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Dória, vândalo é você e o Borba Gato

Silvia Ferraro

Feminista e educadora, covereadora em São Paulo, com a Bancada Feminista do PSOL. Professora de História da Rede Municipal de São Paulo e integrante do Diretório Nacional do PSOL. Ex-candidata ao Senado por São Paulo. Formada pela Unicamp.

Nesta quinta-feira (29), no último debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, o candidato João Dória, do PSDB, perguntou à Marta Suplicy do PMDB o que ela achava das pichações e do ‘vandalismo’ que acometiam a cidade e que causava tanto mal-estar na ‘população de bem’. A Marta, um pouco constrangida de falar tudo o que ela pensa, tentou explicar a diferença entre a pichação e o grafite, mas não se conteve e disse que o “vandalismo” não será admitido no seu governo. O Dória, mais convicto de que sua base social são os conservadores da burguesia e da classe média paulistana, começou a apontar os pichadores como os verdadeiros criminosos da cidade. “Uma vergonha a cidade toda pichada” e por aí seguiu destilando a concepção higienista e moralista, como se os problemas da cidade fossem as pichações espalhadas por todos os lados.

É importante ver onde se encontra o incômodo da elite paulistana. Não é no frio e na fome que acomete milhares de pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo, não é nas filas intermináveis para o atendimento médico nos prontos socorros públicos, não é no sofrimento dos que são expulsos das moradias através das inúmeras reintegrações de posse. Não, eles se incomodam com a ‘feiura’ da cidade. Talvez seja por isso que a Marta Suplicy tenha feito a ‘operação belezura’ quando era prefeita. Esconder os reais problemas da cidade, criminalizando os pichadores, escondendo a pobreza, e ‘limpando a áre’” para os especuladores imobiliários fazerem seus projetos ‘limpinhos e higiênicos’.

Mas hoje, mais uma vez a resistência deu a resposta e eu só posso aplaudir a obra de arte. Sim, a obra de arte que foi feita no monumento do Borba Gato e no Monumento às Bandeiras. Chamam de obra de arte os monumentos imponentes, gigantes e apologéticos aos brancos colonizadores. Por que não consideramos arte a inspiração que motivou aqueles que tiveram a coragem poética de pintar os monumentos com tinta colorida, motivados pelo debate político sobre o futuro da cidade? Considero que este foi o presente que a cidade ganhou para marcar posição de que aqui tem gente que pensa e gente que não abaixa a cabeça para a burguesia paulistana.

Borba Gato foi um Bandeirante, nascido em São Paulo em 1628, e que se especializou em caçar índios para a escravização. Assim como todos os Bandeirantes mercenários que ‘desbravaram o sertão’ em busca das minas de ouro e que praticaram um verdadeiro genocídio contra a população indígena. Na cidade e no estado de São Paulo, são inúmeros nomes de rua, de escolas, de praças e da mais importante rodovia que corta o estado, que é a Rodovia dos Bandeirantes. Esta ostentação toda é para simbolizar a superioridade branca, colonizadora e ‘pacificadora’, que ‘civilizou’ o estado.

Simbólico foi estas estátuas amanheceram hoje com o ‘pixo’, com a marca daqueles que não aceitam a história construída pelos vencedores e que não vão aceitar que um descente de senhor de escravos seja o ‘gestor’ da cidade.

Foto: Reprodução TV Globo