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EDITORIAL

Segundo turno consolida vitória da direita

O segundo turno, encerrado ontem (30), consolidou o triunfo da direita tradicional nas eleições municipais de 2016. Trata-se, portanto, de um inegável avanço político das forças conservadoras.

Os partidos que hoje formam a base do governo Michel Temer (PMDB) e que sustentaram o impeachment de Dilma Rousseff (PT) vão comandar 81% do eleitorado do País. Das 57 cidades onde ocorreu segundo turno, as siglas governistas venceram em 46.

Ao todo, somando o resultado obtido no primeiro turno, os partidos da base de Temer elegeram 4.446 prefeitos, de um total 5.561 municípios. Das 26 capitais, as siglas governistas venceram em vinte.

Dessa forma, o desfecho das eleições municipais reforça o apoio institucional ao governo golpista, o que confere mais força à aprovação das contrarreformas sociais no Congresso Nacional.

Ainda que não seja um elemento central da análise eleitoral, vale notar a taxa recorde de votos brancos e nulos no segundo turno. No total, 14,3% dos eleitores que foram às urnas não escolheram nenhum dos candidatos. Em 2012, no segundo turno, os brancos e nulos somaram 9,2%. O índice de abstenção, de 21,5%, registrou uma ligeira alta. Em 2012, esse percentual ficou em 19,1%.

O principal vencedor: o PSDB de Alckmin

Os candidatos do PSDB vão comandar municípios que abrigam 23,9% do eleitorado, isto é: um a cada quatro eleitores terá como prefeito um tucano. Em 2012, a porcentagem do eleitorado governada pelo PSDB era de 13,1%.

Os tucanos venceram em sete capitais: São Paulo, Porto Alegre, Manaus, Belém, Porto Velho, Maceió e Teresina. O êxito do PSDB também se revela no triunfo em importantes cidades industriais como São Bernardo, Santo André, Contagem, São José dos Campos, entre outras.

Geraldo Alckmin, por sua vez, termina as eleições como o principal nome do ninho tucano. O governador de SP, além de emplacar o prefeito da capital paulista no primeiro turno, obteve uma estrondosa vitória nas grandes e médias cidades do estado. Ao mesmo tempo, assistiu a derrota do seu competidor interno, Aécio Neves, em Belo Horizonte. Desse modo, Alckmin pavimenta o caminho à disputa presidencial de 2018.

A derrocada do PT

O desmoronamento político-eleitoral do PT confirmou-se neste domingo. Das sete cidades em que concorria no segundo turno, o partido de Lula perdeu em todas. Em Recife, a única capital onde estava na disputa, o PT não alcançou 40% dos votos válidos.

O peso do massacre fica ainda evidente quando observamos o resultado no ABC paulista, berço político do PT. Pela primeira vez em sua história, o partido não elegeu prefeito na região. Em Santo André, o candidato petista foi humilhado pelo concorrente tucano no segundo turno: 78% (PSDB) a 22% (PT) dos votos válidos.

Em nível nacional, a parcela do eleitorado governada pelo PT desabou de 19,9% para 2,9%. Das 92 cidades com mais de 200 mil eleitores, o partido só venceu em uma (Rio Branco, no Acre). Ou seja, o PT foi varrido do comando das grandes e médias cidades do País. A queda é monumental e assume, incontestavelmente, proporções históricas.

O PSOL se fortalece à esquerda

Num contexto de avanço das forças da direita, o resultado do PSOL, ainda que modesto, foi inegavelmente vitorioso. No segundo turno, apesar de derrotado eleitoralmente, o partido obteve expressivas votações: Marcelo Freixo obteve 40,6% no Rio, Edmilson Rodrigues 47,6% em Belém e Raul Marcelo 41,5% em Sorocaba.

O desempenho, especialmente nos grandes centros urbanos, credencia o partido como a força política dinâmica da esquerda brasileira. A parcela minoritária do eleitorado que desgarrou do PT e se movimentou à esquerda, viu nas candidaturas do PSOL uma referência política e eleitoral. Destaca-se, nesse cenário, a campanha de Freixo no Rio, que levou milhares de jovens e trabalhadores às ruas em grandes comícios e atividades de campanha.

O resultado do PSOL está longe de representar a superação do PT por uma nova alternativa de esquerda enraizada na classe trabalhadora. Porém, um pequeno passo foi dado. É preciso valorizá-lo. O principal desafio do PSOL será apresentar um projeto de esquerda que evite os caminhos que conduziram às traições cometidas pelo PT.

Nesse sentido, a ruptura com o programa de conciliação de classes, a retomada do projeto socialista e a prioridade da mobilização e organização da classe trabalhadora são decisivos. Alianças do PSOL com partidos burgueses, como ocorreu em Belém, por exemplo, vão na contramão da necessidade de aprender com os erros do PT.

Construir o 3º turno nas lutas

As eleições fortaleceram a direita e o governo Temer para seguir e aprofundar os ataques aos trabalhadores, à juventude e aos oprimidos. A ofensiva da classe dominante se intensificará no próximo período.

Por isso, é absolutamente central a construção da mais ampla unidade na luta. O conjunto das forças e lideranças da esquerda, dos movimentos sociais e das entidades sindicais e democráticas precisa levantar um programa de ação comum em defesa dos direitos sociais, trabalhistas e democráticos. A resistência unificada é o único caminho para barrar a ofensiva reacionária. A construção de uma Frente ampla de resistência, com todos os setores dispostos a lutar, de modo algum deve estar ligada ao projeto petista para a corrida presidencial de 2018.

Nesse sentido, é fundamental cercar de solidariedade ativa as escolas ocupadas no Paraná e em todo país, assim como fortalecer as lutas contra a PEC 241, a Reforma da previdência e a do ensino médio. Um exemplo é a greve da Fasubra. Por outro lado, é necessário preparar, desde já, fortes dias nacionais de luta em 11 e 25 de novembro. Nas ruas, está a principal trincheira da esquerda.

Marcado como:
eleições 2016