. A primeira medida do governo golpista de Temer foi extinguir o Ministério de Promoção da Igualdade Racial. O MBL quer acabar com o Dia da Consciência Negra e as cotas. Não vamos aceitar retrocesso. Vamos às ruas pelo Fora Temer!
Foto: Reprodução Facebook
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