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CULTURA

O tiro 100% feminista de MC Carol e Karol Conka

Por: Morghana Benevenuto, de Porto Alegre, RS

E foi dado o tiro. Mc Carol, que ficou famosa com seu funk “Minha vó tá maluca” em parceria com a rapper Karol Conka, conhecida pelo estilo autêntico e pelos seus raps de tombar, lançaram a música 100% feminista, que retrata um pouco da realidade das mulheres de suas famílias e da periferia e como elas não se curvaram frente ao machismo e ao racismo.

Esse com certeza não é o primeiro hit de tombar da Mc Carol. Antes do lançamento de 100% feminista essa Mc gravou em julho desse ano a música “Delação Premiada” que expõe a violência cometida pela polícia dentro das periferias, denunciando o genocídio contra os jovens negros e pobres e deixando bem claro que delação premiada é só para políticos, homens, heterossexuais e brancos. A música “Meu namorado é o Maior Otário” também segue nessa mesma vertente feminista do funk com batidas de rap 100% feminista. Mostrando que a mulherada não vai ser nem recatada e muito menos do LAR!

Já Karol Conka tem um estilo diferente, mas não muito distante da ‘funkeira’ Carol. Conka canta rap, usa tranças coloridas, black e turbantes como uma forma de resistência e sempre quebrando padrões de beleza. É conhecida pela música “Tombei”, mas seus raps vão além desse hit. Suas letras normalmente enaltecem a mulher negra e a independência feminina. Retratam o gueto com fortes denúncias de racismo.

A letra é simples, mas logo no inicio da música Carol denuncia uma realidade que não é só a realidade de sua família: “Presenciei tudo isso dentro da minha família/ Mulher com olho roxo/ espancada todo dia”.

Infelizmente essa é a realidade várias mulheres brasileiras, e principalmente das mulheres negras. O homicídio entre mulheres negras, por exemplo, aumentou 54% em 10 anos, enquanto que entre as mulheres brancas diminuiu 9,8%, segundo o mapa da violência de 2015. Uma em cada cinco mulheres já sofreram violência do parceiro. Ou seja, as rimas, os versos dessa mistura de funk com rap é o cotidiano de muitas, muitas mulheres aqui no Brasil. Mas a música 100% feminista não cumpre só o papel de denunciar o machismo e a violência que as mulheres sofrem. Cumpre o papel de representatividade.

Além de ser duas mulheres negras nascidas e crescidas na periferia das duas maiores metrópoles do Brasil, não esquecem de ressaltar a importância de suas antepassadas, como Dandara que liderou o quilombo de Palmares no mesmo pé de igualdade que Zumbi. Ou Aqualtune, princesa-guerreira, um dos maiores símbolos de resistência e luta pela libertação do seu povo. Mulheres que muitas vezes são esquecidas pelos movimentos sociais e coletivos feministas como símbolo feminista.

A auto declaração e afirmação também são temas presentes na letra. A afirmação do cabelo como uma fonte de potência para as negras e símbolo de beleza, é como é retratado em versos curtos na música. Além da denúncia da retirada de direitos e emendas absurdas que estão sendo discutidas no congresso do Governo Temer presentes nas entrelinhas das rimas de Karol Conka.

100% feminista é muito mais que rima e refrão. É tiro pra todo lado. É denúncia, é representatividade. São as novas vozes negras e da periferia ocupando espaços da música majoritariamente masculinos, fazendo funk e rap combativo e de luta.

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Mc Carol