Por: Everaldo Becker, São Paulo, SP
Li, no ultimo dia 6 de setembro, o artigo de Saul Leblon intitulado de ‘O rio que desceu a Paulista já mudou o país’, referindo-se ao ato do dia 4 de setembro. Foi publicado pela Carta Maior e nele se abordava que as pautas conservadoras teriam dificuldades de avançar no Congresso devido ao ascenso ocorrido nas últimas duas semanas.
Também li de muitos analistas que o Congresso brasileiro e interesses defendidos se constituem em uma bolha isolada da sociedade e das demandas populares, um mundo a parte do país, como se o Congresso acreditasse numa realidade que na verdade é só dele e a tomasse como realidade absoluta, construtiva de todo nosso povo.
Neste sentido, a queda de Eduardo Cunha pode significar uma metáfora importante que se desenha para as lutas populares e dos trabalhadores, visto que foi impulsionada e garantida pelas mobilizações populares que tomaram conta do país. A queda de Cunha é patrimônio das (os) trabalhadores e dos segmentos que foram às ruas pelo Fora Temer e Fora Cunha.
Tal assertiva encontra ecoou na realidade do Congresso, pois até a última hora foram tentadas manobras no sentido de não cassar Eduardo Cunha. Mas, a força que veio das ruas, ao que tudo indica, parece apontar indícios de que a bolha e, ou o mundo encantando do Congresso, começa a dar sinais de que não é tão imune assim.
O que me parece que precisa ficar claro é que Eduardo Cunha não foi cassado por vontade, ou porque os congressistas, em seu conjunto, tiveram um surto de moralidade e, ou senso de decência ética, uma vez que mais de 200 congressistas são devedores de Cunha. Não o cassaram porque quiseram. O cassaram porque as ruas assim o exigiram. O cassaram porque o rio que desceu a Paulista no dia 4 de setembro parece ter tido o primeiro desague, a cassação de Cunha, e pode ter produzido o primeiro furo na bolha do Congresso.
Ainda sobre Cunha, não basta cassá-lo, tem que prendê-lo. A campanha ‘#Cunha na Cadeia’ deve reverberar de maneira ensurdecedora.
Mas, isso não é o suficiente, visto as pretensões de se colocar em curso uma agenda conservadora que, se levada ao ápice, significará a regulamentação do trabalho escravo, bem como o término da entrega das riquezas do país ao capital interacional.
Existe a previsão de o governo Temer iniciar uma campanha publicitária agora no dia 20 de setembro, apontando a necessidade das reformas Trabalhista e Previdenciária, sendo que já há vídeos circulando nas redes sociais neste sentido.
É preciso discutir tais reformas, mas inseridas em outro contexto, aquele em que, dentre outros, apontam o custo da corrupção para o povo brasileiro, para a classe trabalhadora.
Em recente levantamento foi possível observar cerca de 30 operações da Policia Federal envolvendo a base aliada do Governo Temer que, ou estão engavetadas, ou estão paradas. Alguns casos de corrupção ainda não conseguiram chegar à cifra do montante de recursos públicos desviados. Daqueles já contabilizados, a cifra modesta gira em torno de R$ 140 bilhões. Com olhar de senso comum ao tema da Previdência Social, é possível observar que caso esses R$ 140 bilhões fossem devolvidos e alocados à Previdência Social, possivelmente o discurso midiático oficial encontraria ainda mais dificuldades para convencer a população das reformas que se desenham.
Além de não abrirmos mão do Fora Temer, do tema Eleições Gerais Já e Nenhum Direito a Menos, épreciso exigir nas ruas o combate efetivo à corrupção, com a devolução dos recursos desviados. Para tanto, se faz necessário nominar aqueles corruptos que contam com a blindagem e manobras institucionais, detentores de uma rede de poder que lhe confere a impunidade.
Não se pode mais aceitar a seletividade das delações premiadas. É preciso denunciar nas ruas esta seletividade e agentes, como se diz no ditado popular “dar nome aos bois”, visto que o sistema politico é de partido único, “do caixa dois e corrupção”.
A queda de Eduardo Cunha precisa ser concebida como conquista popular, como algo que pode indicar um processo onde a bolha protetiva do Congresso e os interesses econômicos defendidos podem e precisam ser furada. Nunca é tarde lembrar que a realidade atual no Brasil lembra, em muitos aspectos, a França do século XVIII, onde a casta de Versailles estava isolada, concebida em mundo próprio, dissociada do clamor do povo, a exemplo do que ocorre em Brasília e com os interesses que gravitam em torno dela. O ascenso popular que se verifica neste momento pode produzir efeitos transformadores na realidade brasileira. Porém, é sempre bom lembrar que há também o risco de tal ascenso aos poucos minguar e se abater de profunda anemia.
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