Por: Juliana Bimbi, de Porto Alegre, RS
Nesta terça-feira (18), as redes sociais e os jornais ecoavam o nome Lucía Perez. Mais um caso de abuso e violência brutal, misoginia, mais um caso de feminicídio. Uma jovem de 16 anos foi forçadamente drogada, empalada e morta na Argentina. Mais uma latino-americana morre antes de chegar à maioridade, menos uma no mundo que perdemos apenas pelo fato de ser mulher. A comoção sobre a tragédia tomou uma grande parte da população, mas para as mulheres, foi quase impossível ler as notícias. Foi difícil porque ardeu dentro de todas nós.
Doeu porque lembramos de cada momento que estamos voltando para casa sozinhas à noite, ou de dia e trememos pelo risco de nos tornarmos estatísticas como Lucía. Machucou porque nossa impotência fez com que não conseguíssemos salvá-la a tempo. Marcou as mães que perderam as filhas por causa da violência doméstica.
Choramos porque sabemos que não foi apenas ela que perdemos aquela noite. Foram as duas mulheres que morrem por dia na Argentina, as quinze que morrem por dia no Brasil. Foi María Eugenia Lanzetti, Camila Duarte, Bárbara Carneiro, Maria da Penha, foram as mulheres negras que morrem assassinadas pela polícia, as mulheres trabalhadoras que são assassinadas pelos companheiros. Foram as mulheres periféricas que morrem todos os dias porque não têm direito a um aborto legal e seguro. Fomos todas nós, as que já morreram e as que ainda resistem e lutam pela vida todos os dias. Mais do que nunca, fomos relembradas que a nossa luta ainda é pela vida das mulheres.
Não queremos castração química, ou pena de morte, cárcere ou punição, não queremos vingança ou lotar os presídios ainda mais do que já estão. Não são os reacionários que defendem penas brutais para estupradores que nos representam. Nós queremos ser ouvidas, queremos debater os problemas que rodeiam a nossa vida, precisamos legalizar o aborto, pedimos por reconhecimento de que há machismo no brasil e de que ele mata todos os dias.
Queremos ouvir que não são casos isolados, tragédias ou assassinatos cometidos por loucos, são filhos saudáveis do patriarcado e do capitalismo agindo conforme a ideologia machista, racista e lgbtfóbica. É a cultura do estupro e ela precisa chegar a um fim. Nós não admitimos mais ser tratadas como objetos, e iremos resistir. As argentinas entrarão em greve e as brasileiras precisam se unificar à luta latino-americana que grita por “ni una a menos”. Pelo fim da cultura do estupro, pelo fim de toda a opressão e exploração contra as mulheres trabalhadoras, negras, trans, lésbicas e bissexuais.
Que se cuidem os machistas, porque a América Latina vai ser toda feminista!
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