Da Redação
A paralisação nacional convocada pelo movimento ‘No más AFP’, no último 4 de novembro, contra o sistema privado de aposentadorias das Administradoras dos Fundos de Pensão (AFPs), foi mais um importante episódio da luta da classe trabalhadora e da juventude chilenas.
Após as massivas manifestações realizadas em 24 de julho que levaram às ruas em torno de um milhão de pessoas, seguidas das manifestações de 16 de outubro, a ocorrida na última sexta-feira (4) foi marcada pela radicalização dos métodos de luta e pela adesão de importantes setores da classe trabalhadora organizada.
Desde as primeiras horas da manhã, em vários pontos do país, barricadas foram levantadas, escolas foram ocupadas por estudantes secundaristas, manifestações foram realizadas nas ruas e nas praças de diversas cidades.
Bachelet, presidente da República, condenou publicamente a violência dos manifestantes. Em resposta, convocou os ‘pacos’ – denominação depreciativa utilizada pelo movimento para se referir aos Carabineros, a PM chilena – para reprimir as manifestações em diversas cidades. Mas isso não intimidou o movimento.
De acordo com a própria imprensa burguesa, mais de 27 cortes de vias e rodovias foram registrados. Barricadas foram levantadas nas comunas de Lo Espejo, Maipú, Ñuñoa, Renca, Providencia, Santiago, Quilicura y Macul. Do total de barricadas, 16 delas ocorreram na capital, inclusive nas proximidades de La Moneda, sede do governo de Bachelet; outras seis ocorreram na região de Valparaíso.
Diversas categorias do serviço público aderiram ao movimento paralisando suas atividades. Além da luta contra as AFP’s os servidores também vinham se mobilizando contra a absurda proposta apresentada pelo governo Bachelet diante de suas reivindicações salariais. Outras categorias importantes como os portuários e mineiros também pararam em algumas regiões do país, acompanhando os servidores.
Entretanto, a adesão da classe trabalhadora organizada chilena poderia ter sido superior se não fosse o papel da burocracia sindical. Tanto os sindicatos ligados à CUT (Central Unitária de los Trabajadores, ligada ao PC e PS), que apoiam formalmente a pauta do “No más AFP”, quanto o setor ligado à CNT (Central Nacional de los Trabajadores, ligada a Democracia Cristã), ambas parte da Nova Maioria, coalizão do governo Bachelet (PS), não jogaram o peso na paralisação. Ainda que o setor organizado represente apenas uma parcela menor dos trabalhadores chilenos (14% do total), isso poderia impactar a classe trabalhadora como um todo, particularmente se os mineiros aderissem de forma maciça.
No entanto, apesar da política das direções do movimento sindical, a indignação e insatisfação cada vez maior na população trabalhadora chilena fortaleceram muito a disposição de luta durante todo o dia 4.
Isso se pôde ver nos atos que foram convocados em diversas Plazas de Armas de norte ao sul do país. Em San Antonio, região litorânea do centro do país, mais de 10 mil pessoas de uma população de 100 mil habitantes, tomaram as ruas da comuna ao meio dia. Em Valdivia, no litoral sul, entre 8 e 10 mil pessoas também tomaram às ruas neste horário. O mesmo também ocorreu em Rancagua, cidade mineira, que teve uma manifestação com 3 a 5 mil pessoas, além de Santiago e outras cidades do país.
A continuidade do movimento será debatida na próxima assembleia nacional da Coordenação do “No más AFP”. Nela deverão ser discutidas as próximas ações, estabelecendo um novo calendário de mobilização, caso siga a intransigência do governo diante das reivindicações encaminhadas pelo movimento há mais de dois meses.
De toda forma, o que fica evidente mais uma vez neste dia de luta é que para seguir em frente o movimento necessita se fortalecer. É necessário se organizar cada vez mais, desde a base, uma alternativa de direção independente. Somente assim poderá ter força suficiente para enfrentar e superar a política da burocracia que até agora tem preferido proteger os interesses do governo à organizar a luta dos trabalhadores de forma consequente.
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