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BRASIL

A corvardia de Crivella e as reflexões de um debate

Por: Mateus Ribeiro, do Rio de Janeiro

Crivella até o momento não confirmou presença nos próximos debates. Está tentando fugir da discussão exatamente com medo de que na próxima oportunidade Freixo nacionalize os temas. Porém, a atitude está pegando mal e ontem ele já chegou a dar declaração confirmando presença na REDE TV e Globo. Está em aberta a possibilidade de um novo embate. Todos que estão com Freixo precisam fazer uma verdadeira campanha para que Crivella não fuja das discussões. Fortalecer essa campanha é, por si só, expor a demagogia do senador.

Havendo, ou não, um próximo debate, é importante também que tiremos as lições necessárias do último que se realizou na Band. O segundo turno tem fôlego curto. É importante que a militância que vem construindo a campanha coletivamente apresente as impressões sobre os eixos principais, o perfil da campanha, a resposta às dúvidas e às calúnias colocadas. Dessa forma, podemos ter uma leitura ampla e aprimorada do momento e calibrarmos melhor nossas tarefas e perfil, seja para um futuro debate, seja para a campanha nas ruas e no dia a dia.

É nesse sentido que fraternalmente apresento esse texto, propondo algumas reflexões frente à conjuntura colocada e a atuação dos dois candidatos na disputa que ocorreu sexta-feira.

Um debate frio
Ambos os candidatos apostaram em uma linha moderada. Crivela buscava apresentar um perfil menos ligado às pautas conservadoras da Igreja. Sabendo que os votos mais à direita já estão garantidos, pelo simples fato de ser o candidato que está a combater Freixo, tentou disputar votos com um perfil mais de centro e com receios de sua relação com Edir Macedo e com a Igreja Universal. No conteúdo político, apresentou um programa nitidamente identificado com o liberalismo econômico, de Estado mínimo e corte dos gastos. Com palavras bonitas, defendeu a essência do ajuste fiscal que está sendo imposto nacionalmente à classe trabalhadora, fazendo-a pagar a conta da crise produzida pelos ricos.

Freixo, que está sob fogo cruzado de uma campanha de calúnias, buscou um perfil também moderado e tranqüilo. Era necessário demonstrar que a esquerda tem conhecimento da cidade e que ele não é o raivoso inconsequente que as calúnias dizem. Do ponto de vista da forma, era muito importante se apresentar tranqüilo e com conhecimento de causa. Freixo foi muito bem nesse quesito, e isso sem dúvida ajudou no diálogo com uma parte importante dos que viram o debate. Do ponto de vista do conteúdo, era interessante explorar exatamente o contrário, as diferenças com o candidato apoiado por Garotinho, Bolsonaro e PSD. Era importante também demonstrar as contradições de Crivella e buscar desmascarar o conteúdo demagógico de seu discurso.

Os ataques em curso
As eleições municipais deste ano foram marcadas pela situação política nacional. No entanto, o debate de sexta foi na contramão dessa realidade. Não explorou os projetos antagônicos em disputa hoje no Rio, que refletem a polarização do país. O debate da aprovação da PEC 241, que congela exatamente os gastos com saúde e educação até 2036, foi esquecido. Na votação de segunda no Congresso, o PRB de Crivella foi unânime em favor da medida.

Crivella tem um discurso contraditório. Ao mesmo tempo em que defende o ajuste fiscal, diz defender os direitos básicos que devem ser garantidos pelos governos. Não há como ser favorável ao ajuste fiscal e ao mesmo tempo defender a educação e a saúde.

Os ataques do governo Temer têm relação profunda com a população carioca e com a nova gestão da cidade.. O PL 4567, de autoria de Serra, que articulou o texto final com Dilma, ainda com o PT no governo, acaba com a exclusividade da Petrobrás na operação do pré-sal e com a participação mínima dela no pré-sal . Essa medida significa menor arrecadação para o Brasil e para o Rio de Janeiro, privatização, e perda de postos de trabalho. O PRB votou unificado pela aprovação a esse projeto. Como pode Crivella defender o emprego e ao mesmo tempo a privatização da maior empresa da América Latina?

