Por: Marcos Antonio Rosa Junior, de Sorocaba, SP
Diante de um cenário de avanço da direita no país, também no terreno eleitoral é de se esperar que a esquerda e o ativismo brasileiro de maneira geral estejam esperançosos com o segundo turno do Rio de Janeiro, Belém e Sorocaba, cidades onde o PSOL conseguiu emplacar candidaturas fortes para enfrentar candidatos conservadores que representam a velha política brasileira. Vivendo em Sorocaba, compartilho dessa esperança e não tenho dúvidas de que a candidatura de Raul Marcelo (PSOL) tem condições de enfrentar a de Crespo (DEM). No primeiro turno, Raul Marcelo era o único candidato da cidade com capacidade de aglutinar a esquerda e ativistas e enfrentar a oligarquia sorocabana.
Para quem não é daqui, talvez valha a pena destacar que esse segundo turno não significa apenas uma possibilidade eleitoral do PSOL, mas uma possibilidade de romper com um ciclo que se arrasta há décadas em nossa cidade. Pela primeira vez, a Prefeitura de Sorocaba pode ser ocupada por alguém que não seja apoiado pelas velhas elites. Para se ter uma noção de como isso é verdadeiro, destaco que há 20 anos Sorocaba é governada pelo PSDB e antes era pelo PMDB. Então, para quem é da cidade, a candidatura de Raul Marcelo não apresenta apenas a possibilidade de uma prefeitura progressista de esquerda, mas a ruptura de um ciclo que governa em nome dos interesses da burguesia há muito tempo.
O candidato que Raul enfrenta é José Caldine Crespo, filho do ex-prefeito José Crespo e político conhecido na região. Crespo já foi deputado estadual, primeiro pelo PPB, atual PP, partido de Maluf e depois pelo PFL, que depois se tornou o DEM, partido de Rodrigo Maia. Desde a década de 90 se candidata para prefeito, ficando sempre em segundo lugar. Em 2008, foi eleito vereador pelo DEM, reeleito em 2012.
Enquanto vereador, Crespo votou a favor da exclusão do debate de gênero nas escolas durante a votação do PME, além de ter dado declarações nas redes sociais afirmando que LGBTs eram uma minoria anormal que precisava respeitar as escolhas da maioria da população. Também ganhou destaque ao fazer afirmações como a de que a renda da mulher deve servir para complementar a renda do homem em uma casa. Durante o processo de Impeachment da presidenta Dilma, a chamou de vagabunda no próprio perfil do Facebook, se utilizando de ofensas machistas para se contrapor ao Governo Federal.
Crespo representa o velho jeito de fazer política, mas mais do que isso, representa a direita de nossa cidade. Sua campanha ficou marcada em Sorocaba pelo apoio que recebeu do antigo adversário Renato Amary do PMDB, que não concorreu por estar em tramitação um processo de ficha suja contra ele. Já foi considerado culpado em primeira e segunda instância. Temos uma candidatura recheada de declarações opressoras e dirigidas por DEM e PMDB, que são os partidos do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, do presidente ilegítimo Michel Temer e do atual ministro da Educação que conduziu a Reforma do Ensino Médio de Mendonça Filho.
O candidato utiliza a candidatura para dar declarações reacionárias e propor um programa de governo bem conservador, que busca atender centralmente aos interesses do empresariado e da elite de nossa cidade, sinalizando àqueles que concordam com as ideias reacionárias que se aglutinem em torno da campanha e o apoiem, mas também para disputar a consciência da classe trabalhadora sorocabana, colocando que a saída para os problemas da cidade está à direita.
Raul Marcelo, por outro lado, em seus mandatos enquanto deputado estadual e vereador de Sorocaba, sempre se manteve ao lado das lutas e do povo sorocabano, além de sua vida pública não ser marcada por nenhum caso de corrupção e seu partido, o PSOL, ser reconhecidamente de esquerda, que busca fortalecer as lutas da nossa classe tanto do ponto de vista sindical, quanto político.
Tanto Raul, quanto o partido, sempre se colocaram como oposição de esquerda aos governos do PT, criticando e denunciando as traições do PT nos governos e lutas sindicais, mas também se posicionando categoricamente contra o processo de impeachment organizado pela direita. Esses fatores são méritos inegáveis tanto do partido, quanto do candidato, mas apenas isso não é suficiente para derrotar Crespo e aliados.
O principal objetivo da candidatura de Raul, mais do que ganhar a prefeitura, tem que ser de fortalecer uma oposição explícita a Crespo e suas ideias. É fundamental que nas aparições públicas, programa de governo, entrevistas e debates que participe, Raul não só denuncie as posturas opressoras do adversário, mas se posicione firmemente contra qualquer forma de opressão. É muito importante também que o programa de governo de Raul, além de conter políticas públicas que beneficiem a classe trabalhadora, principalmente os setores mais pobres de nossa cidade, se posicione contra a privatização dos serviços públicos e contra a entrega de dinheiro público a empresas privadas. Por último, mas não menos importante, é fundamental que Raul Marcelo convoque o povo sorocabano não apenas para votar nele, mas para ir às ruas, para lutar em defesa dos direitos, para se organizar contra a direita tradicional e contra os patrões.
Sei que a eleição de uma prefeitura, apesar de muito importante, não é o suficiente para enfrentar a direita reacionária que vem crescendo no país. Justamente por isso, a candidatura do PSOL em Sorocaba, mas também no Rio e em Belém, não pode ser simplesmente um momento de disputa para ver quem tem a melhor possibilidade de gerir a cidade.
A campanha pode e precisa avançar para ser um polo consciente que cumpra a função oposta da candidatura de Crespo. Ser um polo aglutinador da esquerda que luta contra as injustiças sociais aqui e servir para disputar a consciência da maioria da classe trabalhadora, mostrando que a saída para os problemas não está à direita e sim à esquerda. E que isso só é possível, se essa mesma população se organizar e lutar por isso. Raul e o PSOL não podem cair na mesma armadilha que caiu o PT, que para ganhar eleições e sindicatos foram aos poucos abrindo mão de ‘discursos e posturas radicais’.
É possível Raul e o PSOL seguirem esse caminho. Está colocada a possibilidade de superação do PT enquanto alternativa à direita, está colocada a possibilidade de superação dos erros do passado para construir uma nova alternativa dos setores oprimidos e da classe trabalhadora. É um caminho difícil, tortuoso e demorado, mas é a única maneira real de enfrentar o projeto político que Crespo representa. Se Raul derrotar Crespo sem essa postura, estará derrotando um indivíduo, mas fugindo da luta central, que é a luta contra o que esse indivíduo representa.
É fundamental essa reflexão entre todos os que apoiam Raul Marcelo em Sorocaba, não para que questionem esse apoio. Mas, para que entendam que apoiar uma candidatura em nenhum momento pode significar não criticar os erros e não cobrar posturas coerentes. Precisamos romper com a ideia que por muito tempo se teve no país, principalmente através do PT, que frente à luta contra a direita é preciso apoiar de maneira acrítica as alternativas de esquerda. Se queremos Raul Marcelo eleito para enfrentar a velha política sorocabana, é fundamental que façamos isso cobrando o candidato. E se cobramos, é justamente porque acreditamos que tanto o partido, quanto o candidato têm condição de atender essas cobranças, pois a crítica feita de maneira construtiva e honesta no interior da esquerda, longe de enfraquecer, fortalece a campanha de Raul, mostra que confiamos que essa candidatura pode sim representar o novo em nossa cidade.
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