É fato que boa parte da população não entende ainda a dimensão e o significado dos ataques. É parte da necessidade de nossa campanha atuar para esclarecer essa realidade. Essa é uma das condições para que possamos crescer ainda mais no segundo turno: demonstrar o conteúdo das medidas de austeridade e que somente com Freixo prefeito poderemos ter uma trincheira a mais na luta contra essas medidas. Ficar apenas no debate do melhor gestor é um terreno que favorece nosso adversário. É importante ir além.

Uma alternativa ao PT, mas pela esquerda
Sucintamente, podemos dizer que o PT vem sofrendo uma crise enorme com a perda do peso político entre a classe trabalhadora, o que se demonstrou nas urnas. A população busca castigar o PT. Até o momento, é a direita com seu leque de partidos quem vem sendo a maior força a crescer nesse processo. Mas, à esquerda, o PSOL vem tendo um crescimento também, ocupando parte do espaço deixado pela crise do PT.

A burguesia diz que a corrupção e a gestão ‘desorganizada’ foram os maiores e únicos maus cometidos pelo governo do PT. Tentam apresentar a corrupção como algo endêmico à toda esquerda e absolvem o ajuste fiscal, iniciado pelo próprio PT, das razões para a carestia de vida da população.

É necessário disputar a compreensão sobre a crise do PT. Foi exatamente por governar 13 anos com os empresários e seus partidos que o PT se envolveu com negociatas e adotou um programa a serviço da burguesia tendo, inclusive, iniciado o ajuste anti-trabalhador. Porém, a dita ‘alternativa’ ao PT de Crivella significa um projeto ainda mais identificado com os grandes empresários e seu ajuste.

Freixo foi bem ao ter lembrado a participação de Crivela enquanto ministro no governo do PT e ao ter dito que o PSOL nunca foi base do governo. É importante que nos apresentemos como a alternativa ao PT, realmente pró-trabalhador, que combate exatamente a direita com a qual o PT se aliou e afundou.

Programa
Crivella se diz alternativa ao PMDB, porém não se cansou de repetir um programa já muito defendido pelo governo passado: o fortalecimento do setor privado, a defesa das PPPs e do Estado mínimo. O silêncio de Crivella ao tema das Organizações Sociais (OSs) é indicativo de que pretende manter a atual gestão e administração privatizada da saúde caótica do Rio de Janeiro. Quanto ao tema da mobilidade, jogou para a plateia, dizendo que seria independente dos empresários, sem qualquer explicação mais profunda. É importante que nossa campanha atue mais em ligar Crivella ao PMDB e seu projeto. Inclusive, em nível nacional o PRB é base de apoio do governo Temer (PMDB).

Freixo foi muito bem em alguns pontos do debate programático para a cidade. Demonstrou que conhece bem o Rio e foi preciso no tema da educação, com o qual inclusive iniciou o debate. Porém, ficou devendo ao próprio programa definido coletivamente entre a militância no quesito do transporte público e das OSs. Quanto ao transporte público, Freixo denunciou a dupla função de motorista e trocador. Porém, não falou nada a respeito de Passe Livre e a empresa pública de transporte que está no programa foi apresentada apenas como uma reguladora para fiscalizar um serviço que se manteria controlado pelas empresas privadas.

Quanto às OSs, foi muito bem feita a denúncia e explicação do que significam, mas não podemos nos contentar em fiscalizar as OSs. Após uma transição, é importante que o controle da saúde pública saia do setor privado.

É difícil responder a temas difíceis no meio de um debate, e é necessário buscar as melhores palavras para explicar o conteúdo daquilo que defendemos. Mas o debate sobre o programa é a discussão de que tipo de cidade queremos e isso não é uma questão menor. É preciso demonstrar ao povo, que somente lutando contra os interesses das grandes empresas, que seremos capazes de ter uma cidade nossa, dos trabalhadores.

Vá ao debate, Crivella
Agora, todos nós que estamos na militância para eleger Freixo prefeito temos uma tarefa dupla: intensificar o ritmo de atividades e campanha nos bairros e periferias, ao mesmo tempo em que fazemos uma forte campanha pela ida de Crivella nos debates. Crivella foge da discussão, pois sabe da inconsistência de seu projeto como algo benéfico à maioria da população carioca. É possível virar o jogo e darmos uma vitória à esquerda de todo o país elegendo Freixo prefeito do Rio de Janeiro.